O CÍRCULO DA ETERNIDADE – “UM Parênteses na Eternidade” Livro de Joel Goldsmith

DOIS MUNDOS
Traduzido por Giancarlo Salvagni –  Observações em vermelho  e frases ou palavras grifadas por Jeff Trovão

Existem dois mundos. Há “este mundo” e há o “Meu Reino”.

Há o mundo que podemos ver, ouvir, provar, tocar e cheirar, o mundo em que vivemos em nosso trabalho, nossa casa e nossa família; e há o mundo interior, onde vivemos quando o Cristo foi erguido em nós, o mundo dentro de nossa Consciência, onde estamos sós com Deus, e onde comungamos com o Filho de Deus. Por um lado, há o homem mortal, e de outro, o Filho Espiritual de Deus.

Paulo, que foi espiritualmente e interiormente ensinado pelo Mestre, descreveu o homem mortal como “a criatura”, “‘o homem natural”, que “não compreende as coisas do Espírito de Deus porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente”; e explicou que “todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são Filhos de Deus”.

Até que aprendamos sobre o homem que tem seu Ser em Cristo – o homem em que devemos nos tornar – nós somos esse “homem natural”, essa “criatura”, o mortal que precisa descartar essa mortalidade, o homem que deve “morrer diariamente“.

O progresso no Caminho Espiritual ocorrerá muito mais rápido, uma vez que for entendido que esse homem humano e mortal, essa “criatura”, esse “homem natural”, está totalmente cortado fora de Deus, não está nunca sob a Lei ou a Proteção de Deus, e nunca é governado ou sustentado por Deus. Se fosse, poderia existir assassinato, estupro, incêndio criminoso ou guerra? Poderia haver morte, se o homem fosse governado por Deus? Poderia haver enfermidade? Poderia um avião cair do céu e matar  todos os passageiros?

Se o homem fosse governado por Deus, não teriam as doenças diminuído? Mas não parecem ter aumentado? Para cada doença controlada, não parece surgirem duas novas, mais mortais que as anteriores? No entanto, todos os dias, milhões e milhões de preces sobem a Deus; e então, quando uma solução dos problemas de doenças da carne aparece, ela vem de Deus ou de um frasco de remédio, um antibiótico ou uma nova técnica cirúrgica? Os seres humanos não morrem de doenças horríveis e de acidentes trágicos? Deus interfere nisso?

Seres humanos sofrem terríveis injustiças nas mãos de outros; são governados por tiranos; ocorrem guerras e nem sempre os justos são os vencedores. Em todas as eras houve escravos e aprisionados. Basta olharmos para a história para saber há quantos milhares de anos este mundo tem sofrido com guerras, mesmo com cada geração sentindo, assim como nós, que as guerras são um engano, que não resolvem nada e que nada de bom pode vir delas. E toda geração não rezou pelo fim da guerra, e, em todos esses milênios, acaso houve respostas para essas preces? Não estão as nações de milhares de anos de história, apesar de seus povos rezarem a Deus todos esses anos, ainda mergulhadas em escravidão, ignorância e pobreza?

Nunca se soube que Deus fez algo por um ser humano enquanto ele está imerso nas “coisas da carne“. Uma falta de entendimento deste ponto faz com que muitos aspirantes do Caminho percam o alvo, porque eles estão sempre tentando conseguir que Deus faça algo a respeito de alguma coisa ou de alguém, mas Ele não faz. A despeito de quanto a humanidade possa sofrer ou se alegrar, a despeito dos homens estarem doentes ou saudáveis, ricos ou pobres, eles não estão sob a lei de Deus; não são alimentados, sustentados ou protegidos por Deus; e por essa razão, coisas trágicas acontecem à raça humana, e continuam acontecendo geração após geração, com uns poucos escapando do destino comum.

Não é o caso de se ensinar, tanto por Cristo quanto por Paulo, que essas experiências da raça humana podem ser evitadas; eles ensinaram a “sair dentre elas e estar… à parte“, e então dar frutos abundantemente. Esse era todo o propósito do ministério do Mestre -revelar ao mundo como sair dentre as massas e evitar as disputas, as privações, pecados e doenças que atormentam a humanidade.

Os seres humanos acreditam que podem somar espiritualidade à sua humanidade, e assim receber a Graça de Deus. Mas isso não pode ser, temos que “morrer diariamente“.

Temos que descartar o “homem velho”; temos que descartar a mortalidade e revestirmo-nos de imortalidade; tem que haver uma transição do homem da terra para o homem que tem seu Ser em Cristo; tem que haver arrependimento. Deus não se compraz da “morte daqueles que morrem… convertei-vos, pois, e vivei”. Deve haver uma mudança antes que possamos viver de novo.

A maioria de nós pensa que podemos nos voltar a Deus e o persuadirmos a nos dar algo, sem perdas, sem desistências, ou sem qualquer mudança. Esperamos adicionar imortalidade e Graça Divina ao nosso ser humano. Mas somente se o “homem velho” em nós “morrer“, pode o homem novo “nascer”. Somente se mudarmos nosso perfil, a harmonia espiritual pode começar a agir em nós e como nós.

Não é que Deus, o Espírito, vá fazer algo pelo homem mortal, material; é o homem mortal e material que tem que rejeitar sua materialidade para que a Identidade Espiritual possa ser revelada. É um contra-senso acreditar que os seres humanos estão sob a Lei de Deus, quando todas as orações inventadas pela humanidade jamais trouxeram paz na Terra, não eliminaram doenças e nem venceram o pecado e a pobreza do mundo. Foram as preces dos cristãos, dos judeus, dos hindus ou budistas respondidas? Por que não? O que está errado? Será Deus um discriminador de pessoas? Será Deus um discriminador de raças ou religiões?

Por milhares de anos, os seres humanos seguiram todo tipo de ritual, sem jamais aproximarem-se do Reino de Deus. Jesus deixou claro, quando advertiu seus discípulos, que sua retidão deveria ser ainda maior do que a de escribas e fariseus, porque, de todos os homens, esses eram os mais escrupulosos e rígidos seguidores da lei mosaica. E mesmo assim, Jesus pediu que a retidão daqueles que buscam o Reino de Deus fosse ainda maior que a deles. Eles devem entrar no silencioso santuário dentro de seu próprio Ser, e orar onde os homens não podem vê-los. Eles não devem apenas contribuir com o templo ou igreja: eles devem fazer benevolências, sem que ninguém saiba a respeito deles.

É fácil ser um humano cheio de problemas – parece ser a coisa mais fácil do mundo de se fazer. Mas não é fácil ser uma criança de Deus, espiritualmente livre de problemas.

Todo aquele que tenta viver o Sermão da Montanha e desistir do estilo de vida “olho por olho, dente por dente”, todo aquele que tenta “não resistir ao mal”, que tenta não responder ao mal com o mal, acha esse caminho muito difícil no começo. Isso porque, como seres humanos, não somos as crianças de Deus e nem estamos sob a Lei de Deus. Para sermos as crianças de Deus, há um preço a pagar, e o preço é “não resistir ao mal“; o preço é aprender a orar pelos inimigos, perdoando setenta vezes sete vezes; o preço está em se firmar na percepção de que nós, por nós mesmos, não somos nada.

(Esta parte de perdoar 70 x 7 não é fácil, muitos líderes religiosos que pregam fracassam logo de cara), e a ironia é que ninguém tem este poder, uma vez que o pecado, em sua essência é inesistente).

Ganhar o Reino de Deus é algo a ser realizado em nosso interior. Alguma coisa tem que ocorrer dentro de nós; deve haver uma lembrança consciente de que o Cristo habita em nós. Através dessa lembrança consciente de nossa Unidade com Deus, a Graça de Deus torna-se ativa, a Graça que nos traz coisas e experiências que seriam humanamente improváveis, senão impossíveis. Há uma diminuição de dependência de nossa mente, de nossa educação e de nosso bolso, e um aumento de confiança no Infinito Invisível. A Consciência é aberta para receber as coisas invisíveis de Deus, das quais todas as coisas visíveis são feitas.

Toda a Vida Espiritual tem a ver com uma atividade da Consciência, uma atividade da ConsciênciaI, minha e sua. Viver como o Filho de Deus, e não como um ser humano, significa habitar conscientemente na percepção de uma Presença Invisível. Significa viver conscientemente no conhecimento de que Deus é o Princípio que guia e sustenta nossa vida. Precisa haver uma mudança de base, precisa haver uma mudança de Consciência.

Não é Deus que vem à experiência humana: é o ser humano que tem que desistir da experiência humana, trocando-a por sua Identidade Espiritual.

Se uma pessoa é boa ou ruim, não é um fator determinante da descida da Graça sobre ela. Milhões de pessoas nunca alcançaram – e nem alcançam – seu Estado Espiritual, porque não é a bondade humana que o traz. O que realmente conta é o grau de devoção na busca por Deus. Quanto de fome e sede há depois da Verdade? Quanto se espera pela compreensão de Deus, para se chegar a Deus face a face? Não é a nossa vida exterior que conta. Não é somente tentando mudar a nós mesmos para humanos melhores que nos preparamos para a aceitação de nossa Identidade Espiritual. Ser humanamente bom não tem qualquer relação com “morrer diariamente”. “Morrer diariamente” é uma percepção de que estamos insatisfeitos com o nosso atual estilo de vida, insatisfeitos mesmo se temos suficiência econômica, boa saúde ou uma família feliz. Ainda assim há uma insatisfação, uma sensação de algo faltando em nós. Há uma inquietação interna, uma falta de paz, um descontentamento interior.

Sem essa fome e esse impulso interior, não há “morrer”. Mas tão logo tomamos a decisão de trilhar o caminho que leva à Plenitude Espiritual, começamos a necessária transformação da mente, iniciamos nossa Jornada Espiritual. Primeiro deve vir a percepção clara e aguda de que não podemos continuar sendo apenas seres humanos que tentam adicionar a Graça de Deus à nossa humanidade. Isso não tem nada a ver com nossa vida exterior. A mudança acontece dentro de nós. A experiência toda é interior; é uma experiência da Consciência, e quando ela acontece, ela afeta toda a nossa experiência exterior.

Ninguém, por si mesmo, tem o poder de receber a Graça de Deus. A Graça vem por desenvolvimento progressivo e evolutivo de nossa Consciência. Para ilustrar isso, voltemos na memória para nossa própria experiência de vida, e conforme recordamos de nossa infância, adolescência, juventude e maturidade, somos capazes de pontuar um momento – possivelmente até uma data específica – a partir do qual nos voltamos para outra direção. Pode ter sido uma enfermidade que nos compeliu a buscar uma nova e mais elevada dimensão da vida; pode ter sido um pecado ou um falso desejo; pode ter sido uma privação, limitação ou infelicidade; ou pode ter sido justamente um desenvolvimento natural que nos levou ao ponto de insatisfação com a vida como vinha sendo levada, perguntando a nós mesmos se não seria possível algo melhor, mais elevado. Foi, então, a partir disso que nossa Consciência começou a mudar, e mesmo que não pudéssemos notar qualquer progresso, nunca deixou de haver um progresso gradual, dia após dia, mês após mês.

Alguém já bem adiantado no Caminho Espiritual, buscando e seguindo seriamente um estudo dessa natureza, já esteve indiscutivelmente no Caminho, antes de nascer nesta experiência. Qualquer que tenha sido seu estado anterior de existência, se ele já não estivesse no Caminho em alguma experiência de vida prévia, ele não estaria pronto agora para o Ensinamento Místico, e nem sequer teria sido levado a ler este livro. Uma vez que uma pessoa entre em contato com um Ensinamento Místico, ela começa a ser atraída mais e mais para a realização final do Nome e Natureza de Deus e de sua Verdadeira Identidade. Através de todos os tempos, tem sido verdade que, quando um indivíduo percebeu o Nome e a Natureza de Deus, esse indivíduo foi libertado; mais ainda, na medida em que pôde transmitir essa percepção ou revelação, aqueles que puderam aceitá-la e recebê-la também foram libertos.

Em cada era, sempre que havia um grande mestre religioso (Nem vos chameis mestres, porque um só é o vosso Mestre” – Mateus 23:10 – aqui e em vários outros pontos do livro, a palavra “mestre” com “m” minúsculo tem o sentido de professor, instrutor, e a palavra usada muitas vezes é “teacher”. Em muitos outros pontos o autor usa o termo “Mestre” ou “Divino Mestre”, com “M” maiúsculo, referindo-se ao Cristo Jesus, como ele mesmo diz – nota do tradutor G. S.), havia aqueles capazes de receber a Palavra de Sabedoria transmitida, de responder a ela e demonstrar sua Filiação Divina; mas nessa mesma era e mesma nação, também havia aqueles que rejeitaram a Palavra e que não quiseram aceitar os Princípios. Vivendo lado a lado, estavam os salvos e os não salvos, aqueles que eram capazes de se elevar acima das discórdias da carne e aqueles que não podiam receber a Palavra Espiritual em seu peito.

Ninguém que acredite ser um homem ou uma mulher jamais chegou a suspeitar da Verdade Espiritual. Ninguém que acredite que há um poder, em algum lugar, que possa operar o bem por ele, e um poder que possa operar pelo mal, sequer chegou a tocar a barra do Manto, pois tais poderes não existem. Não há poder do bem; não há poder do mal.

Ninguém pode estar preparado para receber este ensinamento em apenas uma vida, e nem é capaz de assimilar esta Sabedoria em uma única vida. São necessárias muitas vidas dedicadas ao desenvolvimento espiritual para preparar o indivíduo para a revelação final de sua Verdadeira Identidade. Somente aqueles que têm sido preparados têm a capacidade de receber a Verdade.

Temos olhos e não vemos? Temos ouvidos e não ouvimos? Não podemos ver a Identidade Espiritual com olhos físicos, ou ouvir a pequena e silenciosa Voz e suas transmissões com ouvidos físicos. Cada indivíduo tem uma faculdade da Alma que não tem qualquer relação com os sentidos físicos, visão, audição, paladar, tato e olfato, e nem sequer com o sentido da intuição, que é o sétimo sentido. É essa faculdade espiritual que se torna nosso poder de discernimento, poder de discernir entre a natureza dos dois mundos em que vivemos.

Com tal discernimento, este mundo exterior torna-se apenas um símbolo, uma concha, quase um “deixa que assim seja por agora”. O mundo real é o mundo da Consciência e de Suas formas, não das formas criadas pela natureza, não as formas criadas pela maginação do homem ou as formas que vemos com os olhos, mas sim as formas que a Consciência assume, as formas que contemplamos no Reino de Deus dentro de nós.

As lições que aprendemos no mundo interior tornam-se a base de nossa conduta no mundo exterior. A Graça Espiritual que recebemos dentro torna-se nossa vida fora. Sem o impulso dessa Graça Espiritual, a vida, como é vivida no plano exterior, é uma vida animal. Ela têm períodos bons e períodos ruins, de saúde e de doença. Ela nunca conhece a Paz que ultrapassa o entendimento; ela nunca conhece a Vida que Deus deu a nós, a Vida que é Deus. Essa Vida é discernida somente pela Graça Interior. Através desse poder de discernimento, vislumbramos o Espírito de Deus, e então o contemplamos nos outros também; nós testemunhamos esse Espírito vivendo no que chamamos de forma humana, e assim como o Espírito de Deus viveu como a forma humana de Jesus, assim ele vive como eu e você individuais, quando somos animados por Ele.

Ah sim, existem dois mundos – o mundo exterior dos sentidos e o mundo interior do Espírito, e uma vez que fomos tocados por esse mundo interior do Espírito, o “homem natural” torna-se cada vez menos, para que o Filho de Deus por nós.

 

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