AUTO-RENÚNCIA- UM Parênteses na Eternidade” Livro de Joel Goldsmith

Os estudantes que partem para a aventura espiritual freqüentemente têm a falsa compreensão de que eles viverão nas nuvens e não descerão mais à terra, a não ser, talvez, para ajudar alguns de seus vizinhos. Mas isso não funciona dessa forma, embora, a princípio, possa parecer uma adesão a esse tipo de experiência.Traduzido por Giancarlo Salvagni –  Observações em vermelho  e frases ou palavras grifadas por Jeff Trovão

Mas o Caminho Espiritual é um caminho de sacrifício; é uma renúncia, uma rendição. Se pudermos imaginar o Mestre dizendo a seus discípulos para “deixarem suas redes”, ou os discípulos, os apóstolos e outros levando a mensagem de Cristo longe, sem pensar em suas próprias vidas, sem depender de bolsa e nem roteiro, passando por sofrimentos, perseguições e, mais tarde, até a própria morte, podemos começamos a perceber que o Caminho do Cristo não é uma maneira de se obter e ganhar, mas de doar; é uma maneira de se render.

Normalmente, o estudante metafísico não chega a um Ensino da Verdade pensando em se render ou desistir de qualquer coisa. Seu principal pensamento está no que ele ganha com isso, e ainda que não deva haver críticas ou condenação desses que estão nesse nível de consciência, deve-se reconhecer que ganhar ou obter não tem nada a ver com um Ensinamento Espiritual.

É verdade, no entanto, que o primeiro ano ou dois de estudo podem resultar em uma melhora considerável para a maioria dos alunos. Suas vidas começam a ser ajustadas, harmonias entram em sua experiência: maior saúde, às vezes maior suprimento e quase sempre uma maior sensação de paz.

Cerca de mais um ano depois, eles se deparam com um pequeno problema: o ego entra em cena conforme os alunos começam a perceber que, a fim de atingir a Graça Espiritual, eles são chamados a renunciar a todas as qualidades humanas, desejos e paixões – não apenas os maus, mas também aquelas rotuladas pelo mundo como boas. Quando o Espírito entra, muitas coisas queridas têm que sair pela janela. Muitos confortos têm que ser abandonados, e este é o período em que mesmo as dificuldades físicas podem surgir.

O corpo humano tem em si a potencialidade da discórdia e da doença, e se for deixado por si, esses erros multiplicam-se até se tornarem sérios o suficiente para causarem dor. Sob um programa de dois ou três anos de trabalho espiritual muito sério, no entanto, esses erros não podem ficar inativos: eles não têm a permissão de continuarem dormentes, eles são despertados.

Não são apenas as discórdias físicas que permanecem latentes na maioria das pessoas. O próprio ego, em muitos casos, teve pouca oportunidade de receber qualquer atenção. Aqueles que conheceram pouca honra e glória, e que, muitas vezes, sentem-se como ninguéns, o que, aliás, todos nós realmente somos como seres humanos, de repente começam a florescer e encontrar seus egos no meio de atividades até então desconhecidas. É então que o querido e pequeno ego torna-se inflado e começa a sentir- se importante. Com isso, vem então o período de rebelião – a incapacidade do ego de manter a perspectiva adequada – e um período de luta se segue.

Em outras palavras, durante este segundo, terceiro ou quarto ano de Estudo Espiritual sério, podemos esperar que o pior de nós venha à superfície, seja o pior físico, pior mental, ou mesmo o pior moral. De muitos modos diferentes, os primeiros anos são problemáticos porque, se as tentações que vêm não são sabiamente encaminhadas, podemos nos encontrar não só como a esposa de Lot olhando a cidade que ficou para trás, o estado de consciência que ela havia deixado, mas até mesmo voltando para essas cidades, aqueles níveis de consciência que há muito tempo já foram superados. O objetivo parece tão distante que podemos desanimar e decidir voltar atrás. É nesses anos, portanto, que precisamos nos vigiar mais de perto, para termos a certeza de não sermos vencidos pelos nossos problemas ou pelas situações que enfrentamos, mas sim continuarmos seguindo em frente.

Durante este período de inquietação, dúvidas e questionamentos chegam ao nosso pensamento: estou no caminho certo? Este é o meu caminho? Se pudéssemos lembrar das mudanças que ocorreram em nossa vida ou se nós pudéssemos ao menos recordar as bênçãos que temos testemunhado na vida de outros neste caminho, saberíamos que, independente do que possa ter acontecido conosco, este ainda é o Caminho. Infelizmente, neste período de dúvida, a maioria das pessoas esquece todas as evidências que tiveram durante esses anos, que deveriam ser suficientes para provar- lhes que é o Caminho certo para elas.

E é nesse ponto que aqueles de nós que aspiram à Vida Espiritual devem lembrar-se de que o objetivo do Espírito não é mais ou melhores circunstâncias materiais. O objetivo não é apenas adicionar mais bens, dobrar ou quadruplicar nossa renda, ou transformar um corpo doente em um são. Se acreditamos que são essas coisas que representam o objetivo, e que, julgando pelas aparências, falhamos em alcançar esse objetivo, podemos ser tentados a sair da estrada e nos afastar daquilo que o nosso objetivo real deveria ser (mas aí nem é caso de “se afastar”: na verdade, nunca estivemos no Caminho – nota do trad. G. S.).

O Caminho Espiritual leva à Realização de Deus, Deus e seu governo, Deus e seu controle. Ao longo do caminho, e como resultado do nosso progresso no caminho, curas chegam a nós: físicas, mentais, morais, financeiras, e curas também de relações humanas discordantes. Essas, no entanto, não são o nosso objetivo: são apenas as coisas acrescentadas. Em algum momento de nossa experiência, essas curas podem servir como uma prova temporária da correção do Caminho, mas em última análise, nem chegam a ser isso, porque “tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite” (a citação é Lucas 16:31. O autor quer dizer que provas nem deveriam ser necessárias, pois quando as pessoas não querem acreditar, nem os mortos retornando podem convencer – nota do trad. G. S.). Mas essas curas, no entanto, servem a um bom propósito, elas são necessárias para o cumprimento do ensinamento de Jesus Cristo: Eu vim para que todos tenham vida e a tenham plenamente”. Essa é a promessa, mas há passos que levam ao cumprimento dessa promessa e, às vezes, esses passos são muito difíceis, principalmente por causa da rendição, da entrega que é necessária.

Para a pessoa que está meramente buscando mais harmonia em sua vida cotidiana, no entanto, esta rendição não é necessária. Um pouco de leitura ou apelar ocasionalmente a um praticante ou a um professor darão a ela ajuda suficiente para deixá-la mais confortável para seguir evitando mais discórdias da vida humana, mas deixando o trabalho final de sua salvação adiado para algum tempo futuro, ou talvez até para alguma vida futura.

Mas para aqueles que não podem descansar nisso, para aqueles que sentiram o Filho de Deus em seu peito e que tiveram seus passos voltados para o Caminho Espiritual, não há tal coisa como estar satisfeito com um pouco de conforto físico, estabilidade mental e moral, ou segurança financeira. Sentem-se pressionados a seguir em direção à meta final, e é aí que a rendição entra.

Devemos entregar todo e qualquer desejo ao único desejo: ver Deus face a face para conhecê-lo e deixar que a Vontade de Deus manifeste-se em nós. Deve haver a entrega completa de nossa personalidade pessoal para que o Espírito de Deus possa realizar-se em nós de acordo com Sua Vontade, não com a nossa.

É Vontade de Deus que tenhamos Vida Eterna; é Vontade de Deus darmos frutos com abundância. Na verdade, o Cristo é plantado em nossa Consciência por uma razão: para que possamos estar em Paz, que tenhamos vida e a tenhamos mais abundantemente, para, se formos cegos, nossos olhos possam ser abertos, e se formos surdos, nossos ouvidos possam ser desimpedidos; em outras palavras, que a Graça de Deus nos encha da Abundância Infinita de Bem Espiritual, esse é o único objetivo. Cristo Jesus não disse uma só palavra sobre como usar o Caminho Espiritual para adquirir palácios, reinos e tesouros terrenos. Em vez disso, disse ele: “Meu Reino não é deste mundo”.

O estudante da sabedoria espiritual deve orar, não pelos reinos deste mundo, não para “os quatro reinos temporais” (referência a “Daniel 2: 26-46”). Uma das razões para o nosso descontentamento é que os quatro reinos temporais não se cumpriram em nós como esperávamos que pudessem ser, e agora estamos sendo chamados a render o nosso desejo por aqueles reinos – pelas coisas deste “mundo”, pelas coisas para as quais temos orado até agora. Nosso objetivo agora deve ser puramente espiritual, alcançar o Reino dos Céus.

O Reino dos Céus é um estado de grande Paz e Harmonia; é um lugar de muitas mansões onde todo mundo é um mestre, e lá ninguém é servo. Que reino estranho! Um lugar com todas essas grandes maravilhas, mas não há servos para cuidarem delas. Cada um é mestre, e cada um é seu próprio servo. Infelizmente, no entanto, algumas pessoas acreditam que o céu é um lugar onde eles vão ser mestres, com servos para esperá-los. Deve ser um choque para muitos, em seu progresso espiritual, perceber que não há lugares de honra, grandeza ou fama; não há reis e príncipes; não há dez ou cinco inferiores. Todos esses são Um em Cristo Jesus: não há maior nem menor. Existe apenas uma dependência completa do Espírito de Deus.

Há um Espírito de Cristo, e Ele fará ressurgir nossos corpos mortais; será o pão, o vinho e a água para nossa experiência; nos compensará daqueles anos de colheita perdidos para os gafanhotos. Existe um Espírito, mas há um preço a ser pago por Ele – uma rendição. Espiritualidade não pode ser adicionada a um vaso já cheio de materialidade. Nós não podemos adicionar o Reino dos Céus ao nosso senso pessoal do ser. Se houver um amor desordenado pelo poder pessoal, um amor por glória, um amor por nome ou fama, ou um mero desejo de manifestar os benefícios e os frutos do Espírito na forma de melhores circunstâncias humanas, nós não poderemos alcançar o Reino dos Céus. Nosso vaso deve estar vazio de si mesmo antes de poder ser preenchido com a Graça de Deus.

O Mestre Jesus Cristo lavou os pés dos seus discípulos, tocou os leprosos, e serviu de todo e qualquer modo, para mostrar que não era ele, ele mesmo, que tinha poder, mas que era a Graça de Deus que estava operando através dele, não uma Graça nele apenas, mas uma Graça que operaria em todos aqueles que estivessem dispostos a deixar suas redes e esvaziar-se de si mesmo.

Quando uma pessoa percebe que é impossível para ela fazer qualquer obra poderosa por si mesma, impossível até ter compreensão suficiente para curar uma simples dor de cabeça, então, e só então, ela torna-se um vaso vazio, através do qual o Espírito de Deus pode fazer seu trabalho na Terra. É quando se senta humildemente e completamente ciente de sua incapacidade, até mesmo de saber orar, que o Espírito de Deus pode agir e executar seus milagres na Terra.

O Espírito de Deus está sempre presente para nos elevar acima de toda enfermidade, mas tem que ter uma consciência humana para usar como instrumento. Tinha que haver um Jesus Cristo para realizar aqueles milagres e curas instantâneas na Galiléia. Tinha que haver discípulos para continuar o trabalho de cura. Deus sempre age através de uma Consciência Individual, assim como Ele agiu através de Moisés, Elias e dos apóstolos, e como Ele agiu através dos místicos, metafísicos, praticantes e professores dos dias atuais. Deus opera através da instrumentalidade da consciência humana individual, quando essa consciência é expurgada de seu desejo de autoglorificação, de lucros e vantagens pessoais, ou seja, qualquer coisa que “os quatro reinos temporais” possam representar para uma pessoa.

Quando chegamos ao ponto de servir como praticantes ou professores, temos que ser corajosos e completamente expurgados de qualquer sentido pessoal, porque nós, sem dúvida, ofenderemos muitas pessoas a quem desejamos abençoar. Neste ministério não pode haver favorecimento para qualquer um por causa de sua posição, riqueza ou fama; não pode haver concessões à parte mais grosseira da natureza humana. Toda pessoa terá que chegar ao mesmo estado de rendição, e para isso, podemos ter que “arrancar os olhos”, “cortar as mãos” (Mateus 5:29-30) e observar que “este caminho é reto e estreito e, ou você segue de modo reto e estreito, ou você não vai entrar”.

Esse não é o caminho da popularidade. Podemos nos tornar impopulares porque seremos chamados a disciplinar, corrigir e ensinar Princípios aos quais a mente humana resistiu desde os dias de Moisés e de Jesus Cristo, e sempre resistirão (por apontarem incômodas verdades às pessoas, os profetas eram muito mal quistos, por vezes apedrejados, e por esta razão muitos tinham que viver recolhidos no deserto – nota do trad. G. S.). A mente humana teve que ter seu bezerro de ouro, mesmo depois que Moisés revelou a natureza de Deus; e quer um bezerro de ouro hoje, porque a natureza humana não gosta de render seus bezerros de ouro, e o maior bezerro de ouro que ela tem é o egoísmo, auto-indulgência, o ego, o ego e o ego. A mente humana quer qualquer coisa, menos a auto-entrega.

O homem tem que ser um vazio oco pelo qual o Espírito ora, e quando o Espírito ora no homem e através do homem, os frutos espirituais tomam lugar neste mundo. É o Espírito de Deus que realiza as grandes obras de cura na Terra, através daquelas pessoas que são capazes de parar em silêncio, ouvindo sempre e sempre a Voz do Senhor. A partir do vazio interior, o Espírito de Deus flui e os frutos espirituais aparecem.

Quando o Espírito está rompendo a casca da humanidade em nós, é certo que os estágios iniciais podem ser dolorosos; certamente haverá distúrbios em nossa existência. Devemos aceitá-los com gratidão: essa mesma dor e essas mesmas perturbações indicam que traços, qualidades e condições indesejáveis não estão mais adormecidos em nós. Agora eles estão sendo despertados, erradicados, e se formos fiéis, nós seremos purificados.