“O ESPÍRITO DO SENHOR DEUS ME UNGIU”- UM Parênteses na Eternidade” Livro de Joel Goldsmith

Uma vez que o Reino Místico foi tocado, vivemos em um mundo onde acontecem coisas que nunca acontecem no reino humano. Foi assim nesse Reino que Jesus estava vivendo no momento da Transfiguração, e foi através de sua Unidade Consciente com o Pai que ele foi capaz de mostrar Moisés e Elias aos discípulos, provando assim, para eles, que esses profetas nunca haviam morrido. Traduzido por Giancarlo Salvagni –  Observações em vermelho  e frases ou palavras grifadas por Jeff Trovão

No Reino Místico, não há passado, presente ou futuro: existe somente o Agora. A forma como concebemos nosso corpo não é uma realidade externalizada , nem está fora do nosso Ser: é um conceito ou imagem mental, no pensamento. A forma espiritual como nós existimos hoje é a mesma forma como nós existimos ontem, e é a forma como nós existiremos para sempre. O Eu de nós e de todas as Substâncias de Deus são Um e o Mesmo, e até o corpo é feito dessa mesma Substância pura. O “Eu” é incorpóreo e espiritual; o “Eu” tem forma, mas não é uma forma densa: não tem espessura e não tem peso.

É realmente uma forma “leve”. Começar a perceber isso é entender que nossa existência atual é da mesma natureza espiritual que a nossa pré-existência foi, e como as nossas existências futuras serão.

Ao desenvolvermo-nos espiritualmente, não estamos mais tão conscientes da nossa forma física como éramos antes. Em vez de perceber a aparência física de uma pessoa que encontramos, rapidamente olhamos nos olhos dela, porque, por trás deles, está o Eu. Até agora, nós aprendemos que uma pessoa nunca pode ser encontrada em qualquer parte de seu corpo: em seus pés, pernas, torso, ou mesmo em seu cérebro. É no encontro dos olhos que nós encontramos a pessoa.

Quanto mais avançamos no Desenvolvimento Espiritual, mais Consciência nós temos, e menos importância damos aos esquemas da forma física. Começamos a perceber outras formas de beleza, inteligência, até amor e vida brilhando nos olhos de uma pessoa, ou em torno de seus lábios. Nós ouvimos algo em sua voz e sentimos vislumbres de algo mais profundo nela. Conforme nosso estado de Consciência evolui para um nível mais alto, nós até nos elevamos acima disso e tornamo-nos conscientes de uma aura ou uma atmosfera, e independentemente do que a aparência física ou a fala de uma pessoa pode mostrar, somos atraídos pela atmosfera que flui dela, ou então repelidos por ela, ou ainda indiferentes a ela.

Todo mundo carrega sua atmosfera consigo, e não há como escondê-la ou cubri-la. Para uma pessoa de Discernimento Espiritual, não é muito difícil de perceber se aqueles com quem ele entra em contato são simplesmente bons seres humanos ou se eles se desenvolveram espiritualmente em qualquer grau. Algo nos diz quando esse Desenvolvimento Espiritual está presente em uma pessoa. A pessoa em si não pode dizer porque, se ela o faz, isso é a própria negação disso. Mas nós podemos sentir isso e somos atraído por ela. De fato, tal altura de elevação espiritual, que pode ser atingida por uma pessoa com uma Consciência Espiritual desenvolvida, pode ver todo o corpo de uma pessoa espiritualmente iluminada desaparecer e, em seu lugar, não haverá nada além de Luz. Pode ser uma Luz ao redor do corpo com o corpo invisível, ou todo o corpo pode ser um Corpo de Luz. Isso é uma coisa momentânea; isto não dura muito tempo, mas acontece.

Ninguém pode dizer: “eu sou espiritual e meu corpo é leve”, espera-se que os outros possam ver essa Luz. Mas mesmo quando uma pessoa alcançou o nível de ser um Corpo de Luz, ninguém mais pode ver esse corpo como luz, a menos que esse alguém mesmo tenha atingido o grau de Iluminação Espiritual que torna possível testemunhar o que se apresenta.


Na época da Transfiguração, Jesus estava no estágio de seu desenvolvimento em que ele não era mais um homem: ele se tornara o Caminho, a Verdade e a Vida – incorpóreo e totalmente espiritual – mas como aqueles em seu ambiente imediato estavam preocupados, ele ainda andava com o que a mente humana universal interpreta como forma humana. Seus amigos, parentes e seguidores não tinham se elevado na Consciência. Eles ainda permaneciam no plano humano, então eles, portanto, foram capazes de reconhecer apenas a materialidade.


Durante a experiência da Transfiguração, Jesus teve com ele o mais altamente desenvolvido de seus discípulos, e como por esse tempo eles talvez já fossem muito avançados espiritualmente para serem ensinados sobre muito mais da Mensagem da Verdade, então eles estavam com ele no Monte, mais para inspiração, meditação e iluminação (na verdade, os Evangelhos ‘Mateus 17:2’ e ‘Lucas 9:28’ narram que os discípulos ficaram bastante confusos nessa ocasião – nota do tradutor G. S.).


Através de sua meditação e através dele ir mais e mais fundo dentro de si mesmo, foi capaz de elevar seus discípulos o tanto extra necessário para que seu senso humano estivesse “morto”, e quando ele se tornou mais profundamente imerso no Espírito, a plenitude de seu Corpo Espiritual, seu Corpo de Luz, ficou evidente para eles. Eles tinham “morrido” para seu sentido finito e foram elevados a um Estado de Consciência em que eles podiam vê-lo como ele realmente era.

Todo praticante que trabalhou espiritualmente, ou mesmo aquele que usou recursos mentais, foi elevado acima do recurso mental para um nível onde parou e a quietude começou. Tal praticante testemunhou algo muito parecido com a Transfiguração, embora ele possa não estar ciente disso. Em resposta a um pedido de ajuda de alguma pessoa, ele pode ter esquecido a pessoa e a condição, e em seu conhecimento da Verdade sobre Deus, de repente ele chegou ao fim do argumento mental e por apenas um flash, uma fração de segundo, algo aconteceu: era como se ele tivesse visto o Homem Espiritual, e então ele sabia que tudo estava bem.

Ele pode não ter percebido o que aconteceu, mas, ofuscado pelo flash, ele perdeu todo senso de corporeidade e viu o homem como ele é. Ele não o viu com os olhos: ele o percebeu com sua Visão Interior. Ele viu com Discernimento Espiritual Interior, e com esse Discernimento Espiritual Interior, houve o instante de vislumbre do homem real.

Então continuamos com nosso Desenvolvimento e Desdobramento Espiritual. Nós temos um vislumbre do Homem Espiritual, às vezes até da forma espiritual e, eventualmente, chegamos ao ponto em que é quase uma experiência diária ver alguém, geralmente um paciente ou um estudante, em sua Identidade Espiritual.


A Transfiguração não é uma experiência de dois mil anos atrás. É uma experiência contínua, que sempre foi e sempre será. É uma experiência em que os indivíduos se elevam acima do estado físico ou mental e se tornam menos despertos para a forma corpórea, mais conscientes do que está brilhando através dessa forma.


Assim nós temos a Transfiguração, e nós a temos aqui e agora, disponível a todos os que têm olhos para ver.

O Espírito do Senhor está sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me a curar os quebrantados de coração, a pregar liberdade aos cativos, e restaurar a vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos…
Lucas 4:18-19

Essa é a Experiência Mística. Mas antes que isso aconteça, somos seres humanos, separados e à parte de Deus, mortais que não têm contato com Deus, que não são abençoados ou alcançados por Deus, e nem mesmo conhecidos por Deus. Quando primeiro sentimos essa Presença Divina, no entanto, nós somos ordenados; nós não somos mais seres humanos, não mais seres mortais: somos agora Filhos de Deus. Nós ainda somos o filho do homem na medida em que aqueles que vêem nosso corpo estão ainda envolvidos com isso; nós comemos e bebemos, usamos transporte e continuamos nossas atividades diárias normais, só que nós somos os Filhos de Deus, para quem essas coisas são a menor parte da nossa vida. Agora, a maior parte da nossa vida é a
Presença e o Poder de Deus, a mesma Presença e Poder que disse a Jesus ter sido ungido e enviado para curar os doentes.

Quando uma pessoa chega ao nível no qual uma transição tomou lugar em sua Consciência, ele não olha mais para esta vida e vê homens e mulheres, bons e maus, doentes e sãos, mas é capaz de ver a Realidade Espiritual através da imagem humana, essa que foi ordenada espiritualmente.

Não há necessidade de dizer isso a ninguém, de anunciar ou se expressar, porque, quando o Espírito do Senhor Deus está sobre uma pessoa e ela recebeu a Luz, há algo dentro de sua Consciência que comunica-se silenciosamente aos outros. Eles se sentem confortáveis em sua presença, e eles pedem a ele para orar por eles.

Não faz diferença onde ele mora, seja em uma pequena aldeia ou uma cidade grande. Como a palavra se espalha, ele será chamado para o conforto, cura e, eventualmente, para o ensino. Seu trabalho vai crescer, porque, no momento em que alguém tem uma cura, ele é rápido em dizer a seus amigos e parentes e escrever para aqueles em outras cidades e estados. O professor pode nunca receber honra em sua própria cidade; ele pode permanecer escondido em sua casa e nem mesmo seu vizinho da porta ao lado percebe o trabalho que está realizando, mas ele será conhecido em toda parte. Nada se espalha tão rapidamente quanto as notícias sobre um curador que pode curar.

O Mestre foi sábio quando disse: “vá e não diga a ninguém”. Nenhuma pessoa deveria anunciar de alguma forma a Luz Espiritual que veio a ela ou dar testemunhos sobre isso, mas deveria dar um banho de água fria neste “nome” espiritual, sempre que a oportunidade se apresentar. Uma indicação do grau de Luz Espiritual que veio para qualquer um é a sua vontade de ser anônimo, de ficar longe das atividades do mundo e de ser atraído apenas onde ele pode servir.


Se amamos sinceramente a Verdade, nos entregaremos incansavelmente à sua busca. O que for necessário fazer, faremos: se for comprar livros ou ensinamentos, empregar tempo, esforço, se for devoção, se for meditação, o que necessário for, nós faremos. Cada parte da nossa vida deve ser dedicada a Deus; nossos primeiros frutos devem ser dados a Deus, pois Deus não é para ser alcançado no pouco de tempo livre ou numa pequena mudança. Isso pede todo o coração, toda a alma, todo o amor do nosso Ser e, acima de tudo, isso pede segredo. Não deixemos a nossa mão direita saber o que a nossa mão esquerda faz. O que fazemos, não digamos aos nossos vizinhos ou aos nossos amigos e parentes que estamos buscando Deus, porque, quando o encontrarmos, eles saberão sem que digamos a eles.

Toda pessoa que entra em Trabalho Espiritual deve ter certeza de que foi chamado e enviado pelo Espírito, e que ele não tem se envolvido nesta atividade simplesmente por causa de um desejo humano. Desejar uma atividade espiritual é um desejo errado: querer encontrar Deus face a face, experimentá-lo, desejar Luz e Iluminação Espirituais – esse é o único desejo que vale a pena. A ordenação humana não faz de um homem espiritual, nem faz dele um curador ou um consolador. Somente a Ordenação Espiritual do Pai Interior pode fazer isso. O que acontece com uma pessoa que recebe a Luz diz respeito a Deus, não ao homem.

O professor espiritual deve esperar até que ele saiba, dentro de si, que o Espírito do Senhor Deus está sobre ele e que ele foi enviado para curar os enfermos, para elevar, para redimir, para perdoar; e ele também deve ter certeza de que ele está pronto para pagar o preço.

Poucas pessoas percebem o preço que deve ser pago por se envolverem no Trabalho Espiritual. Muitos ainda têm a ideia de que é um trabalho de tempo parcial ou que uma pessoa neste ministério trabalha por uma ou duas horas por semana, dando palestras e aulas, e depois contrata uma grande firma de especialistas em imposto de renda para fazer o seu imposto. Isso é um absurdo. Trabalho Espiritual exige uma semana de sete dias, e geralmente de doze a dezoito horas dia. Em regra, significa a perda da família e sempre significa a perda de amigos, porque, no Trabalho Espiritual, ninguém tem o lazer necessário para desfrutar de amizades ou para as demoradas horas sociais.

Se uma pessoa não está preparada para deixar este mundo e todos os seus amigos, até mesmo sua família se necessário, ele obviamente não foi ordenado e não tem o direito de embarcar nesta atividade, porque, no Trabalho Espiritual, a vida de alguém não é mais sua. O professor verdadeiramente espiritual pertence a seus alunos e pacientes. Se ele não está disposto a ter um telefone à sua cabeceira e ser acordado a qualquer hora da noite, ele não pertence a esse trabalho, porque ele deve dar retorno a chamadas de telefones, correio e telegramas, sete dias por semana. Não há tempo para fins de semana ou férias, e é extremamente raro até mesmo um feriado para a pessoa neste trabalho.


Às vezes o preço é pago na moeda da solidão. Não importa quantos alunos o professor de Sabedoria
Espiritual possa ter ou quantos amigos em sua Vida Espiritual, ele terá que se contentar em viver sozinho no Centro do seu Ser. Ele pode estar fisicamente presente com muitas pessoas, mas, de outra maneira, ele não estará presente. O preço é alto! Todos os que tiveram sucesso neste trabalho sabem como é alto; e o preço que se tem que pagar em perda de família e amigos, na solidão, não leva em consideração o ódio que é trazido sobre a pessoa que representa a Verdade, às vezes a perseguição e sempre o mal-entendido. Ninguém consegue ver o motivo do outro porque ele não está vendo o mesmo estado de Iluminação, e o que outra pessoa está pensando e fazendo muitas vezes parece errado para uma pessoa que está em um nível diferente de consciência.

Então as perguntas que devem ser respondidas por nós no fundo de nossa Consciência são: nós amamos o Senhor Deus com todo o nosso coração e com toda a nossa alma, e por nenhuma outra razão do que querer conhecer Deus? Queremos fazer da nossa vida essa dedicação e devoção a Deus, e deixar a cura e ensino para o Cristo dentro de nós? É isto que nós devemos responder em nossos corações. Apenas um amor a Deus, um amor por estar em companhia de Deus – longe das pessoas, e não com as pessoas – deve permanecer.


Acima de tudo, se tivermos algum desejo pela Vida Espiritual, devemos perceber que não podemos ter ao mesmo tempo um desejo para alguma atividade externa. Nosso único desejo deve ser para o próprio Deus: amá-lo, conhecê-lo, comungar com Ele – e não por qualquer outra razão. Se tivermos uma razão, vamos erguer uma barreira. Nunca se deve ir a Deus por nenhuma razão. Ir a Deus para comungar com Ele, isto é suficiente. Então, se nos for confiado um Trabalho Espiritual, isso é apenas uma das coisas acrescentadas.


No dia em que o Cristo nos toca, esse é o dia da nossa Experiência Mística. Nós não nos tornamos místicos – nunca podemos nos tornar místicos neste plano. Esta experiência do Cristo pode ser apenas a preparação para o dia em que seremos místicos, mas teremos a Experiência Mística, e ela será seguida por outras, tanto quanto vivermos conscientes da Presença.


Nós descansamos na certeza da Presença, não em nossa sabedoria humana, nossa saúde humana, ou força humana: nós descansamos nela, e é quase como descansar em uma nuvem, tão tangível e tão evidente é isso. É muito mais valioso, muito mais poderoso, muito mais presente e muito mais satisfatório e confiável do que qualquer relacionamento humano que já se teve.


Este é o EU SOU. Este é o Cristo, este é o Filho de Deus. Quando o Filho de Deus é concebido ou nascido em nós, a partir de então, se nutrirmos isso, se continuarmos a alcançá-lo, contando com ele, continuarmos a voltar-nos para dentro e reconhecendo sua Presença e Poder, Ele desenvolve-se e cresce. Nós temos que levá-lo para o “Egito” e escondê-lo, porque se nós dissermos aos nossos amigos e vizinhos sobre isso, eles podem nos ridicularizar a tal ponto que podemos desejar que tal modo de vida nunca se tornasse uma parte da nossa experiência; mas como mantemos isso secreto e sagrado, um dia isso torna-se evidente pelos seus frutos.

Isso nunca se torna evidente como algo tangível. Ninguém nunca vai chegar a nós e dizer: “oh, você tem o Cristo!” Mas muitas vezes, as pessoas chegam até nós e perguntam: “o que você tem feito ultimamente?” ou “o que você está lendo ou pensando? Você parece ter mudado, e as coisas parecem estar melhorando para você”. Não há reconhecimento do Cristo como tal. O que aconteceu é que o Espírito do Senhor Deus está sobre nós, e agora somos enviados para proclamar a Verdade, curar os doentes e confortar os necessitados de consolo.

Depois desse primeiro vislumbre, vem a nós essa primeira consciência de que é uma Presença dentro de nós que realmente faz coisas milagrosas e, a partir de então, nós a observamos no trabalho. “O Senhor cumprirá o seu propósito para comigo… Ele tornará perfeito o que me diz respeito”.


No exato momento em que alcançamos a percepção de que não somos mais sós e que existe uma Presença e um Poder dentro de nós, nós tocamos a Experiência Mística, a experiência de uma Presença Transcendental Infinita, um Algo Transcendental que não pode ser explicado. Vai direto para as raízes e a medula de nossos ossos e nosso corpo, e faz de cada partícula um todo. Cimenta relacionamentos, tira pessoas de nossas vidas, aquelas que não podem fazer parte de uma Vida Espiritual.


Muitos têm experiências místicas, mas elas não são místicas: eles simplesmente tiveram uma experiência acidental, e isso nunca mais foi repetido. Místicos são aqueles indivíduos que alcançaram a União Consciente com Deus e podem alcançar essa União quase à vontade – embora não completamente, porque não é uma questão de força de vontade humana. Aqueles que realmente alcançam a Consciência Mística reconhecem- na pelo que ela é, e depois disso vivem nessa Consciência, pelo menos até certo ponto, a maior parte do tempo e na plenitude da mesma, em períodos freqüentes.


Muitas vezes, alguns alunos sentiram que tiveram uma experiência espiritual, mas descobriram mais tarde que era uma experiência emocional ou oculta, decorrente do reino mental, e não do espiritual. Mas quando temos uma experiência espiritual genuína, a Presença torna-se muito real para nós, e além de um despertar interior, sempre há sinais se seguindo, para que não possamos confundir o caminho. Se alguma questão permanece em nossa mente quanto à validade da experiência, obviamente nós não tivemos a experiência, pois, quando ocorre, não há dúvida.


Deus é positivo. Deus nunca nos deixa em dúvida. Ele pode nos fazer esperar. De fato, na vida espiritual, muitas vezes há longos períodos de espera, esperando entre um passo e o próximo, entre um desenvolvimento e o próximo, ou entre uma experiência e a seguinte. As experiências espirituais não vêm todos os dias da semana, apenas por ligar e desligar algo, ou fechando os olhos para meditação.

Cada experiência espiritual é como uma plataforma, e nosso progresso pelo caminho é como uma série de plataformas. Nós alcançamos uma plataforma em particular e então ficamos parados, aparentemente sem progresso, e tudo o que podemos fazer é esperar. Não há nada a fazer, senão esperar. Assim como um botão de rosa não pode ser apressado para ser uma rosa, mas deve ter seu tempo normal natural para desdobrar-se, então assim deve ser também uma experiência espiritual (sim, nada a fazer, senão esperar, mas sem desistir, se acomodar ou entregar-se à displiscência…O caminho não vem para preguiçosos, o próprio autor insiste nisso, O botão de rosa tem seu próprio tempo, mas deve ser regado – nota do trad. G. S.).

Portanto, temos uma experiência que é profunda e rica, é brilhante. Isso é Luz, e nos dá uma visão além de qualquer coisa que já conhecemos antes. Nós vivemos com isso e trabalhamos e sonhamos com isso e, o tempo todo, o trabalho que nos é dado é realizado. Então parece que tudo nos é tirado, e aí vem um vazio, um vácuo, um sentimento de ausência de Deus, um sentimento de separação, mas isso é apenas para nos preparar para o próximo passo ou patamar, para uma experiência ainda maior de desenvolvimento.

Essas experiências não nos são dadas com facilidade, nem as ganhamos facilmente, nem podemos jamais merecê-las. Eles vêm pela Graça, e cada uma coloca uma demanda em nós que cumprimos na vida ao nível dessa realização, até que, pela Graça, o próximo passo nos seja dado. Nós não podemos duvidar dessas experiências, nem podemos jamais falar delas. Isso pode ser surpreendente, porque muitos livros foram escritos sobre iniciação e vida dos grandes mestres. Mas você acredita que qualquer um desses relatos é autêntico? Você acredita que algum mestre revelou os segredos da sua Vida Espiritual? Em toda o história do mundo, poderia haver um manuscrito ou um livro revelando totalmente a Vida Interior de um místico? Essa experiência pode ser expressa em palavras?


Mesmo que a experiência mística não venha até você em sua plenitude, não é provável que você esteja neste caminho sem a possibilidade de ter alguma medida de experiência espiritual. O próprio fato de você ter sido levado a um Caminho Espiritual indica que há algo guardado para você dessa natureza. Quando isso acontece, independentemente de quão pequena a experiência possa ser, ou quão grande, não a compartilhe com qualquer pessoa, porque fazê-lo é praticamente garantir que ela não vai acontecer de novo, e não dará frutos.


Se você tem um professor espiritual que tenha desempenhado um papel em trazer você para a Luz, você pode compartilhar sua experiência com seu professor, e assim, ser levado a uma maior expansão da Consciência, porque seu professor sabe como manter
sua experiência secreta e sagrada, e aprofundar e enriquecer. Mas com ninguém mais – nem um dos pais, nem mulher, nem marido, nem um filho, nem um amigo – você deveria compartilhar a profundidade de uma experiência espiritual – ninguém além de seu professor, se é que você tem um.

Aqueles que nunca tiveram uma experiência espiritual não falam esta linguagem, e eles, portanto, não têm como entender o que nós estamos falando sobre. Amigos e parentes acham que nos desequilibramos, e eles começam a duvidar de nossa sanidade. Então é parte da sabedoria lembrar que as experiências espirituais não são um assunto a ser ostentado diante do mundo para reforçar o ego ou para fazer-se grande aos olhos dos outros.

Muitas pessoas acreditam que a experiência espiritual aumentará sua saúde, riqueza ou seus poderes, colocando-as em evidência, de alguma forma humana. Mas o Mestre não acumulou riqueza e, em seus próprios dias na Terra, ele nunca foi aceito como um salvador. Ele era uma pessoa muito incompreendida e muito perseguida. Ele nunca alcançou nome ou fama na terra, nem por muitos anos depois (“As raposas têm suas tocas e as aves do céu têm seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde repousar a cabeça” – Lucas 9:58).

Um místico nunca é conhecido como um místico para ninguém, exceto os poucos que tem a capacidade de discernir o espiritualmente real por trás da aparência. Um verdadeiro místico nunca se estabelecerá como um grande professor ou como a cabeça de qualquer coisa, porque essa não é a natureza do místico. Deixado a si mesmo, um místico preferiria viver separado e além do mundo, e continuar seu trabalho em segredo.


O místico não usa túnica; o místico não ostenta um halo: o místico é uma pessoa simples, com uma Luz Interior e com Sabedoria suficiente para manter essa Luz escondida do mundo exterior – não procurar lugar ou posição por meio dela, mas sempre disposto a compartilhá-la com aqueles que a reconheçam e a desejem.

Se tivermos uma experiência espiritual ou tivermos recebido uma mensagem espiritual, o mundo vai bater na nossa porta. Se tivermos a Luz, se somos a Luz, nunca precisaremos anunciá-la: o o mundo nos procurará. É muito melhor esperar até sermos ordenados pelo Espírito, e então aqueles que viram o Filho de Deus ressuscitar em nós virão até nós, e poderemos compartilhar com eles qualquer medida de Luz que tivermos.