O parêntese no qual vivemos consiste no grau de limitação
material ou mental ao qual nos submetemos através da crença universal em dois poderes. Remover o parêntese significa desconsiderar a imagem humana e tornar-se plenamente consciente de nossa Identidade Espiritual. Traduzido por Giancarlo Salvagni – Observações em vermelho e frases ou palavras grifadas por Jeff TrovãoO que realmente fazemos no Caminho Espiritual é tentar sair desse parêntese, percebendo que não estamos vivendo sob qualquer forma de limitação humana: tempo ou espaço, calendários ou climas. Quanto mais nós alcançamos uma percepção viva da Natureza Espiritual de nosso Ser através da meditação, tanto mais fraco torna-se o parêntese e mais perto estamos de tornarmo-nos Um com o Infinito e a Eternidade.
No momento em que percebemos que existe apenas Uma Vida e que nós estamos vivendo essa Vida, o parêntese está sendo removido, ou ao menos sendo tão apagado que reste apenas vestígios. Durante séculos por vir, pode haver restos desse parênteses nas vidas de todos nós, mas não será um parêntese tão difícil e efetivo, que nos aprisiona na mortalidade, isto é, em um conceito material de
vida.
Toda meditação que resulta em uma resposta interna acelera o desaparecimento do parêntese. Toda experiência de profundidade na meditação nos torna menos sujeitos às limitações do parêntese, menos sujeitos ao calendário, ao clima e às mudanças econômicas do mundo.
Um dos males de viver dentro do parêntese é que resistimos à mudança. Enquanto o nosso parêntese está meio confortável, nós queremos viver nele. Nem precisa ser saudável ou rico, desde que haja o suficiente para a sobrevivência e a dor não seja muito severa. Mas ainda que a natureza humana resista à mudança, o desenvolvimento espiritual compele à mudança, rompendo continuamente os antigos padrões.
De fato, o progresso espiritual exige que toda forma seja rompida, não importa quão boa ela seja. Não importa o quão confortável a vida possa ser, o Espírito não nos deixará descansar em algum grau de finitude, mesmo se essa finitude for o que o mundo chama de um milhão de dólares ou algo equivalente. Para o Espírito, isso ainda é finitude, e o Infinito não significa que o Espírito vai nos dar dois milhões: isso significa que vai nos dar maior Liberdade, maior Harmonia e, cada vez mais, menos dependência de formas e limitações materiais.
O avanço da Consciência em evolução garantiria um estado melhorado de assuntos em geral, mas essa melhoria provavelmente não virá como deveria vir, como uma evolução natural do progresso, porque os seres humanos estão tão determinados a manterem o que têm que eles não desistirão de suas limitações em troca de algo desconhecido. A natureza humana tenta manter o passado, tenta manter as limitações presentes, pois não está disposta a romper com elas por outra coisa.
Se estivéssemos dispostos a entregar a cada dia o que tivemos ontem, encontraríamos algo melhor amanhã, mas nossas próprias tentativas de segurarmos o que temos acabam por forçar nosso afastamento disso. O único modo de removermos o parêntese harmoniosamente e sem dor é permitir que as mudanças venham sem nos apegarmos a elas, sem segurar o passado, e sem acreditar que cada mudança significa falha, mesmo que possa trazer consigo temporariamente a falta de alguns dos confortos materiais. O Universo Espiritual tem um conjunto diferente de valores daquele do material.
Nem a morte remove o parêntese, não nos coloca no círculo da Vida Etern. A eliminação do parêntese é realizada com uma atividade da Consciência: é “morrer” para a nossa humanidade e “nascer” para nossa Identidade Espiritual. Não são morte ou nascimento físicos: é o “morrer diariamente” e o “ser renascido do Espírito” de que Paulo falou. É um ato de Consciência. O parêntese é a vida humana, e nosso propósito neste caminho é nos removermos do parêntese enquanto estivermos aqui na Terra.
Se não fizermos isso aqui, ainda teremos a oportunidade depois, mas a passagem deste plano para outra experiência não remove por si mesma o parêntese, não nos situa na Eternidade e nem nos dá Imortalidade. De fato, se deixarmos este estágio de nossa experiência ainda com um sentido humano da vida, despertamos em um sentido humano da vida em outro parêntese. O outro lado da sepultura ainda é um parêntese. (Podemos entender que a transição para o plano ou dimensão espiritual, por si só, não nos acrescenta e não nos tira nada, pois apenas nos percebemos em outra condição, onde as leis da matéria não se aplicam, ou seja, um mau pensamento pode criar um ambiente ruim instantaneamente e o “espírito” pode sofrer neste ambiente por muito tempo, e como a recíproca é verdadeira, um bom pensamento cria instantaneamente um ambiente de acordo).
Na medida em que nos tornamos cada vez mais conscientes de que o Espírito é o Único Poder, que nós não temos uma vida separada ou uma consciência de nossa autoria, mas que Deus constitui nosso Ser, isso faz o parêntese tornar-se mais diáfano – até desvanecer-se. A cada percepção espiritual que temos e a cada meditação que resulta em um Contato Consciente com Deus, o parêntese fica mais fraco, até que finalmente, na União Consciente final com a nossa Fonte, vem a eliminação completa do parêntese.
A função de um ensinamento religioso é levar o homem à consciência de sua Verdadeira Identidade e revelar os segredos da vida que permaneceram ocultos, devido à estupidez humana que tornou o homem incapaz de compreender os princípios basilares da existência.
Em seu estado não iluminado, o homem não percebe que, para prosperar e ser frutífero, ele deve viver de acordo com as Leis Espirituais, e não de acordo com sua própria vontade ou desejos pessoais. Ele não pode agir como se não houvesse tais leis, esperando assim viver em harmonia; nem pode ele escapar da operação da Lei Espiritual, tentando fazer suas próprias leis enquanto segue adiante.
Os grandes mestres que trouxeram os ensinamentos originais que fundamentam as religiões modernas sabiam que há leis invisíveis governando este mundo, e eles ensinaram o homem a trazer harmonia para si através da compreensão dessas leis, prometendo, como o Mestre fez para que aqueles que seguem neste caminho, que ele colheria frutos abundantemente. Em outras palavras, ele trabalharia alinhado com as Leis da Vida, em vez de trabalhar em antagonismo a elas.
Em sua grosseira ignorância humana, a maioria das pessoas aceita a aparência de que vieram a este mundo sem nada. Trabalhando a partir dessa base, quase desde o começo eles tentam adquirir coisas para si. Se é um bebê tentando tirar o chocalho de outro bebê, ou se é uma nação tentando tomar alguma terra ou indústria de outro país, a maioria das pessoas vive suas vidas na suposição de que elas não têm nada e, portanto, devem obter algo, trabalhar para isso, planejar e tramar para isso.
E então há aqueles que alcançam um estágio em que eles percebem a futilidade desse esforço constante de lutar pelas coisas que perecem, coisas que, depois que são obtidas, provam ser apenas sombras. Esse é o estágio em que algumas pessoas se afastam dessa busca por coisas no reino exterior e passam a buscá-las em Deus. Aquilo que elas até agora não conseguiram reunir por meios materiais, elas agora esperam obter de Deus. Mesmo que isso seja apenas um leve vislumbre do caminho, já é ao menos a abertura de uma brecha, porque isso tira algumas pessoas da expectativa de que podem obter do mundo material aquilo que lhes satisfaz, dirigindo-as para a crença em alguma Fonte invisível de, ou através da qual, seu bem possa vir. Aqueles que falham em encontrar em Deus uma porta aberta para a saúde, riqueza e sucesso são naturalmente levados a procurar mais fundo pelo caminho, ou buscar o significado do caminho.
Não é dado a um ser humano decidir por si quando ou se ele vai entrar no caminho e, até que o Espírito de Deus toque uma pessoa, ela não tem interesse em encontrá-lo, e certamente não tem nenhuma inclinação para segui-lo. No entanto, na vida de cada pessoa – e não necessariamente nesta vida em particular – em algum momento ou outro, ela será tocada pelo Espírito. Ela nunca pode saber quando será isso: tudo o que ela sabe é que nela se desenvolveu uma curiosidade, uma fome ou sede de algo – que ela não sabe o quê – que a leva para frente. É nesse momento que ela entra no caminho, e desse ponto em diante, não está dentro de seu poder decidir até que ponto vai abraçá-lo, até onde ela irá (sim, “quando tocada pelo Espírito”… mas qual o fator que determina isso? Por que uns sim e outros não, se Deus não faz acepção de pessoas? – nota do trad. G. S.).
No início de seu progresso, no entanto, ela descobre que realmente não existem pessoas más e pessoas boas; não há pessoas pecadoras ou puras; não há pessoas doentes e ou boas: só existem aqueles que não conhecem a Verdade, e aqueles que a conhecem: o não-iluminado e o iluminado.
Aqueles que estão na doença, no pecado ou na pobreza são os não-iluminados: eles não conhecem sua Verdadeira Identidade e, portanto, estão vagando no deserto, buscando a harmonia, mas procurando por ela na direção errada. Eles lutam por coisas, por fama e fortuna, honestamente acreditando que, quando eles as conseguirem, eles atingirão seu objetivo de felicidade, paz e contentamento. Mas eles conseguem? Eles não estão, geralmente, na mesma miséria que estavam antes de atingirem seus objetivos? É verdade que eles podem estar desfrutando de sua miséria em ambiente de mais luxo, mas a miséria ainda está lá, e a razão é que, independente da realização exterior, o Eu Interior continua morrendo de fome e sede.
Em seu estado de ser não iluminado, cada pessoa tem uma vida própria para viver, uma vida provavelmente destinada a ser manifestada na Terra por setenta anos – um pouco menos ou um pouco mais – uma vida sujeita a doença e morte, uma vida que começou e deve, portanto, acabar. Assim é o não iluminado, a raça humana.
Quando uma pessoa é iluminada, no entanto, isto é, quando ela conhece a Verdade de sua Identidade Real, ela perde toda a capacidade para o pecado ou a pobreza, e para doença também; ela perde a potencialidade e a propensão ao mal em sua vida, mas isso apenas em proporção à sua Iluminação.
Os iluminados não vivem de leis de limitação, pela lei de setenta anos de vida, pelas leis do bem e do mal. Eles vivem pela Graça e pela Verdade que o Cristo revela; não uma Graça e uma Verdade separadas do Filho de Deus, mas Graça e Verdade como a Vida do Filho de Deus. O indivíduo iluminado, com entendimento da Natureza de Deus e da natureza de seu próprio Ser, não é mais a “criatura”, mas agora é o Filho, o herdeiro de Deus, vivendo sob Sua Graça.
Uma vez que até mesmo o mínimo vislumbre sobre a Natureza de Deus é aberto, o resto vem mais ou menos rapidamente, porque agora, em vez da fé cega, há um completo relaxamento de conflitos mentais, luta e esforço, na percepção de que, uma vez que Deus é Sabedoria e Luz Infinita, podemos descansar e deixar Deus iluminar, instruir e guiar-nos.
Mesmo com uma Iluminação Espiritual em pequena medida, deve vir a percepção de que não devemos orar a Deus e nem existe nada pelo qual possamos orar. Este primeiro lampejo de luz deve revelar-se sobre suas famílias, pois é perfeitamente compreensível que, ao retornar ao lar depois de um dia de trabalho, os homens estariam mais ansiosos por comer e dormir do que para estudo e meditação. As mulheres também, com suas famílias grandes e tarefas árduas, dificilmente estariam prontas para um estudo sério ou teriam qualquer interesse nas coisas profundas e permanentes de vida.
Por essa razão, e provavelmente muitas outras, praticamente os únicos lugares onde a Verdade foi revelada e ensinada foram escolas de mistério de milhares de anos, do Egito e depois da Grécia e Roma. Havia também essas escolas na Índia, e algumas delas foram encontradas tão distantes quanto o Tibete. Aqueles de inclinação religiosa ou filosófica tornaram-se os alunos dessas escolas ou ordens religiosas nas quais a Verdade era ensinada.
A fim de prevenirem o mau uso da Verdade, um candidato à participação em uma escola de sabedoria tinha que passar por muitos testes rigorosos e dar provas de que ele não estava entrando na escola por motivos pessoais ou egoístas, ou com qualquer idéia de ganho material imediato, mas que ele estava entrando no sentido de dedicar sua vida ao Altíssimo, provando sua dedicação pelo serviço à humanidade.
Um dos principais requisitos era que os alunos permanecessem recebendo instrução por pelo menos seis, sete, oito ou nove anos, e conforme absorviam as lições ensinadas, avançavam por graus. Sem dúvida, em algumas dessas escolas, havia professores de grande Sabedoria Espiritual, embora fosse o mentalismo e o reino oculto do pensamento que recebiam mais atenção naqueles dias. Os primeiros hebreus também conduziram escolas religiosas onde aqueles com uma inclinação religiosa eram aceitos para instrução e, eventualmente, tornavam-se rabinos – algumas luzes menores e outras maiores.
Na época do Mestre, o judaísmo era dividido em três grandes seitas, os essênios, os saduceus e os fariseus. Entre todas, os essênios provavelmente tinham desenvolvido o mais alto grau de Sabedoria Espiritual . As práticas desta seita, no entanto, diferiam muito das de outros grupos, por isso foi muito perseguida e acabou se tornando quase um movimento clandestino. Por conta disso e, na minha opinião, principalmente por causa disso, os essênios tornaram-se o movimento mais altamente organizado e disciplinado entre todas as seitas judaicas. Eles chegaram a um ponto em que viviam quase inteiramente por regras e regulamentos, e a transmissão de Sabedoria Espiritual ocupava apenas uma pequena parte de suas atividades. De fato, nos primeiros sete ou oito anos de participação de uma pessoa nessa ordem, ela não tinha permissão de saber nenhum dos segredos de sua Sabedoria. Tal ênfase na disciplina, regras e regulamentos não só matava qualquer inspiração que um indivíduo poderia trazer para o grupo, mas também destruia qualquer esperança que ele pudesse ter de alcançar seu objetivo.
Alguns estudiosos acreditam que Jesus era um membro dos essênios, mas separou-se deles porque ele sentiu que a Verdade deveria ser dada às pessoas, enquanto que a tal hierarquia sentia que as pessoas não estavam prontas para isso. De fato, foi porque Jesus transmitiu a Verdade ao povo, a Verdade que os libertaria, que ele foi crucificado (sobre Jesus ser essênio, foi uma afirmação que tornou-se moda no meio esotérico nos últimos 50 ou 60 anos… mas sem fundamento algum! Por isso J.G. diz aqui “alguns” estudiosos “acreditam”… mera especulação! Eu não acredito, pois isso faria supor que a ordem fosse mais elevada e tivesse ascendência sobre Jesus Cristo, que tenho na conta de “Consciência Revelada” – nenhuma ordem lhe poderia ser superior… apenas o Pai, com o qual é Um… – nota do tradutor G. S.).
Embora o Mestre tenha ensinado essa Verdade, ele talvez reconhecesse que as massas, como tal, em seu estágio de consciência, não poderiam entendê-la. Provavelmente, ele esperava que aqui e ali, entre eles, haveria uma ou duas, uma dúzia ou cem pessoas que seriam capazes de perceber a natureza espiritual da Verdade e demonstrá-la, e que, com o passar do tempo, essas dezenas aqui e centenas de pessoas ali perpetuariam a mensagem, continuando a transmiti-la por gerações, até que finalmente todos teriam a Verdade (penso que Ele não “esperava” nada – estava revelando a Verdade ao mundo, por todos os séculos… Ele diz “com o tempo”… O que são muitos séculos diante da Eternidade? É muito “talvez” e muito “provavelmente” sem nenhum fundamento para o meu gosto, especulações perdidas e sem sentido, desnecessárias num livro absolutamente maravilhoso. – nota do trad. G. S.).
O Mestre ensinou, e mesmo que as massas não pudessem receber a Verdade, houve muitas pessoas que a receberam, e por isso, nos trezentos anos seguintes, obras poderosas (?) foram feitas por aqueles que tornaram-se seguidores do ensinamento do Mestre: a cura espiritual continuou a ser praticada; cada pessoa recebeu a liberdade de pensamento; e incursões foram feitas no dogmatismo de algumas seitas hebraicas, que ensinavam que somente aos hebreus era digno ser dada a Verdade (eu lamento que ele não cite nomes relevantes desses trezentos anos… – nota do trad. G. S.).
Deve ter sido uma grande luta para Paulo romper com a estreiteza tradicional das seitas judaicas existentes e começar a transmitir a Verdade aos gentios. Deve ter sido um grande desafio para Pedro aprender que é mentira afirmar que qualquer coisa que Deus tenha feito não seja sagrada, e então também ele começou a pregar aos gentios. Mas quando Pedro e Paulo chegaram ao Estado de Consciência pelo qual estavam dispostos a pregar aos pagãos, e quando eles começaram a dar testemunho da Verdade Espiritual de que não há grego nem judeu, escravo ou livre, e que somos todos Um em Cristo Jesus, eles derrubaram as barreiras da ignorância espiritual (a passagem é bela demais para deixar de citar aqui: “e disse-lhes: vós bem sabeis que não é lícito a um homem judeu ajuntar-se ou chegar-se a estrangeiros; mas Deus mostrou-me que a nenhum homem chame comum ou imundo… E logo mandei chamar-te, e bem fizeste em vir. Agora, pois, estamos todos presentes diante de Deus, para ouvir tudo quanto por Deus te é mandado. E, abrindo Pedro a boca, disse: reconheço por verdade que Deus não vê diferença entre pessoas; mas que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o teme e faz o que é justo… E, dizendo Pedro ainda estas palavras, desceu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra. E os fiéis que eram da circuncisão, todos quantos tinham vindo com Pedro, maravilharam-se de que o dom do Espírito Santo se derramasse também sobre os gentios” – Atos:10).
No momento em que uma pessoa começa a conhecer a Verdade, ela quebra barreiras: ela é libertada, seja da carência econômica, do fanatismo, preconceito, orgulho nacionalista, ou de convicções religiosas estreitas. A Verdade revela a Natureza Universal do Amor de Deus, que é concedido da mesma forma ao santo e ao pecador, e não é reservado para aqueles que pertencem a uma igreja particular.
Esta Verdade existia milhares de anos antes de Jesus. Não libertou muitas pessoas, mas isso pode não ter acontecido porque apenas um número limitado foi autorizado a aprender sobre essa Verdade. Infelizmente, não libertou muita gente desde então por causa de uma inércia mental, que é apenas um termo educado com o qual descrever francamente a preguiça.
Vamos encarar: somos mentalmente preguiçosos. A Verdade está disponível, mas nós não conhecemos a Verdade. Nós lemos sobre isso. Nós lemos e dizemos: “oh, como é bonito!” Nós ouvimos, e dizemos que é ainda mais bonito, ainda mais poderoso. E então, provavelmente, voltaríamos para casa, desejando poder tornar isso realidade ou encontrar um mestre espiritual que faria isso por nós. O fato é que isso não será feito para nós por qualquer mestre espiritual de agora, mais do que foi feito pelo mestres espirituais nos dias em que havia mais deles na Terra do que existem hoje.
Muitos anos atrás, essa sabedoria foi ensinada nas escolas de mistério e em em algumas fraternidades, em ordens religiosas, mas hoje não existe mais nenhuma dessas escolas na Terra. Tais como existem no plano interno, estão disponíveis apenas para aqueles que espiritualizaram sua Consciência, a ponto de poderem encontrar a porta de entrada das ordens espirituais que existem nos bastidores, isto é, além do reino da mente humana.
Assim, aqueles que espiritualizaram sua Consciência através do conhecimento da Verdade fazem uma transição de ser o homem da Terra para, como descrito por Paulo, ser aquele “homem em Cristo … se no corpo, não sei dizer, ou fora do corpo, não sei dizer”. Somos homens da Terra até sabermos a Verdade e a demonstrarmos em grau suficiente para alcançarmos um Estado de Consciência que não é mais restringido pela ignorância, superstição e medo. Nesse Estado de Consciência, somos capazes de penetrar além do reino da mente, no Reino da Consciência Divina. É a Iluminação Espiritual que torna isso possível.
Essas antigas escolas de sabedoria não tinham prata nem ouro para dar, nem nome e nem fama. O que elas tinham a oferecer era a Iluminação Espiritual, a Consciência Transcendental que levaria ao aspirante a Harmonia, a Alegria, Paz e Glória, mas nem sempre do modo que ele gostaria de conduzir. Nesse tipo de escola, que era um marco significante na jornada espiritual de uma pessoa, sempre expressava-se a saída das trevas para a Luz, do sentido material para a Consciência Espiritual, do estado não iluminado para o estado iluminado de Consciência; e quanto aos métodos de estudo, prática e desenvolvimento, poderiam diferir de local para local, de uma era para outra, mas a meta e o resultado sempre foram os mesmos – o desenvolvimento de um Estado Transcendental de Consciência.
Muitos termos diferentes foram usados para descrever os Iluminados de Consciência. No Misticismo Cristão, essa Iluminação é às vezes referida como Consciência de Cristo; na Índia, o aspirante que recebeu uma medida de Luz Espiritual é dito ter atingido a Mente de Buda; enquanto no Zen-budismo o termo usado é Satori. Os termos são diferentes, mas a ideia é a mesma. Sempre que um indivíduo atinge um estado muito alto de Consciência ou o que é entendido como Iluminação, diz-se que ele é iluminado. Cada um dos grandes Mestres Espirituais, Jesus Cristo, Buda, Shankara, recebeu a Iluminação completa e se tornou a Luz do seu mundo particular. Iluminação realmente significa mudar de um estado humano de consciência para um Estado Espiritual de Consciência, um Estado Transcendental, ou Consciência de Cristo, que está acima e além da consciência humana. Por estar além da possibilidade de qualquer ser humano alcançar isso em algum grau, isso não pode ser experimentado pelo estado humano de consciência. Mas quando alguma medida de Luz chega a uma pessoa, ela traz consigo novas faculdades e novas experiências. “Existe uma diversidade de dons”. Entre eles, há o dom da cura, que alguns líderes iluminados tiveram; outros tiveram um dom para o ensino espiritual, isto é, a capacidade de elevar um estudante acima de sua própria humanidade, em um estado iluminado; outros receberam um poder interior de oração pela Graça, que permitiu-lhes libertar muitas e muitas pessoas das suas discórdias e desarmonias.
Um caso em questão, é claro, é Moisés, que foi criado no clima social da corte egípcia, bem educado, mas era apenas uma pessoa comum, até ter uma grande experiência no alto do monte, quando ele veio a ter um confronto com Deus, recebeu sua Iluminação e alcançou a Consciência Transcendente, até o ponto de ter toda uma nova faculdade desenvolvida dentro dele. Depois de elevado a tais alturas, ele foi enviado ao Egito para liderar os hebreus sob o jugo do faraó, mas sem pegar em espada. Sob a direção e proteção desta Consciência Transcendental, guiou-os para fora da escravidão, da escassez, limitação, ignorância e superstição através do deserto, até chegarem à visão da Terra Prometida, e assim trouxe-os a uma certa medida de Liberdade e Luz, na medida que eles eram capazes na ocasião (Moisés não era “uma pessoa comum”. Ser “educado na corte egípcia” era ser um alto iniciado da corte egípcia, no que o autor mesmo chamou de “escola de mistérios”… Decididamente, não era uma “tabula rasa”. Mas é fato que a plenitude de sua Iluminação Espiritual só veio no Monte Horeb mesmo – nota do tradutor G. S.).
Então foi assim que esse homem Moisés, sem talentos especiais ou extraordinários para distingui-lo dos outros homens, tornou-se, naquele momento de realização, o líder e o libertador de todo um povo. Através da história dos hebreus, desde Abraão até o Cristo Jesus, sempre que um indivíduo foi dotado com a Consciência Transcendente, a ele foram dadas também a Força e Sabedoria para trazer um pouco de Liberdade, Luz, Graça e Cura para as pessoas sob seu cuidado.
Cristo Jesus é talvez o exemplo mais notável de uma Plena Consciência Transcendental. Muito pouco é conhecido do começo de sua vida, além do fato de que ele era de uma família de carpinteiros, que ele mesmo trabalhou como carpinteiro, que – acredita-se – foi educado na ordem dos essênios, e que ele foi treinado como rabino. Eventualmente, ele começou a pregar, mas por ele ter dons que faltavam aos rabinos da época – dons que nem mesmo Gamaliel, o maior de todos professores hebreus, possuía – por ter o grande dom da cura, do suprimento, de liderança, do ensino e da revelação, e porque muitas vezes pregou o contrário dos ensinamentos da hierarquia hebraica, ele então despertou sua ira.
Durante este período, e mil anos ou mais antes disso, o homem aprendeu os segredos ocultos da Vida Espiritual nessas escolas de sabedoria. Deve ser lembrado, no entanto, que os segredos transmitidos não eram os mesmos em todas as escolas, porque, quando chegamos ao assunto da Verdade, descobrimos que a Verdade pode ser revelada em dois níveis diferentes, o mental e o espiritual.
Assim, dois tipos de escolas foram desenvolvidas lado a lado: aquelas que ensinavam o poder da mente, e as puramente espirituais, que revelaram como se desenvolver espiritualmente, desenvolvendo a Consciência Transcendental. No nível da mente, grandes obras e grandes feitos de magia podem ser realizados, e isso às vezes ilude as pessoas a acreditarem que estão testemunhando Deus em ação, quando não é nada mais e nada menos que a ação da mente.
É de vital importância que todo aspirante no Caminho Espiritual conheça e reconheça e a diferença entre essas duas abordagens. O que quer que exista no plano material ou mental da vida pode ser usado de duas maneiras, tanto para o bem quanto para o mal.
Os efeitos da Consciência Espiritual ou Transcendental, por outro lado, podem ser apenas bons.
Buscar a entrada para o Caminho Espiritual não é diferente hoje do que sempre foi. Deve ser, sempre, não pelo propósito de ganho pessoal, não por um motivo egoísta de qualquer tipo, mas apenas pelo propósito de Iluminação.