Todo trabalho no Caminho Espiritual é direcionado para o desenvolvimento de uma Consciência maior do que a do intelecto ou mente humana. Traduzido por Giancarlo Salvagni – Observações em vermelho e frases ou palavras grifadas por Jeff Trovão
No começo, quando não havia consciência do bem ou do mal, o homem vivia na Consciência Divina, mas depois do que foi conhecido como a “queda do homem”, ele tomou para si uma consciência de si mesmo. Ele não era mais consciente da Consciência do Pai: ele agora tinha uma consciência mortal, uma consciência da morte, como todos aqueles estão sob a crença universal em dois poderes. O objetivo do trabalho no Caminho Espiritual é trazer o retorno a este Estado Divino de Consciência.
Em alguns casos, a transmissão daquela Mente que estava em Cristo Jesus acontece em um indivíduo quando, através de algum ato da Graça dentro de si mesmo, o Mestre – eu não estou falando agora de um homem: eu estou falando do Mestre, a Consciência Divina – toca o indivíduo e trabalha nele, sem a ajuda de um professor ou de um ensinamento. Paulo, que recebeu sua Iluminação trinta anos depois da crucificação, não tinha um professor pessoal para ajudá-lo a trazer a transformação espiritual que aconteceu nele. Seu professor religioso, Gamaliel, era um estudioso com um conhecimento profundo de hebraico e teologia, mas provavelmente com pouca Consciência Espiritual, e o Poder Espiritual parece ter estado completamente ausente dele.
Então, esse Saulo de Tarso, que estava fora, na missão de perseguir e ajudar a matar cristãos, este Saulo, um dos mais altamente educados e treinados eruditos religiosos, mas aparentemente sem um traço espiritual, recebeu sua Iluminação de dentro de si mesmo, sem a ajuda de um professor ou de um ensinamento no plano exterior.
Paulo deve ter recebido seus ensinamentos e Iluminação diretamente do Espírito do próprio Cristo, mas pode bem ser que, por causa de sua identificação com o movimento judaico nos dias do Messias, ele tenha atribuído sua Iluminação ao homem Jesus, que deve ter aparecido a ele e lhe ensinado. Também é possível que a Consciência de Jesus realmente estivesse lá, como o instrumento dessa Iluminação, assim como no caso de João, que alegou ter sido ensinado por Jesus Cristo, e isso cinquenta anos depois de Jesus ter sido crucificado (reparar que, com todo seu esclarecimento, o autor não chega a afirmar categoricamente nenhuma das possibilidades… nota do tradutor G. S.).
Gautama, o Buda, passou de instrutor a instrutor por pelo menos sete anos, e alguns dizem que foi mais; ele deve ter absorvido algo de cada um, mas foi só depois que ele partiu e se afastou de todos professores que ele começou a recorrer aos recursos dentro de si mesmo e teve a experiência de Iluminação completa sob a árvore Bodhi. Sem a ajuda de professores ou ensinamentos humanos, esses homens, sem dúvida, receberam sua Iluminação através do seu próprio Interior, de sua devoção à busca da Verdade, e todos estão de acordo que, sem essa mente iluminada, o homem é espiritualmente nada, mas com ela, ele é espiritualmente tudo.
Existem duas maneiras de receber instruções que levam à Iluminação, mas sempre essa instrução envolve um desenvolvimento progressivo, por graus. Um caminho é pela transmissão direta de Deus para a consciência do aluno, o caminho de Gautama, Jesus, João e Paulo. O outro caminho é através de um professor e seu ensino, seja por contato direto ou através de seus escritos. Em ambos os casos, se a instrução é de natureza verdadeiramente espiritual, então é Deus se revelando.
Trazer algum grau de desenvolvimento dessa Mente que estava também em Cristo Jesus tem sido a atividade de professores por séculos; e seus alunos, através da aprendizagem e aplicação de verdades específicas, além do contato com a consciência do professor, gradualmente vão assumindo a Luz Espiritual e o Poder Espiritual, até que eles finalmente alcancem a Iluminação definitiva.
Ninguém pode obter Iluminação Espiritual por opção. Se isso fosse possível, provavelmente aqueles com maiores recursos financeiros seriam os primeiros a recebê- la, porque se eles estivessem interessados em encontrar Deus, poderiam procurar um professor espiritual e providenciar para ter dele todas as instruções necessárias até que alcançassem seu objetivo.
(É importante diferenciar Iluminação Espiritual de poder; podemos entender que na lei humana existe manipulação de poder (efêmero e ilusório), não somente na parte concreta, como também na parte etérica, onde vemos exímios manipuladores, que cobram valores para seus trabalhos que até podem surtir algum efeito, contudo Poder só existe UM).
Iluminação Espiritual, no entanto, não pode ser comprada com dinheiro. Nenhum professor escolhe um aluno por qualquer razão humana: porque ele tem dinheiro, tempo ou por ser um bom amigo. O professor conhece a consciência do aluno e o conduz, e continua observando e esperando os sinais que indicam que há então uma preparação não só para receber a Graça Divina, mas também a capacidade de manter-se nela.
A menos que uma pessoa seja uma das poucas capazes de receber a Graça sem um professor humano, sem dúvida chega um momento em que é necessário para ele estar na presença física de um professor. Dizem que, quando o aluno está pronto, o professor aparece. Mas isso não significa quando o aluno acha que ele está pronto; não tem qualquer relação com que o aluno pensa. Isso significa quando o aluno está realmente pronto.
Mas como o aluno saberá que está pronto? Quando o professor aparece e bate-lhe no ombro. Até então, um estudante não tem nada a fazer, senão permanecer dentro de si mesmo, aperfeiçoar-se, aceitar qualquer orientação que lhe seja dada, ainda que ele a considere estreita, e então orar para que seu dia de Iluminação chegue. Nesse dia, o professor irá reconhecer antes do aluno, e geralmente o professor é que fica aguardando que o aluno olhe para cima. Chega uma experiência que é chamada na vida humana de amor à primeira vista, e isso é o que acontece quando o professor reconhece seu aluno, e o estudante reconhece seu professor.
É possível que às vezes um professor espiritual possa julgar mal a prontidão do aluno. Certo é que Jesus calculou mal a prontidão de cerca de doze dos seus discípulos, mas ele aceitou aqueles que estavam quase prontos, e ele não se saiu mal com eles. Dois ou três deles saíram-se razoavelmente bem, e essa é uma boa porcentagem. Devemos nos lembrar que ele entrou em contato com apenas um limitado número de pessoas, muitas das quais eram ignorantes, analfabetas e certamente não treinadas em assuntos espirituais. Se todos os seus discípulos tivessem sido essênios, provavelmente poderiam ter feito mais do que fizeram, mas eles não eram (Jesus não agia por ego próprio, então seu “plano” só podia ser o Plano de Deus, ou seja… perfeito! – nota do trad. G. S.).
É difícil, quase impossível, para qualquer professor dizer: “Você está perfeito. Você vai atingir a total renúncia do ego”. O melhor que um instrutor pode fazer é sentir que um aluno está pronto, mas não necessariamente saber se ele vai cumprir ou vai alcançar as alturas da Realização Espiritual, e sim que ele mostra todas as qualidades necessárias para a realização; a partir de então, cabe ao aluno poder ou não alcançá-la.
Neste ponto, o professor dá ao aluno tudo o que ele tem para dar, e depois fica com o aluno até o ponto em que ele será capaz de completar a jornada por si mesmo. Nenhum instrutor pode completar essa jornada por um estudante: ele só pode conduzir o aluno, elevá-lo, trazê-lo para o discernimento, e, em um momento específico, quando assim instruído de dentro, conferir a iniciação. A partir de então o aluno, trabalhando com o professor, pode ir para a frente, mas se ele atinge a medida completa nesta vida é algo que ninguém pode predizer.
Dar e receber instrução espiritual é um ato sagrado, que deve ser realizado pelo aluno e pelo professor com a máxima dedicação e consagração. Real instrução espiritual começa apenas quando o aluno é capaz de voltar-se para Deus com tal receptividade que ele pode ouvi-lo falar com ele, ou quando o estudante encontrou seu professor ou seu ensino e vem para a presença desse professor ou ensino sem perguntas, sem desejo, senão um único: a revelação da Verdade.
A atitude apropriada do aluno é sentar-se aos pés do mestre, não com perguntas, mas quase com um pedido: “Dê-me uma compreensão de Deus! Revele-me a Deus; revele- me a Verdade”. Conforme o estudante senta em expectativa tranquila, confiança e segurança, o professor é capaz deixar a palavra de Deus fluir através de sua Consciência, e então é não um professor falando, nem homem nem mulher, mas o próprio Espírito de Deus.
No Oriente, esse tipo de ensinamento era conhecido há muito, longos séculos antes da era cristã. Nesse sistema, existe um professor espiritual que atingiu alguma medida de Sabedoria Espiritual – alguns mais e alguns menos – os quais, sentado em silêncio em sua caverna, em sua montanha ou retiro, ou pela margem do rio, gradualmente atraem aqueles indivíduos que sentem-se atraídos por ele. Esses, então, tornam-se seu corpo discente. Elas vão sentar em volta do professor, voltar dia após dia para uma sessão, e às vezes permanecem por dois, três ou quatro noites e dias, ou por anos, dormindo ao ar livre, se necessário, até que alguma medida de Luz comece a amanhecer em sua Consciência.
Há outros professores na Índia que fundaram ashrams ou estabeleceram pequenos templos ou locais de culto onde os estudantes podem chegar até eles, levado por um impulso interior. Não há publicidade, é claro, nem há qualquer contato com os alunos. As pessoas, às vezes, viajam milhares de quilômetros apenas para passar uma semana ou duas num esquema particular. Alguns alunos vêm e permanecem com o professor por muitos anos, porque hoje, apesar do rádio e da televisão, há pessoas, particularmente no Oriente, que sabem que a Verdade não pode ser transmitida ou absorvida em um fim de semana movimentado; portanto, é perfeitamente normal e natural passar de três a sete ou mais anos com seu instrutor.
Quando o aluno entra na presença de um professor espiritual, se ele orou sinceramente para ser levado ao seu instrutor ou ensinamento, ele estará na presença de quem tem pouco conhecimento para dar, mas diante daquele que, por causa de suas horas de meditação e por ter alcançado a União Consciente com Deus, será de tal transparência que o Espírito derramar-se-á através dele em palavras, pensamentos ou em completo silêncio.
De qualquer forma, a instrução é dada. Se o aluno for receptivo, ele receberá a comunicação. Então o trabalho é principalmente a meditação, com ocasionais relatos da Verdade do professor, que o aluno pode usar em suas meditações, até atingir um grau de Consciência de algumas dessas Verdades.
Se a mente do aluno está em um estado de questionamento e disputa, se ele duvida ou ainda não reconhece seu professor, ele não pode aceitar a instrução espiritual dele. A verdade só pode ser recebida quando o estudante atinge aquela profunda humildade que está disposta a admitir: “eu sou vazio; eu não sei de nada; preencha-me”. Então, quando ele entrar na presença de seu professor ou encontra escritos do seu professor (um caso bem particular! Afinal, o texto é – deve ser – a Presença de uma Consciência! – desde que seja reconhecida como tal – nota do tradutor G. S.), ele estará preparado para aceitar o ensino em humildade e sem argumento, assim como estamos preparados para aceitar o ensinamento do Mestre, não porque há a autoridade de Cristo Jesus por trás disso, mas porque algo dentro nos diz que esta é a Verdade e devemos seguir nesse caminho.
Nenhum aspirante no Caminho Espiritual deve ser influenciado a seguir um Ensinamento Espiritual simplesmente porque seus amigos o abraçaram e estão entusiasmados, ou porque parece ser bem-sucedido ou popular. Isso não tem nada a ver com ele.
Ninguém deve ter pressa para escolher seu professor ou seu ensino. Em vez disso, uma pessoa deve esperar até ter a convicção de que encontrou o caminho certo, que não há como voltar atrás. Então, quando lhe é revelado que este é o caminho para ela, ela o seguirá, mesmo que seja muito difícil. Quando um aluno encontra seu Ensinamento Espiritual, ele deve então desistir de todos os outros, e ser tão fiel a esse ensinamento e ao professor quanto ele espera que o professor seja a ele. Um estudante tem o direito de esperar de seu instrutor completa e total devoção a Deus, e também toda a assistência que ele possa dar ao desenvolvimento espiritual de seu aluno; mas o aluno deve dedicar essa mesma devoção a Deus, ao seu professor e ao seu ensinamento, abandonando todos os outros e firmando-se em apenas um. Ninguém deve tentar montar dois cavalos na mesma corrida. Isso nunca foi realizado com sucesso.
O Mestre advertiu que existem muitas, muitas pessoas, que tomam o manto sobre si mesmas e estabelecem -se como o Cristo, mas que não são “cristos” de modo algum. ‘Há muitos mestres desfilando sob a bandeira da verdade, que não têm nenhuma compreensão ou relação com a verdade. Ninguém pode prevenir a outro quem são esses. O próprio aluno terá que ser guiado pelo Espírito para descobrir se o professor com quem ele está trabalhando é “aquele que deveria vir”.
Quando João Batista questionou se Jesus era o Prometido, a resposta de Jesus foi: “vai e anuncia a João as coisas que tens visto e ouvido: que cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados e aos pobres anuncia-se o Evangelho”.
Essa é a única prova que pode ser dada. Ninguém pode decidir por outro quais os mestres e quais ensinamentos são verdadeiros ou falsos. Cada um tem que permanecer dentro de si e medir o que lhe é oferecido, em contrapartida com o que ele testemunha como verdade demonstrável. Pelos frutos do ensino e pela vida do professor, cada um terá que determinar qual ensino é para ele, mas ninguém deve tentar trabalhar com dois, três ou quatro ensinamentos ao mesmo tempo. O Mestre chamou seus discípulos para deixarem suas redes – deixarem seu passado, deixarem tudo de que estavam convencidos, deixando tudo para trás para segui-lo, e ele os faria pescadores de homens.
Quando uma pessoa vai a Deus, que vá numa entrega completa e rendimento completo. No começo isso não é possível, porque todo mundo tem algumas convicções religiosas, mesmo que suas convicções sejam ateístas. O estudante que se volta para a Verdade descobre que muitas de suas crenças anteriores eram ensinamentos ou interpretações erradas feitas pelo homem, e que ele os seguiu somente por obediência cega e ignorância. Então quando ele chega à Verdade, ele fica chocado, ao descobrir que ele não pode continuar aceitando algumas das suas crenças mais queridas porque, para seu bom senso esclarecido, elas não são verdadeiras. Algumas delas ele é capaz de se desapegar facilmente, mas a outras ele vai se agarrar com tenacidade inabalável. O desapego de tudo que o estudante considerou mais sagrado muitas vezes ocorre contra suas próprias convicções internas, contra a fé e crenças que foram armazenadas por anos e anos. Essas ele acha difícil abandonar, e assim ele tenta entender o novo, enquanto ainda se agarra ao antigo.
O Caminho da Verdade não é fácil. Não é fácil ser um buscador de Deus, porque, afinal, temos que abandonar todas as nossas convicções e chegar a esse novo dia em que faremos a grande descoberta de que Deus está no meio de nós.
Uma função do instrutor espiritual é revelar os princípios com os quais o estudante deve trabalhar para se erguer na Consciência, para uma apreensão do Divino. O Mestre deu a seus discípulos um meio para isso, ao pedir-lhes que rezassem por seus inimigos, orassem por aqueles que os manipularam maliciosamente, orassem em segredo, dessem esmolas em segredo e perdoassem até setenta vezes sete.
(Muitos se consideram cristãos, andam para lá e para cá exibindo a Bíblia Sagrada de baixo dos braços, no entanto quando o tema é perdoar o seu irmão fingem que não entenderam esta mensagem).
Dos seguidores de Jesus, esperava-se que colocassem esses ensinamentos em prática, e assim como ele apontou para certos Princípios, hoje um professor da Sabedoria Espiritual recebe suas próprias transmissões espirituais e as revela para seus alunos. Tais ensinamentos não têm valor, no entanto, se são meramente comunicados do professor para o aluno. Eles tornam-se significativos e eficazes somente quando o aluno os coloca em prática.
Algumas pessoas pensam que o raciocínio e a lógica são suficientes para alcançar a Vida Espiritual, mas eu aprendi há muito tempo que nenhum Ensino Espiritual pode ser transmitido intelectualmente. A leitura de livros apenas nunca vai dar à maioria dos requerentes a real importância de um verdadeiro Ensino Espiritual, porque ninguém pode compreender um Ensinamento Espiritual somente por livros, a menos que ele esteja espiritualmente sintonizado (essa ressalva é importantíssima, pois, estar “espiritualmente sintonizado” é ver num livro, num autor, a própria Consciência, e não um texto intelectual. Isso envolve os olhos de quem lê, o sentimento, a intuição e a Fé – sim, isso é possível! Tomemos um exemplo prático: alguns livros do autor foram traduzidos e disponibilizados gratuitamente… Apesar do interesse de muitos, sou capaz de apostar que uns poucos realmente leram… Será que apenas motivados por uma curiosidade intelectual? Não creio! Eu mesmo tive um livro de Joel Goldsmith quinze anos sem ler, quinze anos! Só li quando motivado pela vida – Consciência – de Philippe de Lyon… buscando saber não o conhecimento intelectual, mas como ele conseguia curar pessoas… – nota do trad. G. S.).
Somente através da Consciência Espiritual a Verdade pode ser transmitida, e é por essa razão que tanto tempo deve ser dedicado à meditação, tanto por parte do professor quanto do aluno. Se um estudante eleva-se acima de seu raciocínio, até a área de Consciência onde suas faculdades intuitivas funcionam plenamente, aí então ele pode compreender o que o professor está lhe transmitindo. Caso contrário, ele é capaz de ouvir apenas com o ouvido, e, para absorver uma Mensagem Espiritual, ouvir só com o ouvido físico não tem sentido.
Depois que ele revelou os Princípios com os quais o estudante deve trabalhar, a segunda função do professor espiritual é abrir a Consciência do aluno para que um caminho possa ser feito pelo aluno, para que ele alcance o Centro de seu próprio Ser, onde Deus pode se revelar a ele. Deus não faz acepção de pessoas. Deus não escolhe entre todos na humanidade um Lao-tse, um Buda, um Shankara, um Jesus, um João, ou um Paulo, e nem espera que todo o resto do mundo sente-se a seus pés. Não, o mundo senta-se aos pés do iluminado para aprender como ele se tornou uma Luz, e como se pode ir e fazer o mesmo.
Se o estudante é fiel, um professor espiritual pode abrir a Consciência para uma receptividade ao Pai Interior, de modo que a experiência de Deus possa chegar até ele. Algumas pessoas recebem a Luz Espiritual muito rapidamente, outros mais lentamente, dependendo do desenvolvimento do indivíduo: como foi sua formação, quão preparado ele está para desistir do raciocínio, pensamento, argumentar com a mente e quão disposto está para sentar-se, por assim dizer, aos pés do mestre, e receber, receber e receber.
Enquanto não há nada que possa ser perguntado ou respondido através da mente que possa melhorar o entendimento espiritual de um aluno, no começo é natural para ele ter perguntas que, quando respondidas, podem de alguma forma desfazer algumas impressões falsas com as quais o aluno pode estar enrolado e ajudar a limpar alguns borrões em sua consciência, assim preparando-o para a experiência espiritual. O professor responde aos alunos suas perguntas, mas a continuação insistente de perguntas significa que o estudante não atingiu essa Consciência Interior, e sua atenção precisa ser dirigida, não para ter suas perguntas respondidas, mas para ir fundo e mais fundo na Consciência, até que ele consiga a “pérola preciosa”.
Nenhum professor espiritual evita responder perguntas que são feitas para clarear o significado da mensagem, mas uma vez que o aluno tenha alcançado um contato real com a sua Fonte, as questões raramente surgem. Como Deus se desdobra em sua experiência, ele fica sem perguntas, sem qualquer dúvida sobre o que fazer ou por quê. Ele não está preocupado em entender o que pecado é, ou sobre ser guiado, sobre o que ele deveria ou não fazer. Se ele soubesse da pouca importância que essas coisas têm, ele nunca as deixaria perturbar seu pensamento. Sua única preocupação seria seguir a Luz que está dentro dele.
Já que a Transmissão Espiritual não vem através da mente humana ou através das faculdades racionais, a única razão pela qual as dúvidas têm qualquer lugar no desenvolvimento da conscientização espiritual é por causa da mistura de ensinamentos errados, e muitos deles devem ter sido ensinados desde os seus primeiros anos, continuando a confundi-lo, até que sejam limpos. Chega o dia, no entanto, em que o aluno percebe que todas as suas perguntas, juntamente com suas respostas, são absolutamente inúteis no que diz respeito a seu desenvolvimento espiritual.
O Desenvolvimento Espiritual vem através da experiência de Deus, não por perguntas ou respostas. Através da meditação, o professor se empenha em elevar a Consciência do aluno, e isso faz libertar o aluno. Não é uma questão de saber ou não saber a resposta às questões colocadas pela mente humana: é uma questão de alcançar a Consciência Espiritual. O real Ensino Espiritual começa quando a atitude do aluno é: “eu não tenho mais perguntas. Tudo o que eu quero agora são respostas, mas aquelas que vem de Deus. Eu quero que elas venham através da inspiração de meu professor ou diretamente do Espírito de Deus dentro de mim”.
Mas até que essas respostas sejam recebidas, o aluno deve satisfazer sua mente fazendo perguntas. Esse é o único método para descartar seus questionamentos, ceticismo e dúvidas; mas ele deve se livrar deles o mais rápido possível e, em seguida, encerrar logo essa fase de sua jornada espiritual, que é apenas uma etapa introdutória. Nem mesmo o começo da Sabedoria Espiritual é alcançado enquanto as perguntas não estiverem fora do caminho e o aluno esteja completamente vazio e implorando: “o passado é passado. Eu nem estou mais interessado no que eu pensava ou acreditava antes. Eu não me importo com respostas para perguntas: eu me preocupo apenas com a experiência de Deus. Preencha-me; preencha-me com Sabedoria Espiritual; encha-me com a Presença e Poder de Deus”.
Com essa atitude, o aluno entrou no estágio inicial – o primeiro degrau. Daí em diante, pela Graça de Deus que tem sido concedida a ele, o professor pode transmitir não apenas Sabedoria Espiritual, mas Consciência Espiritual. Mais cedo ou mais tarde, o Caminho se abre para que o o aluno receba suas próprias comunicações de dentro. A mesma Luz que chegou a todo místico pode então chegar a ele; a mesma Verdade que se revelou a todo místico pode então se revelar a ele. A Verdade, em sua essência, é a mesma, mas vem em uma linguagem diferente e em diferentes graus para cada pessoa.
A Verdade chegou a centenas de pessoas, mas sempre vem por um indivíduo. Assim como Deus falou através de Gautama, o Buda, Lao-tse e Shankara, através de Jesus, João e Paulo, então Deus pode falar através das palavras de qualquer pessoa realizada por Ele, e quando o próprio aluno faz o contato com Deus, a Verdade virá através dele.
O ensinamento que é transmitido sem palavras e sem pensamentos é o único ensinamento absoluto que existe. Houve estudantes do “Caminho Infinito” que foram capazes de receber tal ensinamento, e quando isso acontece, há longos períodos de completo silêncio, em que nenhuma palavra é falada, e nenhum pensamento, e ainda assim a mensagem é transmitida a eles.
Não precisa haver nenhuma conversa entre professor e estudante, porque há uma área da Consciência que é realmente uma área de comunicação, de modo que, sem fala e sem pensamento, seja qual for a comunicação necessária entre o aluno e o professor, vai acontecer. Não é necessário falar ou pensar quando duas pessoas estão sintonizadas, só que elas não podem estar sintonizadas por terem algo em comum humanamente, mas apenas por saber que “EU SOU”.
Quando nenhum sentido pessoal entra, seja em transmitir ou receber, isso é Ensino Absoluto. É realizado inteiramente no plano espiritual. Quando o Absoluto é alcançado e o estudante se eleva com o professor na Consciência Divina, o sentido humano da verdade é descartado.
O professor espiritual não é um mentalista. Ele nunca se intromete na mente de seu aluno, nem jamais tenta influenciá-lo, nem mesmo para o bem. O trabalho do professor é o trabalho puramente espiritual de fazer contato com Deus, e depois deixá-lo aparecer a seus alunos, conforme Ele assim o desejar.
O destino final de um estudante tem que ser realizado em sua Consciência. É verdade que ele pode se beneficiar de um professor ou de livros. Os livros, por si mesmos, no entanto, não farão uma demonstração: eles são apenas ferramentas ou instrumentos para seu uso, conforme ele atravessa seus períodos de Meditação Contemplativa.
Quando ele está em prece e comunhão naquele Santuário Interior, dentro de si, lá a transição ocorre, a Palavra é ouvida e, finalmente, a União Indissolúvel é revelada.
Por exemplo, hoje sou um professor revelando a Verdade, mas se amanhã eu passar pelo que chamamos de “morrer”, e então minha presença física deveria deixar este mundo, isso não me afastaria. Meu Eu ainda estaria aqui. O que seria feito do meu corpo faria pouca diferença, porque o Eu de mim ainda estaria aqui e ainda poderia ensinar, se aqueles que buscam esse ensinamento puderem perceber que não há morte: estamos separados da visão física, mas não da Comunhão Real.
Se realmente acreditamos na Imortalidade, sabemos que Lao-tse, Gautama, Jesus e João ainda estão atuando, mas porque não podemos estar cientes de qualquer coisa fora da nossa Consciência, o único lugar onde eles podem atuar é justamente em nossa Consciência: eles não podem estar no céu e eles não pode sair pelo espaço. É perfeitamente possível, portanto, para qualquer grande professor ser nosso professor, até que tenhamos completado nosso acesso à Fonte, à própria Fonte, sem mediação.
Muitas pessoas recebem transmissões deste modo, sem sequer saberem que têm um professor, porque nem todos os professores se anunciam ou se revelam: eles simplesmente trabalham através da Consciência do indivíduo, em um sentido completamente impessoal. Se estamos tocando o próprio Eu, ou se há mediação, isso não tem importância. Se as comunicações estão vindo através de um professor, elas estão vindo da Fonte – não do professor, apenas vêm através do professor. Nenhum mestre poderia ser um mestre, se ele não fosse Um com a Fonte.
Há uma ligação invisível nos conectando com todo Ser Espiritual, pessoa, atividade, pensamento e coisa em todo o mundo. Através da percepção disso, estamos instantaneamente sintonizados com a Consciência Espiritual daqueles que viveram ao longo de todo o tempo. Nós estamos instantaneamente em Unidade com a Consciência Espiritual de todos os que atuam na Terra, e de todos aqueles que ainda não nasceram. Cada um existe aqui e agora. Mas onde é aqui? Estamos falando sobre um quarto ou sobre a Consciência? O Eu de nós não está e nunca pode estar em um quarto. O quarto em que nosso corpo está, está em nossa Consciência. É isso que nos torna conscientes disso. Então, se estamos em sintonia com os mestres inspirados de todas as idades, nós os temos conosco neste momento, em nossa Consciência.
Nesse ponto, há uma tremenda revelação: nunca estamos sozinhos. Assim como atraímos para nós a companhia que merecemos em qualquer dado momento, também em nossa vida invisível há companheirismo. Como Jesus podia conversar com Moisés e Elias, a quem ele reconhecia como grandes mestres e videntes espirituais, nós também temos hoje aqueles que são nossos companheiros no Caminho Espiritual. Você tem o seu e eu tenho meu – e se assim é, acordemos para a percepção de que nenhum deles morreu, que o nosso próprio Mestre está conosco, nosso próprio professor está dentro de nós. Seu professor pode ser um homem ou uma mulher vivendo neste parêntese particular, ou seu professor pode ser uma Presença e um Poder invisíveis. Essa é a Vida Mística.
Essa comunhão é sempre com um estado Divino de Consciência, não com uma consciência humana existente em outro plano. Independentemente de quantas gerações se passaram, a possibilidade de contato existe, porque simplesmente possuir uma forma diferente não mudaria a situação. Nós não estamos limitados a um corpo; nós não existimos como uma fisicalidade, mas sim como o Eu que somos, aquilo que nós sabemos Ser.
Se eu quiser comungar com você, tenho que fechar meus olhos, desligar-me da aparência, e ir fundo dentro da minha Consciência. Lá eu encontro o que você realmente é – a Alma, o Filho Divino de Deus, o Eu que vive no seio do Pai e nunca saiu do Pai.
Nós não temos que ir mais além do que nos voltarmos para o Eu dentro de nós para recebermos comunicados de Verdade e de Sabedoria da Fonte, uma vez que Eu sou Um com a Fonte. Na mesma cadeira onde estamos sentados, estão ambos, o Pai e o Filho – Deus Pai e Deus, o Filho. Temos apenas que nos voltar para dentro e o Eu que é o Pai começa a se revelar, Sua Verdade, Sua Sabedoria.
Então, se essas transmissões não vierem na forma de palavras ou pensamentos, não faz diferença: elas ainda aparecerão como efeito. Nós podemos não ter consciência de que algo aconteceu, mas quando nos voltamos para dentro de nós mesmos e entramos em um estado de receptividade, podemos ter a certeza de que algo acontece no visível.
Nunca nos esqueçamos de que não precisamos sair procurando mestres, ou girando e girando em nossa mente, tentando encontrá-los. O que temos a fazer é buscar o Reino de Deus, desejar a Consciência de Deus e a Sabedoria de Deus, e se isso tiver que vir para nós através dos inspirados por Deus, eles nos encontrarão. Pode nem ser necessário que conheçamos a identidade daqueles que estão destinados a nos guiar.
Há muitos homens e mulheres inspirados e iluminados na Terra que desconhecem totalmente a identidade ou fonte individual de sua inspiração e força. Outros estão conscientes de identidades específicas, mas eu nunca soube que alguém que tem essa Consciência tenha procurado isso. Foi a Graça de Deus que o trouxe.
Se buscarmos Iluminação de qualquer ser menor que Deus, certamente podemos ser desviados para a idolatria. Mas se nós a buscamos em Deus, e ela vem através de um instrumento de Deus, através de um iluminado de Deus, aí não há idolatria nisso, e não há personalização disso. Se nós entendermos que os mestres são apenas aqueles indivíduos que, por sua preparação, foram iluminados por Deus, não vamos adorá-los: vamos apreciá-los, e seremos gratos por serem eles instrumentos através dos quais Deus revela-se a nós. Se os vemos como algo separado de Deus, no entanto, podemos cometer o erro de adorá-los como mestres, e isso pode levar-nos a problemas, justamente como se nos dedicássemos a adorar professores humanos neste plano, em vez de compreendermos qual é a sua função e o que os torna professores.
Os professores não são professores por si mesmos: são professores por causa de uma preparação que vem acontecendo ao longo de muitas vidas, que fez deles transparências através das quais Deus, a Verdade, pode ser revelado à consciência humana.
Quando entendemos os professores nessa luz, somos gratos a eles pela vida que levam, mas nunca iremos tão longe a ponto de adorá-los; e quando eles passarem da nossa experiência pessoal, nós não sentiremos que algo foi tirado de nós. Em vez disso, nós entenderemos que, a partir de então, a Verdade virá diretamente para nós de dentro do nosso próprio Ser, ou se ainda não alcançamos esse estágio, outro professor ou mestre nos encontrará.
Então, se o nosso professor particular está neste plano ou outro, nós só podemos entendê-lo corretamente se entendermos que ele chega a nós como um instrumento através do qual Deus, a Verdade, pode nos alcançar. Então, se por acaso nos tornamos conscientes de alguém agindo como um instrumento a partir de outro plano, e se, através desse contato, o fruto for bom, não precisamos temer, mas sim recebê-lo. Se, por outro lado, alcançamos um reino, em outro plano, composto de bem e mal, podemos saber que tocamos apenas o plano humano, seja aqui ou lá.
O verdadeiro professor sabe que Eu já “é” antes de Abraão, e que Eu estarei com você até o fim do mundo. Que sejamos incapazes de ver esse professor ou esse Eu com nossos olhos humanos não faz diferença, porque o Eu não é uma fisicalidade: Eu Sou Espírito; Eu Sou Consciência; Eu Sou a Vida Eterna, e se podemos entender isso, então, onde o Eu do professor está fisicamente nunca nos interessará, pois Eu sempre estará onde estamos, até o fim do mundo, até o fim dos tempos. Eu estarei onde estamos, mas na medida em que o Eu do professor seja o Eu de nós, podemos ter esse Eu individualizado onde estivermos, sabendo que o Eu do nosso ser está onde o Eu do professor está: nós somos inseparáveis, e somos indivisíveis.
Em um determinado momento, quando todos os requisitos necessários são cumpridos, a Luz da Consciência do professor ilumina o estudante, e então o aluno entra em plena consciência de sua Verdadeira Identidade e tem uma experiência transcendental.
Quando isso tem lugar, o aluno é tão livre e independente quanto o professor, e é livre na plena e completa realização de sua Verdadeira Identidade e da identidade de cada homem, mulher e criança no mundo.
Através deste olho espiritual desenvolvido, vemos o coração de um indivíduo e o coração da natureza: o coração de uma folha, de uma flor e até o coração de uma pedra. Não existe matéria morta. Tudo é vivo e respira, e tudo o que existe tem alma. Há alma nas pedras, e há alma nas árvores, mas essas almas são uma única Alma interpretada em diferentes níveis. Vista materialmente, uma pedra é uma pedra. Vista mentalmente, uma pedra pode ser uma arma. Vista espiritualmente, uma pedra é realmente uma pequena centelha de Deus – uma jóia, uma gema – e estranhamente, é incorpórea: tem forma, estrutura, cor, e beleza, mas não tem densidade. Então, sobre a árvore: uma árvore tem forma, luz, beleza, cor, graça, mas não tem densidade quando percebida através da Consciência Transcendental.
Nenhum homem de si mesmo pode conceder o Espírito Santo a outro, mas como instrumento de Deus, o professor torna-se a transparência através da qual Deus alcança a consciência humana, eleva-a e purifica-a, eleva-o do solo pedregoso e estéril ao solo fértil.