REALIDADE E ILUSÃO – “UM Parênteses na Eternidade” Livro de Joel Goldsmith

Traduzido por Giancarlo Salvagni –  Observações em vermelho  e frases ou palavras grifadas por Jeff Trovão

Reconhecer que vivemos em dois mundos, o mundo criado pelos cinco sentidos e o mundo da Consciência, é nos aproximarmos cada vez mais da Iluminação.
No primeiro capítulo do Genesis, Deus fez o homem à sua imagem e semelhança, sem a ajuda de ninguém. Esse nascimento do Puro Espírito, essa Imaculada Concepção, é Deus manifestando e expressando a Si Mesmo e Suas qualidades, a Consciência revelando a Si Mesma como forma.
Essa é a Criação Espiritual de Deus pura e sem adulteração da Imaculada Concepção do homem e do universo, a Vida Infinita que expressa a Si Mesma individualmente, sem formas materiais, processos ou sistemas. No segundo capítulo do Genesis, Deus não apenas cria, mas cria também equivocadamente, e por causa de seus erros, tem que fazê-lo outra e outra vez. Primeiro Ele fez o homem do barro da terra, então trouxe a mulher da costela do homem, e finalmente decidiu trazer o homem e a mulher juntos, com o propósito da criação. É razoável supor que a Inteligência Infinita deste universo precisou mesmo de duas tentativas de criação? Esse homem da Terra, o “homem natural” que não está sob a Lei de Deus e nem sequer pode estar, não é um homem de fato: é uma criação mítica da mente, dos cinco sentidos.

Para ficar claro como a mente cria, examinemos como ela criou um Deus feito pelo homem. Feche seus olhos por um momento e mantenha a palavra Deus em sua Consciência. Você acredita que isso é Deus ou isso é uma projeção da consciência? Tem esse Deus qualquer poder? Isso é realmente como uma Presença, ou é justamente uma imagem autocriada por seu próprio pensar?

Avancemos na intenção de decidir o que é Deus. Uma resposta vem instantaneamente para o nosso pensamento, mas essa resposta não é verdadeira, e a resposta não é Deus, porque ela é uma projeção que vem de fora. Se a pessoa é cristã ortodoxa, imediatamente pensa em Jesus Cristo. Se seu contexto é judeu, ela provavelmente pensa em um querido, gentil e velho homem barbado sobre uma nuvem, olhando para baixo e deliberando sobre quem ele vai punir ou recompensar em seguida. Se a pessoa é metafísica, deve pensar que Deus é a Mente, o Princípio ou a Lei.

Mas a despeito do que vem à nossa mente para essa questão, não fica claro que isso é uma imagem projetada em nosso pensamento, geralmente por uma pessoa reconhecida por nós como autoridade? Talvez as palavras mais verdadeiras sobre Deus sejam: “se você pode nomeá-lo, então Ele não é isso”. Se podemos pensar Deus, isso não pode ser Ele, pois como é possível abarcar o Deus Infinito em nossos processos mentais? Quanto mais rezamos para esse Deus que temos em nossa mente, mais improdutivos nos tornamos. Tudo o que temos é uma projeção de Deus feita pelo homem, uma imagem no pensamento. Não podemos rezar para isso – ou até podemos, mas sabemos que tipo de resposta teremos.

Agora, entremos mais profundamente neste assunto. Suponha que você pergunte a si mesmo: quem sou eu? O que sou eu? Com que me pareço? Suas respostas serão corretas? Você e seu melhor amigo dirão uma coisa, e alguém que não gosta de você dirá outra coisa, não é assim? Será possível chegar a um acordo sobre que tipo de pessoa você é? Qualquer que seja a opinião que tenham a seu respeito, apenas projetam seus próprios pensamentos sobre você, segundos seus próprios preconceitos ou opiniões baseadas no que foi dito por alguém. Eles não conhecem o real “você”: eles se prendem a crenças e conceitos, muitos deles bons, mas todos eles sujeitos a mudarem amanhã.

Os mesmos que prometeram lealdade ao Mestre foram os mesmos que fugiram enquanto ele era crucificado. Alguns dos que sentaram-se aos seus pés, adorando-o enquanto ele curava seus males, estavam entre aqueles que gritaram “crucifique-o, crucifique-o”. Eles nunca o conheceram. Eles tinham uma imagem em sua mente, em seu pensamento, mas isso nunca revelou o Mestre na plenitude de sua Identidade Espiritual.

Se quiséssemos realmente conhecer alguém, teríamos que descartar tudo o que acreditamos, tudo o que ouvimos, todas as opiniões sobre ele. Primeiro seria preciso reconhecer que tudo o que conhecemos sobre ele não passa de um conceito cristalizado em nossa mente. Ora, para conhecer uma pessoa, temos que esvaziar nossa mente de todo conceito, crenças e teorias sobre ela, e treinarmo-nos para calar toda e qualquer opinião que ouvimos ou formamos, somente como resultado de alguma experiência pessoal que nos agradou ou não. Se pudéssemos apagar de nosso pensamento tudo o que lemos e ouvimos sobre uma pessoa – tudo, inclusive toda opinião formada por nós mesmose dizer “Pai, afasta tudo isso de mim, quero começar tudo de novo; mostra-me essa pessoa como ela é, seu nome e sua natureza. Revela-a para mim”, descobriríamos que, voltando-nos para dentro com ouvidos de ouvir, a Verdade nos seria revelada. Desse modo, nós a conheceríamos corretamente. O “Eu” dela nasceria imaculado em nós.

Você está começando a ver o quanto aceitamos sobre Deus e sobre uns aos outros sem qualquer conhecimento verdadeiro? Aqueles entre nossos amigos e parentes que gostamos nos agradam de algum modo, mas quando não, aí então não gostamos mais deles, o que prova que os aceitamos não pelo que são, mas pelo conceito que temos deles.

Isso também não é verdade com políticos? Um presidente é um herói para um e um demônio para outro. Outro presidente é o inverso, e o país nunca teve um que não fosse tanto demônio quanto herói, dependendo de quem buscamos por informação. E poderia ser alguém herói e demônio ao mesmo tempo? Não, essas opiniões não são a verdade sobre o homem: elas são conceitos sobre ele, formados pelos cinco sentidos.

O mundo que vemos, ouvimos, provamos, tocamos ou cheiramos é o mundo que o Mestre venceu, mas não é um mundo real: é um mundo formado pelas nossas impressões dos sentidos, pelo que gostamos ou não no momento. E assim é o mundo do segundo capítulo do Genesis, o mundo do homem criado do barro, da mulher criada da costela e da criança que nasce da união do homem e da mulher – isso não é um mundo, é um sonho. É um mundo de impressões dos sentidos, crenças e teorias que existem apenas como conceitos mentais, assim como nosso Deus feito pelo homem existe apenas como conceito mental, e não como Deus Ele Mesmo.

Esse mundo de impressões dos sentidos não está sob a Lei de Deus.Todos os tipos de ideias fantasiosas podem girar em nossa mente, imagens fantásticas, mas não estão sob a Lei de Deus, não são expressão da Inteligência Divina. Nós podemos ter opiniões sobre Deus, opiniões sobre o homem, e opiniões uns sobre os outros, mas elas não são verdadeiras, elas não vêm de Deus. O mundo que podemos ver, ouvir, provar, tocar ou cheirar não está sob a Lei de Deus, ainda que esse mesmo mundo que vivemos esteja sob a Graça de Deus, mas somente quando enxergamos a Realidade através das aparências.

(A realidade é uma mera ilusão, ainda que bem persistente – Albert Einstein)

Neste mundo criado pelos sentidos, esse mundo irreal de imagens mentais, somos enganados pelas aparências, porque “neste mundo”, diferente do “Meu Reino”, somos confrontados com pares de opostos. Tudo tem seu oposto: acima e abaixo, saúde e doença, vida e morte, fortuna e pobreza, bem e mal, pureza e pecado, branco e preto, ganho e perda.

Não há nada no mundo dos sentidos que não tenha seu oposto, e se analisarmos a experiência humana, veremos que, na vida, há sempre um esforço contínuo para transformar um oposto no outro. Estamos sempre tentando transformar doença em saúde, mal em bem, sabendo que, mesmo que consigamos, amanhã tudo pode mudar outra vez, continuando a mesma ciranda. A razão é clara: não há lei de Deus na atividade humana. Se tivesse, o Bem seria mantido e sustentado. Mas no Reino de Deus, onde a Lei de Deus opera, não somente não temos esses pares contrários, mas sequer temos uma das polaridades. Não temos vida e nem temos morte; nem saúde e nem enfermidade; nem riqueza e nem pobreza; nem bem e nem mal. Nada dessas coisas existe no Reino de Deus.

O Reino de Deus é um universo espiritual, e não tem qualidades ou quantidades. O Reino de Deus é o Reino do Ser, mas esse Ser é o Ser Divino – não o ser bom, porque o bom tem seu contrário, que é o mal; não o ser vivo, porque a vida tem seu oposto, a morte; mas Ser, sem graus, quantidades ou qualidades. “As trevas e a luz são o mesmo para Ti”.

Agora, feche seus olhos e, olhando para a escuridão, se você vê algo bom, isso parece bom ou desejável somente por ser uma imagem em seu pensamento, e o que tem de bom é baseado em seu conceito do bem. Alguém mais pode olhar para a mesma coisa e achá-la sem valor, porque nada é, em si, bom ou mal, mas isso é resultado do pensar: é o conceito que a pessoa tem disso que o faz bom ou ruim.
Nesse mundo dos sentidos, há o bem e o mal, e há o foco de atenção na mudança do mal para o bem. No “Meu Reino”, o Reino Espiritual, ignoramos as aparências e buscamos perceber a Verdade Espiritual para realizar a Graça de Deus, a Presença de Deus e o Poder de Deus. No momento em que sentimos uma Unidade Consciente com Deus, as aparências mudam.

Para nosso senso humano, a aparência do mal agora tem uma boa aparência, a aparência de privação tem uma aparência abundante, a do doente tem a do saudável, e muitas vezes até mesmo a aparência de morte tem aparência de vida. Mas não somos enganados pela aparência mutável; sabemos que, na busca pelo Reino de Deus Interior, apenas contemplamos a Realidade que se mostra, a Graça de Deus que se revela. Chegamos face a face com Deus, nós o vemos como Ele é, e ficamos satisfeitos com a nossa semelhança. Entender a natureza ilusória do mundo finito é alcançar o cerne de todo o ensinamento místico, mas se isso é mal compreendido, pode tornar-se um estorvo para o progresso, assim como acontece na Índia, que tem uma das mais nobres heranças espirituais entre as nações da terra.

Talvez o maior de todos os visionários indianos tenha sido Gautama, o Buda, cuja revelação da Verdade Absoluta foi tão profunda que podemos até considerar outras revelações de mesmo nível, mas nenhuma que tenha ultrapassado esta. Gautama teve a realização plena do Ser Uno, o “Eu” que constitui toda a Consciência do universo, e percebeu que o mundo de aparências é “maya”, a ilusão. Sua mensagem espalhou-se como fogo por toda a Índia, mas seu ensinamento sobre maya foi mal interpretado. A crença de que o mundo é uma ilusão levou a uma atitude do tipo “não fazer nada”, uma aceitação passiva das condições do mal no mundo. Seus seguidores falharam em ver que não é o mundo que é ilusório. O mundo é real: a ilusão está na percepção errada do universo eterno, divino e espiritual que é o único universo que existe, aqui e agora.


No entanto, por causa de um sentido ilusório do universo, a cena mortal aparece como mortalidade com todos os seus erros, quando, na verdade, é um universo divino. Este mundo é o mundo de Deus; é o Templo do Deus Vivo; mas quando o vemos com olhos e ouvidos limitados, o que vemos é uma imagem ilusória da realidade que lá está. A ilusão está na mente que enxerga e entende o mundo de um modo falso: a ilusão nunca está fora, no mundo, a ilusão não pode ser externalizada. A ilusão é um estado enganoso do pensamento, e ela só pode ocorrer dentro da mente de uma pessoa, e não fora.

Com nossa vista humana, vemos um mundo constantemente em mudança: um mundo feito de gente jovem, madura e velha, do doente e do são, pobre e rico, feliz e infeliz. Tudo isso é um quadro ilusório na mente humana, mas porque há uma só mente humana, é um quadro ilusório na sua mente e na minha também. Tal mundo não tem existência externalizada.

Somos conscientes do mundo através dos nossos sentidos, mas o que os sentidos captam é ilusão, não uma ilusão fora da mente, mas dentro dela. Para se entender e alcançar esta ideia é preciso também ser capaz de compreender que essa ilusão não pode ser corrigida exteriormente. É por isso que tantas preces falham. Pela prece, as
pessoas tentam melhorar a ilusão, a qual – se elas forem bem sucedidas – continuará sendo uma ilusão, apenas passando a ser uma boa ilusão, ao invés de uma ruim.

Deus não está neste mundo, ao contrário do que diz a doutrina do panteísmo, que ensina que este mundo é uma manifestação de Deus, que Deus transforma a Si Mesmo no mundo, de tal modo que Deus e o mundo são da mesma substância, embora a forma seja diferente. Se isso fosse verdade e o mundo fosse realmente uma manifestação de Deus e feito da Substância de Deus, então ele seria eterno e, portanto, não haveria processos de mudança em curso: não haveria envelhecimento, nem morte, nem degeneração, seja de objetos animados ou inanimados. Não haveria estações do ano, se o mundo fosse da Substância de Deus, porque então ele seria da Substância da Eternidade, e seria imutável. Deus não muda: é o mesmo ontem, hoje e para sempre; Deus é a eternidade; e se esse mundo fosse feito da Substância de

Deus, ele seria tão imortal e eterno quanto Deus, mas ele não é. Ele muda a cada momento, morrendo a cada minuto e a cada dia.

A suposição errônea no panteísmo e em muito da metafísica moderna é que o homem é espiritual, que seu corpo é espiritual, que árvores e flores são espirituais. Isso é verdade quando se fala da realidade disso tudo, mas não é verdade sobre a manifestação física, como aparece para nós através dos sentidos. Se o mundo fosse espiritual, poderíamos comer nossa comida que nunca se esgotaria, teríamos carros que nunca se desgastariam e teríamos árvores que cresceriam para sempre. Mas a substância das formas que contemplamos não são da Substância que é Deus, e uma vez que percebemos isso, devemos perceber o verdadeiro significado da palavra “ilusão”, que é aquilo que percebemos do que contemplamos. Não é que haja uma ilusão exterior: é somente que o que vemos não é a substância real do que é feito: é a substância da mente, a substância da mente universal.


O teísmo, por sua vez, vai ao extremo oposto. O teísmo concebe Deus e o mundo como duas substâncias distintas, cada um tendo sua existência independente como criação de Deus, e ainda assim não feitas da mesma Substância que é Deus. Quão impossível seria para Deus, o Princípio Criativo, criar qualquer coisa diferente de Si Mesmo, qualquer coisa diferente em caráter e natureza de Si Mesmo, qualquer outra coisa que não a Consciência. Se a Consciência é Infinita, não há outra Substância além da Consciência, e o mundo da Criação de Deus tem que ser, portanto, formado de Consciência.

A próxima questão é: o que é, então, o universo físico? A resposta está na afirmação do Mestre “meu Reino não é deste mundo”. “Este mundo” é o mundo do sonho adâmico, é o mundo da concepção mortal, é o mundo da projeção mental. Ao reconhecermos isso e fecharmos os olhos, percebendo o “Eu” no meio de nós, este corpo perde o senso de mortalidade; até mesmo o universo material perde seu sentido mortal e torna-se o que o mundo de Deus realmente é: harmonioso e perfeito.

A verdade é que Deus é Espírito, Consciência; portanto, tudo o que realmente existe é formado por Deus, Deus em manifestação. O mundo que reconhecemos pelos cinco sentidos, no entanto, não é o mundo da Criação de Deus. Nós não vemos o Reino de Deus: vemos apenas o conceito humano, limitado e finito, ou imagem mental, somente o conceito físico do Universo Espiritual. Eis porque ele é mutável e está se transformando, algumas vezes para bem, outras para mal, às vezes saudável, outras doente, vivo ou morto, todas essas condições existindo apenas como conceitos, e não como realidade. É preciso Discernimento Espiritual para conhecer as coisas de Deus.

Não se pode ver o mundo visível e chamá-lo de espiritual, mas, por outro lado, também não podemos chamá-lo de criação separada de Deus. É melhor seguir o “Caminho do Meio”, que nos leva ao nosso Centro Espiritual Interior, onde somos o Cristo de Deus, e onde podemos ver que somos Um com o Pai.


Algumas das pessoas que vemos nas ruas, na televisão ou mesmo em torno de nós certamente não parecem ser “Um com o Pai” e, com certeza, muitos devem se perguntar como pode ser isso. Claro, não sabemos como isso pode ser, porque uma pessoa que é Um com Deus, dever parecer e agir diferente.

Chamar um ser humano de Cristo é uma indicação de que fomos dotados com a visão interior e somos capazes de ver a pessoa como ela realmente é, ou então estaremos mentindo para ela e para nós mesmos. Nenhum humano pode olhar para a fisicalidade e, com sua mentalidade, detectar qualquer coisa como semelhança de Cristo. Tudo o que a mente humana pode conhecer é um corpo físico, e com ele, provavelmente, a personalidade, uma personalidade a qual podemos gostar ou não, ou que podemos gostar hoje, mas não amanhã. Somente o discernimento interior, a luz interior, somente uma visão interior, que contempla algo que os olhos não podem ver e nem os ouvidos escutar, pode discernir o Cristo em qualquer pessoa.

Ir a uma prisão, olhar para a variedade de homens e mulheres presos e dizer “você é espiritual, você é o Cristo” seria bastante ridículo, mas se fôssemos lá revestidos de Espírito, o Cristo é o que veríamos. Não cometeríamos o engano, no entanto, de anunciar essa afirmação a eles e nem a ninguém em questão.

Quando o Mestre perguntou “tendo olhos, não vedes? E tendo ouvidos, não ouvis?”, ele referia-se a uma visão e audição interiores, que nós chamamos de Discernimento Espiritual ou Consciência do Cristo. Somente o Cristo pode reconhecer o Cristo, e quando compreendermos isso, nunca mais olharemos para uma forma humana e diremos: “como você está bem! Você está saudável! Você é jovem! Você é espiritual!”

Nós nunca mais faríamos isso se pudéssemos ver o Cristo de Deus através das aparências, o Cristo sempre presente, ainda que não aparente à vista humana; seríamos capazes de anular o mesmerismo que olha para o corpo com a mente e acredita na evidência dos sentidos; e quebrando o mesmerismo, seríamos capazes de ver a natureza espiritual até mesmo de uma pessoa agonizante ou pecadora, através de nosso Discernimento Interior.

Esta é a diferença entre o “Caminho Infinito” e ensinos como o panteísmo ou o teísmo, e ela torna possível que o trabalho de cura faça parte desse ensinamento. Em nosso trabalho espiritual, não estamos nos iludindo com a ideia de que perdemos essa fisicalidade junto com os pecados e as doenças, que a morte é espiritual ou que tentamos espiritualizar isso e tornar tudo perfeito: não, nós olhamos com o Discernimento Interior através das aparências, e então contemplamos o invisível, a Criança Espiritual de Deus, que nunca nasceu e nunca morrerá, eterna, aqui mesmo na Terra.


Milagres são possíveis para a pessoa que não tenta curar e que compreende que é apenas um instrumento de Deus
, que Deus constitui seu Ser Individual, e que qualquer aparência ao contrário disso é ilusória, uma imagem na mente sem substância, causa ou lei espirituais, sem entidade ou identidade espiritual, ou seja, “maya”, a ilusão.


No Caminho Espiritual, não tentamos mudar o mundo exterior; não tentamos mudar nossos amigos e parentes – seus temperamentos, disposições ou sua saúde – mas reconhecemos a verdadeira Onipresença, Onisciência e Onipotência do Deus Interior em nosso próprio Ser, que torna impossível o pecado, a doença, morte, privação e limitação como realidades externalizadas. Essas coisas só podem existir no sonho mortal, que consiste na crença em dois poderes. Quando se desiste dessa crença em dois poderes, o sonho se desvanece.

Vivendo na Consciência da quarta dimensão, não buscamos nada nesse sonho. Para buscar suprimento, companhia, lar ou emprego, não buscamos melhorar o sonho ou melhorar a ilusão, porque geralmente buscamos nosso próprio conceito do bem e, depois de alcançá-lo, constatamos que não era bem o que queríamos. Por isso, não buscamos nada deste mundo: buscamos apenas a realização de nossa Unidade com Deus.

Qualquer coisa que venha a se expressar deve vir de um profundo interior, ainda que aparentemente venha por meios externos. Quando vemos os frutos nas árvores, estamos vendo os frutos de uma vida invisível, de uma atividade invisível, um desdobramento invisível que se torna visível. Conforme levamos uma Vida Espiritual, sem procurar por qualquer pessoa ou coisa no plano exterior, mas vivendo em contínua união com o fluxo da vida, nossa experiência se desdobrará, assim como os frutos aparecem nas árvores como uma exteriorização da Graça Interior.

Quando a Iluminação é alcançada, a cena temporal é reconhecida como o que ela realmente é: ilusão, ou maya. Então podemos nos defrontar com pessoas más, condições maléficas, mas não lutaremos contra elas e nem tentaremos convencer que Deus faça algo contra elas: nós simplesmente relaxaremos, sabendo que tudo isso é ilusão ou hipnotismo dos cinco sentidos. Quando despertamos de contemplar esse sonho mortal como se fosse realidade, passamos a ver uns aos outros como realmente somos, e então amaremos ao próximo como a nós mesmos, porque descobriremos que nosso próximo é o nosso próprio Ser.
Tudo isso é evidente para nós não através do conhecimento, nem porque aprendemos um pouco mais da Verdade, mas porque desenvolvemos uma profunda e interior Consciência Espiritual, e agora somos capazes de perceber o Cristo.

O objetivo do “Caminho Infinito” é desenvolver a Consciência Espiritual, e não priorizar a produção de saúde e fortuna. Essas são as coisas acrescentadas, e aqueles que trazem até mesmo um grão de percepção espiritual mostram saúde, prosperidade e felicidade, e assim vivem vidas mais úteis. Mas esse não é o objetivo! A meta é alcançar a visão espiritual, de tal modo que possamos contemplar o Universo de Deus, comungando com Ele, falando e andando com Ele, vivendo com Ele e aprendendo a viver uns com os outros, mas não humanamente, porque nossas mais felizes companhias têm muito mais valor quando alcançamos alguma medida de amizade espiritual.

A amizade espiritual é estabelecida não porque estudamos os mesmos livros, freqüentamos a mesma igreja, nem por fidelidade à mesma bandeira. Nenhuma dessas coisas garante um companheirismo harmonioso. Somente unidos por laços espirituais, atingindo algum grau de Luz Espiritual, encontramos amizade com pessoas de qualquer país ou de qualquer credo religioso. Não há barreiras, uma vez que percebemos a natureza do Verdadeiro Ser. O Ser não tem nacionalidade, raça ou religião. A realidade do nosso Ser é Deus; a natureza do nosso Ser é o Cristo; e quando somos capazes de discernir este Ser, por conta de uma visão espiritual, temos uma relação eterna, seja na Terra ou para sempre, no que se seguir.

Olhando a vida por olhos materialistas, teríamos que admitir que Deus nunca venceu e nunca vencerá o mal, mas se olhamos a vida pelo Discernimento Espiritual, convencemo-nos de que Deus é Infinito, e que nunca houve um poder do mal, um poder negativo ou mortal. Essa visão elevada cura doenças, transforma o pecado em pureza, a loucura em lucidez, a morte em vida.

Alcançar alguma medida de visão espiritual já é suficiente. É uma Consciência que revela que Deus é Espírito, que tudo que realmente “é” tem que ser espiritual. Nunca haverá confirmação disso através dos olhos, porque o Espírito não pode ser visto pelos olhos.

Os olhos devem fechar-se para os objetos dos sentidos, assim podemos contemplar interiormente a Criação de Deus.

O desenvolvimento da Consciência Espiritual é a maior realização que pode haver. Somente no grau dessa Consciência alcançada somos capazes de ver as formas espirituais da Criação de Deus. Isso não tem nada a ver com o desenvolvimento da mente ou poderes intelectuais; não é conseguir uma sensação de saber mais do sabíamos antes: é muito mais uma questão de alcançar maior profundidade de nossa Consciência Interior, uma Consciência que se expressa nem tanto em palavras, mas bem mais por sentimentos.