LIBERE DEUS
Somente os muito corajosos podem embarcar na Jornada Espiritual, e somente aqueles de grande força e visão podem esperar continuar nesse Caminho.
Traduzido por Giancarlo Salvagni – Observações em vermelho e frases ou palavras grifadas por Jeff Trovão
Há cerca de vinte séculos atrás, o Mestre deixou claro que o caminho era reto e estreito, e são poucos os que entram. Isso é verdade, confirmada pelo fato de que, até o presente, muito poucos foram capazes de permanecer e continuar a seguir o Caminho Espiritual. Não é fácil superar a superstição, ignorância e medo, e, apesar dos prejuízos e primeiros fracassos, firmar-se na busca de novos horizontes.
Não podemos adotar novas ideias enquanto ainda nos prendemos às desgastadas crenças do passado: devemos renunciar aos nossos velhos conceitos. É aqui que entra a coragem e a ousadia. É preciso coragem para deixar para trás tudo o que provou ser insatisfatório em nossa experiência. É preciso coragem para olharmos para nós mesmos objetivamente e perguntar: eu adorei sinceramente a Deus? Em alguma medida, eu vivi minhas convicções sobre Deus?
Quando nos voltamos para a busca de Deus, deveríamos ser firmes o suficiente para perguntarmos a nós mesmos: estou satisfeito com as respostas às preces que foram dadas ao mundo? Acredito que a verdade que foi revelada é toda a Verdade que existe?
Ou eu estou buscando por algo desconhecido, exceto por uns poucos místicos que vivenciaram a Verdade, tentaram transmitir seu conhecimento, muitas vezes falharam e então seguiram seu caminho? A herança do homem é a Liberdade Espiritual e, se a revelação de Jesus não nos ensinou outra coisa, então somos designados para viver na plena Liberdade do Espírito como Filhos de Deus, e não como prisioneiros da mente e do corpo.
Liberdade não é uma condição da mente e do corpo, mas da Alma. Se não acharmos nossa Liberdade na alma, então só encontraremos limitação e dependência em nossa vida. A Liberdade não pode ser dada a uma nação ou a uma raça, ela deve primeiro ser realizada no ser individual, e aí sim ela poderá ser compartilhada com aqueles que necessitam dela.
Nada externo a nós pode nos limitar ou deter, pois nossa Liberdade deve primeiro acontecer em nossa Consciência, e isso ninguém pode impedir, porque, afortunadamente, ninguém pode ler nossos pensamentos, olhar em nossa Consciência, ou saber o que passa por nossa alma. E tanto é assim que, seja lá onde estivermos – em casa, na rua, no trabalho – podemos realizar essa transição da escravidão dos sentidos para a Liberdade de nossa alma. Tudo isso acontece dentro de nossa Consciência.
Há aqueles que reclamam que não podem encontrar essa Liberdade porque não têm tempo, mas não há falta de tempo: isso é apenas uma desculpa. Outros dão a desculpa da falta de dinheiro; outros, falta de visão e audição. Mas todas são desculpas, meras desculpas.
Algumas pessoas reclamam que não podem estudar a Sabedoria Espiritual porque não podem comprar livros. Mais uma desculpa! As livrarias públicas desta nação e de muitas no mundo são cheias de livros e ensinamentos de todos os tipos. Leva apenas uns poucos minutos para telefonar e saber quantos informativos e livros inspiradores existem numa biblioteca e em lojas de livros usados (a realidade do autor é dos anos sessenta – uma disponibilidade incrivelmente menor do que a nossa, no terceiro milênio, com a internet – nota do trad. G. S.). Quem usa essa inabilidade de comprar livros como desculpa para não estudar só está tentando fugir de ser ensinado, ou garantir que não será ensinado.
A Liberdade é alcançada dentro de nós, e não depende de tempo, dinheiro, saúde ou relacionamentos – nem mesmo estando sujeito a países que fizeram leis contra a religião.
O que eu quero dizer é que, se estamos presos pelo pecado ou doença, por qualquer forma de limitação, seja física, mental ou moral, financeira, a Liberdade é nossa, desde que queiramos romper esses padrões. Mas não pode ser um desejo tímido, somente a esperança tipo “oh, eu queria ser livre; eu queria ser como outras pessoas; eu queria saber o que outros sabem, eu queria ter a educação que eles têm“. Quantos álibis, quantas desculpas! Há educação disponível para todos, da escola elementar a cursos em universidades, e isso sem nem sequer assistir as aulas pessoalmente. Existe uma liberdade física, mental, moral e financeira suficientes para todo aquele que realmente deseja a liberdade. Sem esse impulso, nada pode ser alcançado. Se queremos atingir as alturas, deve haver tal aspiração pela Liberdade que seja verdadeiramente um entusiasmo, em vez de sentar, desejar, esperar e reclamar que não conseguimos alcançar. Nenhuma pessoa ou condição exterior podem nos deter. Podem nos atrapalhar por um ano, ou cinco, ou dez, enquanto lutamos, trabalhamos e rezamos por Liberdade, mas eventualmente a Liberdade vem, não importa qual a forma de limitação.
A única coisa essencial para a Liberdade é o desejo de ser livre – nada mais – porque o desejo de ser livre faz com que os meios para isso revelem-se por si mesmos. Já foi dito que quando o discípulo está pronto, o mestre aparece, às vezes como uma pessoa, às vezes como um livro (que é também uma pessoa, uma Consciência individualizada – nota do trad. G. S.); mas se não há nenhum outro modo, quando o desejo é suficientemente profundo, o mestre aparecerá internamente, porque há tantos mestres espirituais no plano interior quanto no exterior, se não houver muito mais.
A Liberdade vem quando podemos romper as limitações da mente, quando não tentamos rebaixar tudo a um significado ou confinar cada afirmação a significar sempre a mesma coisa. Palavras, às vezes, parecem contraditórias, mas isso é porque significam uma coisa hoje, outra diferente amanhã, e são usadas de modos diferentes.
As coisas verdadeiras da vida não podem ser restringidas. A Liberdade não se limitará a uma palavra. É como a Paz, é como a Alegria: sabemos o que são, mas não podemos descrevê-las ou explicá-las, porque não são confináveis a uma palavra ou frase. Como pode alguém explicar o que o salmista quis dizer com “o abrigo secreto do Altíssimo”? O que é isso? Onde é isso? Isso é um lugar? Algum lugar mais alto? Será que o “abrigo secreto do Altíssimo” está localizado no tempo e espaço? Paulo disse: “porque Nele vivemos, nos movemos e existimos”. Como podemos descrever o lugar onde vivemos, se vivemos em Deus? Onde é isso, qual seu clima?
Somos instruídos a abrir nossas Consciências. Como abrir nossas Consciências? Como se parecem quando abertas? E quando fechadas? Quando falamos em voltarmo-nos para dentro, fechando a porta e entrando no Santuário, onde é o Santuário? Em nossa casa? Na igreja? Em algum lugar que não seja a Consciência? Tudo isso são apenas palavras, e se tentamos dividi-las em seu significado, nós as perdemos. Digamos que elas são poesia. Sim, elas são, e nunca encontraremos o Reino de Deus sem poesia.
Devemos deixar a imagética e a poesia ter seu caminho em nós, e não tentar confinar a nós mesmos nos significados literais das palavras. Libertemo-nos das limitações de palavras prontas e preces prontas e aceitemos a poesia e as imagens da alma, aceitemos nossa Liberdade em Deus – sem perdê-lo por analisar e dissecar cada palavra.
Por muitos anos eu procurei uma palavra com a qual pudesse capturar o que eu tentava ensinar, e isso durou muito, e eu não encontrava. O que chegou mais perto de expressar o significado que eu queria foi a palavra “Cristo“, mas se tentarmos rebaixar o termo, tentando adequá-lo a um significado, nós o perdemos. O que o Cristo significa não pode ser reduzido a palavras ou termos (por isso mesmo, muitas vezes encontramos palavras com letras maiúsculas em seus livros, que pressupõem um significado transcendente – nota do tradutor – G. S.).
Se podemos aceitar o Cristo, se podemos abrir-nos para recebê-lo e descansar nele, Ele vai agir em nós e através de nós. Se tentarmos compreendê-lo ou explicá-lo, nós o perderemos. Não podemos rebaixá-lo, para confiná-lo em nossa mente. Ninguém jamais teve uma mente enorme o suficiente para conter o Cristo; ninguém jamais teve uma mente tão grande para abraçá-lo, ainda que a alma humana possa vivenciá-lo. Mas devemos querer vivenciá-lo, e então deixá-lo ir. As experiências vem, de novo e de novo, e se vão. Quando vão, deixamos que se vão, porque não é possível a ninguém viver nas nuvens vinte e quatro horas por dia. A quem muito foi dado, muito será cobrado. Então, quando recebemos um raio dessa Luz Espiritual, temos que descer até o vale e compartilhá-la com outros que a procuram.
A Liberdade Espiritual é alcançável por qualquer um de nós. É nosso direito de nascimento. Cada pessoa na terra, seja branca, amarela ou negra, amiga ou inimiga, cristã, judia, muçulmana ou budista, tem direito à Plenitude da Vida. Mas a realização dessa Plenitude Espiritual não vem facilmente, e nem rapidamente. A questão principal é se o desejo por isso torna-se o significado final da vida, ou se estamos querendo realiza-lo somente em nosso tempo livre, porque ela não vem desse jeito. Isso envolve esforço e dedicação.
E por que, então, não desfrutamos dela? Somente por causa de nossa ignorância de Deus e ignorância de nossas preces, pois, quando conhecemos Deus como Ele é, quando compreendemos como rezar e rezar sem cessar, descobrimos que nenhum dos males da terra podem chegar até nossa morada, nosso abrigo.
Isso requer firmeza e ousadia para liberar Deus, reconhecer que não conhecemos Deus e que não sabemos como rezar. Isso requer a coragem de considerar o antigo como feito e buscar o novo, provando que podemos viver como as crianças de Deus, como o Templo de Deus, glorificando-o.
O primeiro tanto de coragem é reconhecer que nunca realmente oramos a Deus. Ao invés disso, sempre oramos a um conceito de Deus, um conceito vindo de nossos pais, igreja ou de livros. Entretanto, não foi Deus que foi revelado a nós: se Deus tivesse sido revelado a nós, estaríamos agora vivendo como Filhos de Deus, e nossas preces seriam respondidas desde há muito. Ninguém pode negar que, na Presença de Deus, há Plenitude de Vida. Quem seria tão presunçoso de negar que, “onde está o Espírito do Senhor”, há Plenitude e Liberdade, Liberdade de todas as discórdias da vida? A menos que neguemos isso, devemos estar dispostos a admitir que é verdadeiro; e se é verdade, teremos que confessar para nós mesmos: “não conheci Deus: eu conheci e aceitei um conceito de Deus para o qual tenho rezado, mas esse conceito de Deus é apenas uma imagem em minha mente, um pensamento, uma crença, uma ideia”. Admitir isso requer coragem.
Se Deus é infinito, deve ser auto-evidente que Deus não pode ser contido dentro da mente, a menos que continuemos acreditando que um conceito de Deus em nossa mente é que seja o Deus Infinito. Se o Espírito de Deus estivesse tão próximo de nós para estar dentro de nossa mente, seríamos realmente as crianças de Deus, e como tal, seríamos separados desta terra. Mas, ao invés de termos o Espírito de Deus, temos somente um conceito de Deus, um conceito que supõe Deus como um homem de longas barbas brancas, sentado em uma nuvem, ou um homem pendurado na cruz, ou uma centena de conceitos diferentes. E o que fazemos? Oramos para essas imagens em nosso próprio pensamento e esperamos receber respostas delas.
E isso é sensato, é razoável?
Nenhuma imagem que possa ser concebida na mente jamais será Deus. Nenhum conceito de Deus elaborado pelo homem tem o poder de responder preces. Então, não será o primeiro passo a ser tomado pelo buscador o reconhecimento de que Deus é grande demais para ser abarcado pela mente e pelo corpo?
“Não farás para ti nenhuma imagem”… “Não te curvarás a elas e nem as servirás”. Qual a diferença se a imagem esculpida for externa a nós ou uma imagem no pensamento?
Continua sendo uma imagem esculpida, que nós mesmos escavamos em nosso pensamento. Desistamos das imagens gravadas, não tenhamos mais imagens de Deus, e nem crenças do que Deus é. Ninguém sabe o que Deus é, mas se pensamos em Deus como Onipresença, estamos livres de conceitos, porque, se Deus “é”, Ele tem que ser aqui, lá e em toda parte. Não há lugar onde Deus não esteja, ou Ele não seria o Ser Infinito. Se pensamos em Deus como Onipotência, não estamos construindo uma imagem de Deus: estamos simplesmente afirmando que Deus é o Único Poder que existe, o Todo-poderoso, o Poder Onipresente. Se pensamos em Deus com Onisciente, aí também não estamos construindo uma imagem de Deus no pensamento: estamos simplesmente reconhecendo que não poderia existir Deus, se Sua Natureza não fosse Inteligência Infinita. Infinita Inteligência, Todo o Poder, Toda a Presença! E ainda assim, não temos uma imagem no pensamento, não estamos criando um Deus à nossa imagem.
Definitivamente, todo o conceito de Deus que temos precisa ser descartado – toda imagem, toda crença. No momento em que pensamos na Onipotência, Onipresença e Onisciência, não temos tempo, espaço ou local, e nem há qualquer tempo, espaço e local onde possa haver a ausência de Deus. Alguns podem gritar “vocês levaram meu Senhor para longe, onde o enterraram?” Oh sim, sim, nós o fizemos, e esse é um lugar saudável para se estar: o lugar de onde o Senhor foi tirado de nós. Mas era mesmo Nosso Senhor? Ou era nosso conceito do Senhor que foi tirado de nós?
Não pense nem por um minuto que cada um de nós não é culpado por ter criado um Deus, e depois ter que ir a Jerusalém procurar por Ele, ou a Roma, Meca, ou qualquer outro lugar. Nós o fizemos: isso é parte da natureza humana; é parte da crença de que somos homens e em alguma parte há um Deus – mas ah, se pudéssemos ao menos ter os dois juntos! Originalmente, isso era parte do paganismo, construir uma imagem mental do que Deus é, e então sair e tentar encontrá-lo. Mais tarde, esse sentido de separação de Deus passou a ser abordado pelos ensinamentos do Cristianismo.
O iniciante que pensa em Deus como algo muito distante, talvez acreditando só pela metade que há realmente um Deus, deveria ser guiado para o reconhecimento de que Deus existe, e é de Seu agrado dar-lhe o Reino. Mas isso é realmente uma armadilha na qual ele está caindo, porque, quando ele acredita que Deus existe e que Deus está dentro dele, então depois, quando ele está maduro, dizemos a ele: “agora, livre-se disso.
A imagem era boa para ontem, mas hoje atiremos todas as imagens fora.
“Você quer dizer que não há um Deus, não há um Deus dentro de mim, nem acima de mim, e nem há um Deus aqui comigo?” “Não, não é isso que eu quero dizer. Estou dizendo que Deus está tanto dentro quanto fora, tanto acima quanto abaixo“.
Nós agora estamos fazendo uma transição, adquirindo uma imagem melhor na mente do que tínhamos antes, mas somente para o propósito de conduzir-nos, passo a passo, ao momento em que poderemos dizer “Agora, fique quieto, silencie e saiba”. Isso é tudo -silencie e saiba, mas não que saibamos alguma coisa, porque qualquer coisa que conheçamos será incorreta, apenas um objeto do sentido, um objeto na mente.
Deus “É”! Isso é suficiente para se saber. Sem imagens! Sem conceitos! No momento do não saber, do desconhecimento – mas não num momento de vazio, de embotamento ou adormecimento – mas em vibrante vivacidade, Deus é experimentado. E então, descobrimos que, através dessa experiência, vivemos, nos movemos e temos nosso Ser em Deus, e Deus em nós.
Mente e corpo não podem conter Deus, e Ele está tão além de nossa imaginação que ninguém pode desenhar, pintar ou manter ideias mentais ou conceitos do que Ele realmente é. Tudo o que podemos fazer é declarar de todo coração e alma que Deus “é”.
Somente Deus mantém e sustenta os céus, o sol, a lua e as estrelas em suas órbitas.
Somente o que está além da capacidade do homem de conceber poderia demonstrar tal sabedoria, como é evidenciada pela engenhosidade do homem em sua descoberta dos princípios que geraram as invenções, como o automóvel, o avião, rádio, telefone, televisão, foguetes espaciais e energia atômica. Somente do armazém de Deus poderia tudo isso emanar.
Quem pode exercer sua imaginação o suficiente para conceber o que Deus é, o Deus que é a Fonte de tudo o que existe no céu, no ar, na terra e nas profundezas das águas?
Nós, criaturas terrenas, estamos conscientes de apenas um minúsculo canto do universo, um pequeno grão chamado Terra, mas o que mais deve ser a Sabedoria de Deus, que engloba incontáveis planetas, sóis, luas e estrelas deste ou de outros universos? (“outros universos” eu penso que deve ser entendido aqui como uma “licença poética”, porque sendo infinito e sendo o corpo de Deus, só pode haver, a rigor, UM uni-verso… Se não for UM, não será o universo que será dois ou três ou qualquer multiplicidade, mas sim nosso conceito dele – nota do tradutor – G. S.).
Pense nas descobertas e invenções dos séculos passados, e então lembre-se de que um século inteiro não tem mais importância ou significado na mente de Deus do que um único grão de areia nas praias do mundo todo. Pense no que ainda há por ser revelado!
Pense nas maravilhas que já existem e têm sua existência desde que o tempo começou, somente esperando por serem reveladas!
Depois de vermos o quanto é tolo agarrar-se a um conceito de Deus, vamos a um segundo ponto de sabedoria, e vejamos o quanto é tolo dizer a Deus do que precisamos ou tentar influenciá-lo através de nossas preces para que Ele atenda nossos desejos, como se ele tivesse a capacidade de deter o bem ou como se ele fosse algum tipo de ser humano com poder de dar e tomar. Como é limitado o nosso conceito de Deus, se acreditamos que temos o poder de influenciá-lo para fazer por nós o que já não esteja fazendo; e como deve ser finito nosso sentido de Deus, quando vamos a Ele com nossos desejos insignificantes, ou nos aproximamos dele com qualquer intenção, exceto por pedir por mais Luz, Graça e Sabedoria para um entendimento de Seus Caminhos, Suas Leis e Sua Vida.
Quando oramos, deveríamos libertar Deus de qualquer obrigação pessoal em relação a nós, libertá-lo, no entendimento de que confiamos que Ele criou este universo e mantém e sustenta a Si Mesmo e Sua Criação, de que confiamos em Sua Infinita Sabedoria para cuidar de todas as suas coisas, e em Deus e Seu Divino Amor para cuidar de Si Mesmo.
Ao fazermos isso, estamos libertando Deus, e assim, não mais tentando canalizar Deus na direção dos nossos desejos pessoais. Realmente, vamos descobrir que, na verdade, não podemos libertar Deus, já que Deus jamais esteve aprisionado em nossa mente ou em nossos desejos, nem jamais foi ele obediente à nossa vontade. Deus não mudará Seus Caminhos para nos beneficiar ou abençoar: nós é que devemos mudar nossos caminhos para receber a Graça de Deus. Não podemos trazer Deus para nossa desobediência e ignorância, mas podemos nos tornar obedientes e espiritualmente sábios.
Desistamos de toda tentativa de usar Deus e de toda expectativa de que Deus faça nossa vontade ou atenda nossos desejos, e então nos rendamos a Ele: Não a minha vontade, mas a Tua Vontade seja feita em mim. Eu não peço que atendas a meus desejos, minhas esperanças ou ambições, e sim que eu preencha a Tua Vontade,
Tua Graça e Tua Direção.
Nunca me falhaste, mas agora, Pai, diz agora de que modo eu falhei contigo. Nunca mais te pedirei que faças algo por mim. Usa-me. Preenche a Ti Mesmo em mim. A Tua Vontade seja feita em mim.
Liberta-me, Pai, de todos os desejos, esperanças e planos. Deixa-me ser obediente para com Teu plano para mim. Mostra-me claramente por qual caminho devo seguir, e eu Te prometo seguir a Luz, conforme vai sendo dada a mim.
Devemos soltar Deus e deixar que Deus nos use. Precisamos liberá-lo de nossas garras mentais, parar de nos pendurarmos em Deus, e deixar que ele se apegue em nós. Se somos ignorantes de Deus e Seus Caminhos, tornemo-nos espiritualmente sábios. Se somos voluntariosos e desobedientes às Leis de Deus, sejamos corretos, trazendo-nos em sintonia e alinhamento com Suas Leis, para que o dedo de Deus possa nos tocar, com Sua Vontade e Sua Graça. No momento em que relaxamos e paramos de tentar trazer Deus para nossa mente e nosso corpo, nesse momento descobrimos que Ele sempre esteve aí.
Deus fez uma aliança com Sua própria imagem e semelhança:
Não temas! Não temas! Se andares através do fogo, as chamas não te alcançarão; se atravessares a água, não afundarás. Não temas! Segue confiante! No silêncio e na confiança, realizarás tua Filiação Espiritual.
Minha Paz Eu a dou a ti. Não vês que não há necessidade de lutares, nem de teus esforços mentais, ou de tentares moldar Minha Vontade à tua? Minha Paz eu te dou, a Minha Paz, esta é a dádiva que Eu te dou, uma Dádiva Espiritual, de Paz Espiritual.
Somente deixa acontecer!
E ainda algumas vezes há um estresse mental, como se isso não fosse verdade, como se tivéssemos que fazer com que fosse verdade, ou como se tivéssemos que cortejar Deus. A mente luta para “ter” Deus, ao invés de deixar Deus “ser”, enquanto, durante todo o tempo, a Presença nos envolve e nos acolhe.
Não podemos esperar que Deus faça a nossa vontade, mas isso não nos deixa sem esperança. Ao contrário, isso nos dá coragem e força, porque sabemos que não há necessidade de alcançar Deus para convencê-lo, influenciá-lo. Quando aprendemos isso, percebemos que, em vez de liberarmos Deus, teremos liberado a nós mesmos de nossos conceitos limitados de Deus, das nossas superstições ignorantes sobre a prece, e da crença pagã de que sabemos mais que Deus e temos mais amor que Deus.
Quando oramos por nós mesmos ou por nossos próximos, nós evidentemente pensamos saber, melhor do que Deus, qual a nossa necessidade ou do que nosso próximo precisa, e mais ainda, que temos o amor de querer para o nosso próximo o que ele precisa, acreditando, porém, que Deus não sabe quais as necessidades, e nem tem amor para querer atendê-las. Mas no fundo do coração, sabemos que isso não é verdade, mesmo quando se trata do contexto humano. E mesmo que seja no contexto humano ou não, não é por aí o caminho. Deus não é o servo do homem, e Deus não age de acordo com o que o homem pensa que Ele deveria ser ou fazer. Se coubesse ao homem guiar os acontecimentos do mundo, todos os seus amigos e parentes seriam abençoados, e todos os inimigos amaldiçoados. E então amanhã, se o seu inimigo se tornasse amigo, o procedimento mudaria totalmente: começaria a rezar pelo inimigo que agora teria se tornado amigo, e passaria a amaldiçoar o amigo, que teria se tornado inimigo.
Deus não é assim. Deus não é volúvel como nós somos. E nós precisamos desistir desses conceitos infantilizados de Deus e crescer na Maturidade Espiritual, sem tentarmos dizer a Deus como Sua Graça deveria ser e quando atuar, mas nos acalmarmos, na confiança de que Sua Graça é nossa suficiência, libertando-nos da ideia absurda de que podemos convencer Deus para que faça por algo por nós, se for de Seu agrado.
Libertemo-nos no ritmo de Deus, e assim tornemo-nos parte do ritmo deste universo. O Mestre nos deu instruções explícitas, ao dizer: “não vos preocupeis com vossa vida… é do agrado do Pai dar-vos o Reino” – é do agrado do Pai dar-nos a Vida Eterna. Não se preocupe pelo seu sustento. Não se preocupe pela paz na Terra, pois é do agrado do Pai dar-nos a Paz na Terra.
Sigamos o ensinamento do Mestre. Desistamos de acreditar que nossa sabedoria é maior que a de Deus, ou que nosso amor é maior que o Amor de Deus, e em silêncio, aceitemos a Graça de Deus. O silêncio é a única e verdadeira forma de oração. Sim, é verdade que podemos usar palavras e pensamentos para elevar-nos numa atmosfera na qual podemos então silenciar. Nesse caso, as palavras e pensamentos que estamos usando não são preces, são meramente auxiliares para nos erguer às alturas, onde a verdadeira prece pode ser experimentada. Se a prece é efetiva, frases e pensamentos que empregamos no início devem cessar, para que possamos nos recolher em nosso interior, nesse estado: “fala, Senhor, teu servo escuta!” Se isso vai levar um dia, um ano ou muitos anos, é imperativo que tenhamos esses períodos de silêncio, até que ouçamos dentro de nós a “pequena e silenciosa Voz“, sentindo a Presença e Seu Poder.
Não temos que ir a nenhum lugar para encontrar Deus: trazemos Deus dentro de nós, não em nossas mentes ou corpos, mas ainda assim, o Reino de Deus está dentro de nós. Deus constitui nosso Ser; Deus constitui nossa Vida; portanto, nossa vida é tão eterna e imortal quanto a Vida de Deus, pois só há uma Vida. Deus constitui nossa Consciência; portanto, nossa Consciência é a mesma que a de Deus, porque não há duas: há somente Uma. “Eu e o Pai Somos Um… Quem vê a mim, vê Aquele que me enviou”.
Só há uma Vida, a Vida Infinita; só há uma Consciência, a Consciência Infinita; só há uma Alma, a Alma Infinita. A Alma de Deus abrange o homem; a Consciência de Deus contém o homem; e a Vida de Deus é a vida do homem – não uma parte dela, mas ela toda.
Rezar corretamente, portanto, significa liberar Deus de qualquer obrigação de nos dar mais do que agora temos. A oração verdadeira é a percepção de que Deus constitui nosso Ser e nossa Vida. Deus é o Pai, e Deus é o Filho, e tudo o que Deus Pai é, Deus Filho também é; e tudo o que Deus Pai tem, o Deus Filho tem com Ele: todo o Domínio, a Graça e a Glória.
Rezar sem parar é se alegrar por todo o dia, porque a Graça de Deus está agindo em nós e através de nós, sem falar ou implorar a Deus, sem pedir ou desejar qualquer coisa, porque Ele já nos deu todo o bem, e nós temos que apenas perceber e demonstrar isso.
Procuramos todo tipo de poder no céu e na terra para satisfazermos nossas necessidades, menos um, e esse Um é o Poder que está dentro de nós. Esse Poder não está nos céus e não está na terra; ele não pode ser encontrado em um livro, em um templo ou em grandes mestres. Na verdade, está sim dentro dos grandes mestres, mas tanto neles quanto em mim ou em você, exatamente no mesmo grau, nem mais e nem menos. Somos todos iguais perante Deus; e a Graça de Deus, que foi espiritualmente dada a um, foi dada a todos. A única diferença é que uns poucos parecem ter acesso a ela, porque esses poucos aprenderam que o Poder de Deus manifesta-se no silêncio e na serenidade. É um Poder que não pode ser usado por nós, mas pode fluir por nós, se o percebermos e o reconhecermos.
Conforme caminhamos pela terra, percebendo que o Reino de Deus é interior, liberamos esse Poder e deixamos que ele flua para fora de nós, para o mundo; mas se tentarmos usar ou impor ao mundo o Poder de Deus, nós o perderemos. É quando nós percebemos, silenciosamente, pacificamente e confiantemente, que todo o Poder de Deus está em nós. Só precisamos nos aquietar e saber que o Deus que está no meio de nós é Poderoso, e aí então vamos para nosso trabalho diário, seja ele qual for: cuidar da casa, pintar, construir ou cuidar dos doentes. Fazemos tudo o que formos chamados a fazer, sempre percebendo que somos testemunhas da Glória de Deus e do Reino de Deus dentro de nós. Quando fazemos isso, o Espírito de Deus se faz sentir pela nossa própria presença, trazendo paz, conforto e elevação para outros, não porque queremos ser uma benção para nossos companheiros de jornada, mas simplesmente porque aprendemos a nos silenciar e deixar o Poder e a Graça de Deus fluir, sem qualquer ajuda nossa, sem forçar ou implorar, sem pensar que eu e você é que somos espirituais. Só há Um Espírito, que é Deus no meio de nós.
Estaremos desonrando a Deus se pensarmos que Ele está retendo e negando sabedoria, integridade, lealdade, fidelidade, justiça ou harmonia, a nós ou a qualquer pessoa.
Quaisquer qualidades que pareçam ausentes rapidamente começarão a aparecer, se aprendermos a honrar e amar o Senhor Nosso Deus de todo nosso coração:
Eu repousarei na certeza de que sabes, Senhor, das minhas necessidades, antes que eu mesmo o saiba, e que é do Teu agrado Dar-me o Reino. Eu não o buscarei: eu descansarei. Eu me libertarei de qualquer crença que possa separar-me de Ti. “Se fizer minha cama no inferno”, estarás lá comigo. “Se eu andar no vale das sombras da morte”, sei que estarás comigo. “Aonde eu for, Tu irás comigo, pois Tu e Eu Somos Um”.
Nosso reconhecimento e realização disso traz a Presença de Deus atuando na experiência individual. É importante lembrar que não há poder no céu ao qual possamos apelar para salvar o mundo de uma catástrofe. Não há nenhum poder, a não ser o que vem de Deus: não há poder no furacão, nem na tempestade, nem nos homens insanos, na ambição, na luxúria e na sede de poder. O Poder reside somente na pequena e silenciosa Voz Interior. Então, não diremos a ninguém o que temos aprendido, mas compartilhemos a Verdade com aqueles que, por sua dedicação e devoção, mostram estar prontos para isso, e assim estaremos liberando esse Poder Infinito para o mundo, e o mundo responderá.
Não temos que fazer ou pensar nada para liberar o Reino de Deus no mundo, temos apenas que ficar em silêncio e saber que Ele “é”. Ele fará seu próprio trabalho. Pode ser que a prática fiel dos Princípios da Vida Espiritual por “dez homens justos” aqui e outros dez ali libertem esse Poder de Deus para o mundo. Mas ninguém poderá tomar os créditos para si. O Poder de Deus sempre esteve disponível – essa é a Glória! E ninguém pode se gabar de poder usá-lo. Ao contrário, quanto maior o poder que flui de uma pessoa, menor a pessoa é como pessoa, e maior ela é como Filho de Deus. Dentro de nós mesmos, entretanto, saberemos que liberar Deus para o mundo traz Liberdade e Plenitude Espirituais para todos os que forem receptivos.
A Vontade de Deus, o Amor de Deus e a Lei de Deus são a Verdade toda-abrangente operando universalmente: para você, para mim, para o amigo, inimigo, santo, pecador, para o justo e o injusto. A atividade de Deus não é dirigida a você ou a mim, mas inclui você e eu: abraça todos os homens, por ser Toda-Inclusiva.
Não podemos trazer Deus para nossa mente e nosso corpo, Deus já é a vida de todo corpo; todo corpo é o Templo do Deus Vivo, seja animal, vegetal ou mineral. Nós estamos agora sob a Lei de Deus, sob o Amor de Deus, estamos no Ser de Deus; e não trazendo Deus para nós, mas trazendo a nós mesmos para Deus, e situando cada pessoa – santos e pecadores – em Deus.
Aqueles que se trazem a Deus são os beneficiários da Graça de Deus. Aqueles que tentam limitá-lo em suas mentes e corpos finitos perdem a Deus. Solte-o, e você o terá.
Quando libertamos a nós mesmos de todo esforço mental e deixamos que Deus tenha Sua Vontade aqui onde estamos e neste inteiro universo, libertamos Deus, e nós mesmos passamos a sermos livres. As correntes que nos prendem são mentais. É com a nossa mente que tentamos prender Deus. Se deixarmos nossa mente relaxar, perceberemos que não podemos segurar Deus, mas Deus pode nos segurar. Não podemos usar a mente para ter Deus. Nossa mente tem uma função, e ela pode trabalhar construtivamente em nossa vida, mas não tentemos usá-la para ter Deus.
Não existe esforço, a não ser na mente. Quando a mente está silenciosa, não há tensão e Deus torna-se uma Presença Viva: o Cristo, a Individualização e a Experiência
Individual de Deus, torna-se vivo em nós. Nós o sentimos como uma Presença, como um Manto que nos cobre. Libere Deus de qualquer obrigação e deixe Deus fazer as Suas obras.
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