Todo místico eventualmente alcança tal Unidade com o Espírito Interior que, daí para sempre, há uma União com a Consciência Divina. Traduzido por Giancarlo Salvagni – Observações em vermelho e frases ou palavras grifadas por Jeff Trovão
Aquilo que é humano e aquilo que é divino se encontram: o elemento humano é dissolvido, e tudo o que resta é o Divino. O que eram dois torna-se Um. Essa união é chamada de casamento místico, o casamento espiritual. Este casamento é simbolicamente descrito na literatura mística como a Canção de Salomão (Cântico dos Cânticos), como a união do homem e da mulher, reunidos por um Amor que transcende o amor em qualquer sentido humano (é também um tema de destaque na Alquimia – nota do tradutor G. S.). Não tem sensualidade nele, porque não há corporalidade nisso, e, no entanto, essa relação que se desenvolve entre o indivíduo espiritualmente dotado e Deus só pode ser descrita em termos de amor (a Alma espera a chegada do “Noivo” – nota do trad. G. S.).
Na consumação do casamento místico, o Pai e o Filho tornam-se Um: “Eu e meu Pai”. Existe um íntima relação entre os dois. “Aquele que me vê, vê quem me enviou”. Não há mais dois: há apenas Um. Não há mais Jesus, filho de José: agora há Jesus, o Filho de Deus, o Cristo, ou Jesus Cristo.
Em muitos ensinamentos espirituais, os nomes dos discípulos são mudados em um certo ponto de seu desenvolvimento. Seus antigos nomes os identificam com um corpo físico e uma ancestralidade humana.
Assim foi que Simão foi chamado Simão Bar-Jonas, significando Simão, o filho de Jonas, mas quando ele despertou para sua Filiação Divina, seu nome então mudou para Pedro. Ele não estava mais identificado com sua ancestralidade humana: ele agora assumia o nome de sua ancestralidade espiritual, a Rocha.
Hoje, em alguns ensinamentos espirituais, quando um certo ponto de desenvolvimento é alcançado pelo aluno, o professor dá ao discípulo um novo nome, simbólico da “morte” de sua humanidade, e significando que ele “morreu” para seu passado, que ele “morreu” para seus pais, irmã e irmão, e renasceu do Espírito.
Para todos que alcançam a Experiência Mística vem este mudança de nome e de caráter, mesmo que não seja externamente conhecido. Aqueles a quem isso acontece não dizem ao mundo sobre isso, mas quando isso acontece, eles sabem disso.
A concessão do manto também é uma Experiência Mística, e todos que vêm para a Consciência Mística sentiram que o manto desceu sobre eles. Eles nunca se refeririam a isso: é uma experiência espiritual interior – não um manto externo, mas algo para ser usado espiritualmente, como uma roupa que se coloca em torno de si para separá-lo do que resta do sentido humano em sua Consciência.
“Tudo posso no Cristo que me fortalece. Eu vivo, mas não mais eu, Cristo vive em mim”. Aqui está o casamento místico: Paulo e seu Cristo. Eles são casados, eles são Um. Paulo não faz nada sem o seu Cristo. O Cristo pensa através dele, o Cristo opera através dele, e este é o fruto do casamento.
Todo místico não só experimenta essa relação dual de “eu” e a habitação de Cristo, mas cada um, em algum momento, transcende esse relacionamento e torna-se aquele Superior. Ele perde a noção de sua identidade humana. O Mestre revelou ter atingido esse supremo estado de União quando disse: “Eu e meu Pai somos Um. Antes que Abraão fosse, Eu Sou”. Este é o Mestre falando de sua Divindade, daqueles momentos em que ele transcendeu a dualidade do casamento e se tornou Aquele que é maior do que qualquer outro da identidade humana.
A literatura mística dá conta daqueles que, em um momento ou outro, transcenderam o sentido de uma Presença sempre dentro deles, e tornaram-se a própria Presença. Deve- se inevitavelmente chegar a um momento em nossa jornada espiritual quando percebemos o nosso Ser, e então somos aquele Um, e o outro desapareceu de vista. Até agora não há registro de alguém atingindo esse nível e permanecendo nele permanentemente, embora isso não signifique que isso nunca aconteceu. Significa apenas que, quando esse estado é atingido, o trabalho da pessoa está terminado aqui e ele deixa este Plano de Consciência.
O supremo da Experiência Mística é a União Consciente com Deus. É um estado de Comunhão Interior tão intenso e tão elevado que a pessoa desaparece, e existe apenas como o Infinito Eu, enquanto mantém, ao mesmo tempo, sua individualidade como pessoa. Não há absorção em Deus em nenhum momento, nem mesmo no momento da consciência da União (“vivo não mais eu, Cristo vive em mim” – mas, apesar da profunda Verdade dessas palavras, ele ainda era chamado de Paulo nas comunidades, respondia e cumprimentava as pessoas, tomava refeições, etc – nota do trad. G. S.).
No período imediatamente anterior à União completa e plena, existe Unidade suficiente para que o místico perceba sua Unidade com todos na vida:
Eu sou a Vida da grama; Eu sou a Vida da árvore; Eu sou a Vida do oceano. Eu posso olhar por baixo do mar e ver o céu, mas, ao mesmo tempo, posso olhar para baixo do céu e ver o mar. Eu posso olhar para fora de uma árvore e ver os pássaros e, ao mesmo tempo, ser o pássaro que está sentado no galho da árvore. Eu sou a Vida de todos os seres.
Eu estou conscientemente sentado em uma estrela, ou dentro de uma estrela, olhando para este mundo afora, enquanto, ao mesmo tempo, olho para cima do chão da estrela. Eu sou a Vida da pedra e, ao mesmo tempo, eu olho para o chão na pedra.
Eu estou aqui e estou lá, estou em todo lugar, permeando toda a Criação. Eu posso ver em todas as direções de uma vez, e sempre como se a individualidade fosse centrada em um só lugar, e ainda assim em todos os lugares no mesmo momento. Eu sou a Vida de todas as pessoas ao meu redor. Eu sou a Mente, Eu sou a Lei, e Eu sou o Poder da Graça para eles, Eu Sou o Caminho, Eu Sou a Verdade e Eu Sou a Vida.
Sempre, no final, o aspirante espiritual descobre que o Reino de Deus está dentro dele, e percebendo isso, refletindo sobre isso, quase de pé, passo a passo, ele é levado ao longo do caminho mental para o espiritual, até que um dia o parêntese seja apagado, sua iniciação esteja completa, a iluminação venha, tudo caia, porque a Luz está lá, e ele percebe:
Eu sou Isso. Aquilo que estou procurando, Eu Sou.
Então vem um completa libertação de qualquer senso de individualidade pessoal, de senso humano, e Eu Sou revelado interiormente como sua Identidade.