O SIGNIFICADO DA INICIAÇÃO- UM Parênteses na Eternidade” Livro de Joel Goldsmith

A Iniciação é um ato da Graça dada a indivíduos de já um certo tempo de desenvolvimento, elevando-os a um Estado-Mestre da Consciência.  Traduzido por Giancarlo Salvagni –  Observações em vermelho  e frases ou palavras grifadas por Jeff Trovão

Há muito menos oportunidades para um aluno atingir a Iniciação no mundo ocidental do que no Oriente, porque no Ocidente somos educados desde a infância com a ideia de igualdade. Somos ensinados que somos todos iguais e, portanto, não temos a correta compreensão do papel de um professor espiritual, ou o que Consciência Espiritual é. Não percebemos que, embora possamos ter igualdade política e econômica, estamos longe de ser iguais em desenvolvimento espiritual.

Nós do mundo ocidental não nos prestamos a nos tornar estudantes de um Ensinamento Espiritual. Oh sim, estamos muito ansiosos no primeiro ano para saltar do status de um novato e chegar a não menos que um mestre, e depois indo mais além. Alcançar a Vida Espiritual, no entanto, não é coisa que venha tão depressa: é uma vida de dedicação àquilo que é maior do que nós somos.

Pessoalmente, não acredito que um aluno possa preparar-se conscientemente para a Iniciação, nem eu nunca vi alguém que tivesse como meta alcançá-la. Pelo contrário, o objetivo deve ser sempre a obtenção daquela Mente que estava em Cristo Jesus, sem qualquer pensamento de receber Iniciação ou experimentar os efeitos da Iniciação.

Conforme o aluno dá seus primeiros passos no Caminho que conduz à Iluminação, ele se dedica a meditar no Espírito que habita em nós. A Iniciação o conduz de um passo a outro na Consciência da Presença e assim por diante, purificando-o na medida em que ele não queira mais Deus para destruir seus inimigos, e esteja sempre disposto a perdoar e amar, porque sabe que é somente através de sua ignorância que o mal está sendo expresso. Ele é purificado a tal ponto dele não querer mais obter seus fins por qualquer senso pessoal de poder ou força. De certa forma, a sua vida torna-se tão purificada que é vivida em dedicação para outros.

O mundo perde suas atrações para ele, não porque ele planejou ou quis isso, nem porque ele estudou para superá-lo. Em vez disso, teve uma experiência que ocorreu dentro dele. O Espírito de Deus começou a tornar-se vivo; seu Centro da Alma foi sendo aberto e, em vez de ceder aos prazeres do mundo, ele agora se encontra mais em casa, com pessoas que são espirituais e com livros de inspiração e natureza espiritual. Ele ainda não alcançou o Absoluto, mas por ser elevado acima da consciência humana, ele agora participa da natureza da Consciência Divina e vive em grande medida nela, sendo alimentado e vestido por ela. A atividade deste Espírito faz dele um ser humano melhor e está fazendo de sua vida humana uma vida melhor.

Então agora vem o período que é descrito na literatura mística, tanto do Oriente como do Ocidente, como “morrer diariamente”. Essa é a experiência de rejeitar a mortalidade e adotar a Imortalidade. É uma experiência na “morte”, uma experiência que chega a muito poucos, mas quando chega, leva-os adiante pelo Caminho, até a Iluminação.

No Caminho Espiritual, temos que “perder” a nossa vida antes que possamos ganhar a Vida Espiritual, isto é, temos que perder nosso senso físico de vida, esse senso que acredita que estamos vivos porque o coração está batendo, ou porque os pulmões e os sistemas de digestão e excreção estão funcionando.

Nós temos que chegar a um ponto no qual a vida vive o corpo, e não o corpo vive a vida. Nessa hora, não somos nós que estamos vivendo nossa vida. O corpo nos diz: “eu tenho um resfriado”; “meu coração não está funcionando corretamente – ou meu fígado, ou meus pulmões”. Ele constantemente nos fala sobre todas as coisas que ameaçam nosso senso humano de vida.

Quão estúpidos podemos ser? A Vida é Eterna. A Vida de Deus é Eterna. A Vida de Deus é Infinita. Há apenas Uma Vida e, portanto, a Vida Eterna deve ser sua vida e minha. A própria Vida que vivemos é Infinita e Eterna, e não depende da ação do corpo: a ação do corpo depende da Vida. Tal percepção nos leva ao período de transição para onde nos movemos da existência no corpo para uma existência que é externa ao corpo, ainda que governe o corpo.


Antes que esta transição seja concluída, geralmente tantos bens entraram em nossa experiência que achamos que chegamos na terra do leite e mel. Nós nos acostumamos com a boa saúde; e se nós não a conseguimos, ao menos gostaríamos de experimentá- la. Provavelmente, às vezes invejamos as pessoas que têm quarenta, cinquenta ou sessenta anos de idade e nunca tiveram um dia de doença em suas vidas.

Nós gostaríamos que pudesse ser assim, mas não é para ser assim – não no Caminho Espiritual. Para a maioria das pessoas, isso está tão distante quanto mais eles avançam no Caminho, em qualquer ciclo de vida, a menos que tenham feito algum progresso em uma existência anterior, e agora estão prontos para ir além disso. É um choque para eles descobrirem que quando tudo está indo aparentemente tão bem é quando os reais problemas começam. Agora os problemas realmente profundos vêm – problemas de vida e morte.

Às vezes eu me vejo sorrindo um pouco triste, quando leio na minha correspondência o número de pessoas que querem Iniciação. Eu imagino o que aconteceria com elas se acaso se deparassem com a Verdadeira Iniciação e tivessem que passar por algumas dessas provas de fogo que estão incluídas em todos as Iniciações do Iluminado Espiritual. Quantas esposas de Lot se voltariam para olhar para a boa e velha cidade!

Geralmente não é ensinado que, antes de poder haver uma Ascensão, deve ocorrer uma crucificação. É reconfortante e agradável aceitar a crença teológica de que Jesus foi crucificado por nós e que, portanto, podemos experimentar a Ascensão sem a crucificação. Isso é algo em que nós nunca deveríamos acreditar. Não mesmo, pois, para experimentar a Ascensão, temos que seguir todos os passos que Jesus nos mostrou, incluindo as tentações e a crucificação (“Então disse Jesus aos seus discípulos: se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga- me, porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á” – Mateus
16:24,25.

“Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto. Quem ama a sua vida perdê-la-á, e quem neste mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna” – João 12:24,25.
“Então se aproximou dele a mãe dos filhos de Zebedeu, com seus filhos, adorando-o, e fazendo-lhe um pedido. E ele diz-lhe: Que queres? Ela respondeu: Dize que estes meus dois filhos se assentem, um à tua direita e outro à tua esquerda, no teu reino. Jesus, porém, respondendo, disse: Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que eu hei de beber, e ser batizados com o batismo com que eu sou batizado? Dizem-lhe eles: Podemos. E diz-lhes ele: Na verdade bebereis o meu cálice e sereis batizados com o
batismo com que eu sou batizado” – Mateus 20:20-23. – nota do trad. G. S.).

Essas tentações não vêm somente quando somos humildes mortais. As três tentações de Jesus no deserto ocorreram depois que ele estava bem estabelecido em sua Vida Espiritual. Sabendo que ele tinha vislumbrado os segredos da vida e poderia fazer muitas coisas milagrosas, então veio a tentação de usar esse poder. Como isso pôde acontecer a Jesus Cristo, em seu estágio avançado de desenvolvimento? Como ele poderia ter sido tentado a glorificar-se, a enriquecer-se, a usar poderes pessoais? Se estudarmos essa experiência de Jesus, nós iremos entender porque é que apenas quando pensamos que estamos entrando no Reino de Deus, começam nossas provações e tentações.

A tentação do Getsêmani veio a Jesus quando ele era um Mestre totalmente ascenso, e do Gólgota, quando ele já era um Salvador. Mesmo ele não alcançou a infinitude de seu Ser até depois da Crucificação e a Ressurreição, e a Ascensão finalmente ergueu-o completamente acima do sentido material, da forma finita.

Se Jesus tivesse sucumbido a essas tentações, não haveria ensinamento cristão hoje, porque ele teria falhado nos testes requeridos dele por sua Iniciação. Cada iniciado no Caminho para o Absoluto atinge o nível em que ele é tentado a aceitar a fortuna que está esperando por ele, se ele quiser alcançá-la; até o iniciado é tentado a aceitar a fama do mundo. Essas tentações vêm para todos aqueles que estão no Caminho Espiritual, e geralmente, em um momento em que eles alcançaram o nível em que eles são bons seres humanos, eles estão prestes a perder sua humanidade.

Com um pequeno grau de Iluminação, não é muito difícil alcançar fama ou ganhar fortuna. Muitas oportunidades são abertas para aqueles que atingiram alguma medida de Luz Espiritual, e é quando essas tentações se apresentam na forma de tais oportunidades, para que uma escolha seja feita: dedicar todo seu esforço para a aquisição de riqueza e fama, ou renunciar a toda a ambição de ser contado entre os grandes e poderosos. Embora possa não haver nada de errado a respeito de nome ou fama que venham por conta própria, sem buscá-los, aqueles indivíduos que usam o conhecimento ou poder que lhes foi dado para esse propósito perdem o seu Caminho Espiritual. Toda a humanidade deve ser renunciada, e toda pessoa neste caminho deve “morrer” e chegar a este ponto de absoluta realização:

“eu, por mim mesmo, não sou nada”. Há um Espírito dentro de mim que faz o trabalho. Existe uma Presença, existe um Poder. Eu contemplo esta Presença e Poder invisível em ação. Eu vejo como ela vai adiante de mim, e testemunho os milagres que realiza.

Quando este modo de Vida Espiritual começa a mudar nossa natureza e nos encontramos sendo separados da sociedade, nem sempre percebemos que estamos passando por um período de transição, e que uma vez que essa transição foi feita e estamos completamente isolados dos nossos ex-associados, seremos levados à companhia daqueles de nosso próprio lar espiritual. Mas enquanto nós ainda estivermos confraternizando com o mundo, não vamos nos encontrar com os da nossa própria casa. É somente quando nós “morremos” para o mundo que, de repente, entre todo esse universo, uma pessoa atravessa nosso caminho a quem reconhecemos como uma alma aparentada, e depois outra e outra.


Se nossas vidas estão cheias de atividades sociais nas quais nossos amigos e parentes nos envolveram, não somos livres para desfrutar da companhia de um, dois ou mais que eventualmente cruzarem o nosso caminho, nem somos livres para fazer as viagens que às vezes são necessárias para estarmos em sua companhia, porque nem sempre podemos encontrar esses dois ou três em nossa própria comunidade. É verdade que podemos ver esses companheiros apenas uma vez em um ano ou uma vez em três anos, mas isso não fará qualquer diferença, porque isso é um companheirismo que não leva em conta o tempo ou o espaço, e mesmo se houvesse anos de separação física desses nossos companheiros de mesma Filiação Espiritual, na próxima reunião seríamos totalmente unificados.

(Neste processo poderemos ser criticados pelos nossos amigos ou familiares, pois uma vez que estamos todos “interligados”, eles sentem que já estamos adentrando em outro caminho, a nossa  frequência muda, e por vezes ou geralmente muitos, por não compreenderem, podem sentir-se abandonados)

O aluno que está no estágio de testemunhar que seus amigos e parentes o abandonam, na verdade, o mundo inteiro, às vezes torna-se amedrontado e solitário e começa a agarrar-se a algo ou alguém, e muitas vezes ele está agarrando a coisa errada ou o
pessoa errada. E por que? Porque ele não pode encarar a solidão, e se ele não pode suportar a solidão, ele não pode entrar nesta vida.

Quando a Verdade Espiritual começa a se revelar para uma pessoa, como um silêncio que desce sobre ela, uma incapacidade de falar e de ser parte do falatório do mundo, falando e falando mais, isso, claro, faz com que todos sintam que ela é muito estranha. Mesmo aqueles que estão começando no Caminho não podem entender muito bem o desejo de ficar quieto, essa total incapacidade de dizer qualquer coisa e ainda assim transmitir e até receber, e também isso é outra forma da incapacidade de suportar a solidão e a quietude, impedindo o progresso de muitos alunos no caminho.

(Tudo o quer era parece não ser mais e não ter importância, pode ser um tanto confuso começar a entender que coceitos humanos são apenas conceitos humanos)

Muitos não percebem que o “que é meu deve vir a mim”, referido por John Burroughs, depende de atingir um Estado de Consciência que é de absoluta quietude e paz. Quando isso é alcançado, tudo o que uma pessoa tem a fazer é contemplar e observar o mundo inteiro vindo a ele. Muitas pessoas passam pela vida frustradas, porque “o que é seu” não vem para eles: o seu próprio companheiro não vem, sua própria oportunidade de serviço, sua própria oportunidade de mostrar a Graça de Deus. Eles não percebem que “o que é meu” não chegará a um ser humano. Ele não virá, exceto por ficar quieto e saber que “Eu Sou Deus”, e depois deixando a Consciência do Eu do nosso Ser, que é Onipotência, Onipresença e Onisciência, realizar seu trabalho.

Isso só pode ser alcançado na medida em que cada um de nós percebe que é o Eu, o Eu que é Consciência, o Eu que Eu Sou e que é a Consciência que me trouxe e trouxe a todo indivíduo em expressão, inclusive as árvores e tudo o que existe. Isso não significa que nós temos domínio consciente sobre as coisas no mundo externo; isso também não significa que podemos “mentalizar” qualquer pessoa, e assim fazê-la dobrar-se à nossa vontade. A indulgência do pensamento humano a respeito do controle é dominação, e muitas vezes a dominação termina em tirania e destruição – geralmente autodestruição – o que é uma forma de egoísmo que quase beira a insanidade.

Quando percebemos que todo Domínio está em não exercitar um domínio consciente que no final se torne dominação, é porque sabemos a Verdade do Eu Sou do nosso Ser. Saber que “Eu” é Deus e que esse Eu é o mesmo Eu que EU SOU, então EU SOU o Domínio sobre tudo na terra, acima da terra, e debaixo da terra. Aquietar-se e saber que Eu Sou Deus abre caminho para uma Presença Divina sair adiante de nós, preparar mansões para nós, e atrair o que nos é próprio. Quando conhecemos o Eu, sabemos que esse Eu é o Criador, mas não deve haver egoísmo relacionado a isso. Essa também é uma das grandes tentações.

Depois de um certo ponto de seu desenvolvimento, poucos iniciados sucumbem a essas tentações e caem na beira do caminho, mas até esse tempo, mesmo que o professor ache que o aspirante está pronto, o aspirante nem sempre corresponde a essa prontidão, principalmente porque o sentido pessoal ainda está muito ativo.

Enquanto houver qualquer senso pessoal de si mesmo, tentaremos protegê-lo, e sempre que algo parecer ameaçar, nos levantaremos para lutar. Tal reação pode nos fazer cair no esquecimento, porque, no Caminho Espiritual, não nos é permitido levantar a espada. Judas, que estava tão perto do Mestre a ponto de ser seu tesoureiro, reteve suficiente sensação de personalidade pessoal para querer ser “o superior”, o discípulo mais importante, e assim, quando qualquer um dos outros parecia ganhar a atenção do professor, ele se levantava para proteger sua posição.

O mesmo senso pessoal de si mesmo que deixou nele um traço de ambição, inveja, ou ciúme é o suficiente para enganar um aluno em qualquer fase do seu desenvolvimento. Até que ele tenha perdido completamente todo o senso de si mesmo e não haja mais possibilidade de cair, todo iniciado enfrenta a tentação de fama ou dinheiro, e se não é uma ambição louca por dinheiro, pode ser apenas a ambição de dinheiro suficiente para garantir sua segurança. Estes são os tentadores do diabo. A Consciência Iluminada não tem necessidade de segurança ou proteção, e não precisa se preocupar sobre um futuro. Mas até que alguém tenha atingido esse Estado de Consciência, a tentação é certa de estar presente, e há sempre a possibilidade que o iniciado possa ceder a ela.

O tecido de toda tentação que nos ataca consiste em alguma forma do senso pessoal. É apenas com a Iluminação Final, a experiência final do Deus encarnando como homem individual, uma revelação que chega a tão poucas pessoas em todo o mundo, que o senso pessoal é morto. Neste estágio de desenvolvimento, já não resta nada do ego humano. Fama não significa nada, fortuna não significa nada, segurança não significa nada. Deus precisa de segurança? Deus precisa de proteção? Impossível!

Mas os estudantes do caminho não alcançaram essa revelação final de Deus encarnado como o Ser, a revelação que permitiu aos mestres dizerem: “Aquele que me vê, vê aquele que me enviou”. Quão poucos podem fazer essa afirmação “você está olhando para Deus”! E até que eles possam fazer isso, há alguma medida de senso pessoal presente que poderia causar-lhes a queda. Depois disso, quando todo sentido pessoal foi eliminado, quando não há mais “eu”, “mim” ou “meu”, existe apenas Deus, existe apenas a Luz em Si, e esta é Auto-Sustentável, não precisando de ajuda de qualquer fonte humana.


O passo final para todo iniciado é o comando para “morrer”. Ninguém alcança as alturas até chegar a uma rendição completa de si mesmo, uma vontade de desistir do senso humano de si mesmo, desistir completamente se necessário, pular do penhasco para o oceano, nadar para fora, para o mar, para continuar nadando e nunca voltar atrás, para
fazer o que o Mestre comandou: “perder” a sua vida, “morrer” para o seu sentido humano da vida.

A “morte” do “eu” é explicada de diferentes maneiras em diferentes ensinamentos. Nos ensinamentos mais antigos, além da história de Osíris e da Fênix se erguendo de suas próprias cinzas, há relatos da crucificação de seis mestres espirituais antes da época de Jesus, cada um dos quais ressuscitou. Nas escolas de sabedoria, a realização final dependia sempre da “morte” do aluno. Era necessário para todo estudante de uma escola de sabedoria passar por uma “morte”, ser “enterrado” e “ressuscitado” – ressuscitar novamente – antes de receber o grau espiritual de um mestre. Nos antigos ensinamentos egípcios, bem como os da Grécia, havia sempre a “morte” do mestre, seguida por sua ressurreição e renascimento. Muitos ensinamentos das fraternidades incluem, como parte de seu ritual, a “morte” do iniciado, e ele sendo levantado novamente. Essa “morte” do eu é exemplificada na experiência do Mestre na Crucificação, Ressurreição e Ascensão acima de toda a individualidade pessoal.

A crucificação pode ser uma crucificação física real e a ressurreição pode ser uma ressurreição real do túmulo, mas não precisa ser necessariamente assim. Eles podem ser simbólicos, para mostrar a “morte” do “eu” e o aumento do Ser Divino que somos, além daquele pó do cadáver, além do túmulo. Em outras palavras, a crucificação, que é a “morte” ou a travessia do Ser, pode vir em qualquer noite escura da Alma, e é quando o último vestígio de individualidade é engolido e não há mais nada, a não ser a Luz da Divindade – não há vestígio deixado por qualquer “eu”, “mim” ou “meu”, apenas o Eu que é o Eu que nós somos.

Seja durante esta vida particular na Terra ou em outra, deve chegar o dia em que “morreremos” – não no sentido de uma morte como resultado de doença, idade ou acidente, mas uma “morte” para todo sentido humano. Podemos saber com que rapidez estamos “morrendo” pelo grau em que insistimos na preservação do nosso ser humano, o que nos é dito ser a primeira lei da natureza. Se estamos no estágio de consciência onde nós atiraríamos num assaltante que entrou em nossa casa, ainda não “morremos”: ainda estamos na humanidade, ainda vivendo uma vida de autopreservação. Se acreditarmos que, no caso de qualquer conflito, nosso país deve lançar uma bomba antes do outro país, ainda não iniciamos o Caminho Espiritual: ainda estamos sob a lei da autopreservação. As conotações dessa lei são algo aterrorizante de se contemplar. É outra maneira de dizer que nossa vida é mais valiosa do que a dos outros.

No Caminho Espiritual, particularmente quando subimos alto o suficiente, acima e além de todo sentido pessoal do “eu”, somos capazes de entender quando o Mestre comandou a seu discípulo para guardar sua espada: era como se ele tivesse dito: “Eu sei
que eles vão me crucificar, mas qual é a diferença se eu morro ou esse soldado morre? Não é Única a Vida? É certo matá-lo para me proteger? A vida é a Vida, seja a tua vida ou a minha vida. Eu te ensinei que, se entregares tua vida, tu a encontráras. Eu sei qual é o meu destino, por isso não tomes a vida de outra pessoa para protegeres a minha vida, porque então tudo o que Eu te ensinei estará perdido”.

Apenas no grau de nossa auto-entrega, apenas no grau do que nós desistirmos, nós encontraremos o nosso “Eu”, e se pensarmos em preservar ou salvar a nossa vida, tomando a de outro, nós daremos evidência que não avançamos muito longe espiritualmente. Não é necessário mais que apenas um pouco Luz Espiritual para ver que a vida de uma pessoa não pode ser mais importante do que a de outra, pois a vida é a Vida. A verdade é que minha vida é a sua vida e a sua vida é a minha vida; e quando você morre, eu morro; quando eu morrer, você morre.

Nós nunca estamos no Caminho Espiritual até que tenhamos subido acima dos pares de opostos, acima do bem e do mal, acima de “eu” e “meu”, de “tu” e “teu”, até que tenhamos subido ao nível de Consciência onde tudo é Um. Quando tudo é Um e Um só, podemos alimentar as multidões e ainda ter doze cestos cheios, podemos curar e perdoar as multidões, mas não enquanto há um senso de um pequeno “eu” que está buscando por si mesmo.


Aquilo que originalmente nos levou a sermos expulsos da nossa morada espiritual para um sentido material do universo foi a dualidade – a crença em uma personalidade separada de Deus, com sua crença e medo de dois poderes. E não é em outra pessoa que essa crença pode ser superada: ela é superada em nós e por nós.

(É muito difícil afirmar que existe somente UM PODER, mais difícil ainda tentar explicar que nem existe o mau e o bem, porque aprendemos que Deus é Bom e o diabo é mau –  experimentamos na condição humana e também sabemos que espíritos ainda não iluminados, mesmo em condição espiritual ,não encarnados, vivem sob esta dualidade)

(Algumas religiões, com as melhores intenções podem lograr algum êxito em lidar com paliativos dentro desse looping de ilusão)

A superação nunca é a superação de algo que está fora: é sempre a superação de uma crença que foi aceita em nossa Consciência. A superação está dentro de nossa própria Consciência. Quanto mais adiarmos essa superação, mais adiaremos o dia da nossa Iniciação final, quando nos tornaremos o Mestre de nossa experiência.

Ninguém alcança as alturas espirituais, exceto aqueles que estiveram nas profundidades mais baixas. Quando estamos passando pela nossa mais sombria experiência humana, muito poucos de nós realmente acreditam que Deus está conosco. A maioria de nós fica convencida de que Ele nos abandonou. Mas Deus nunca abandonou ninguém – nem mesmo aqueles na profundidade do mais baixo pecado imaginável. Deus é tão Onipresente no pecador quanto no maior santo.


Quando Moisés liderava os hebreus através dos seus quarenta anos de experiência no deserto, duvido que muitos dos hebreus ao redor dele teriam reconhecido que Deus estava presente. Mas Moisés ele mesmo certamente deve ter sabido, durante todos
esses quarenta anos, que o lugar em que ele estava – em qualquer momento – era terra santa. Se Deus não estivesse com Moisés, haveria fim para aqueles quarenta anos no deserto e o próximo passo para a terra do leite e mel?

Elias também deve ter tido um pequeno sentimento, pelo menos por um tempo, que talvez Deus não estivesse presente quando ele estava no deserto e estava sendo tão perseguido. Mas se Deus não estivesse presente, corvos não o teriam alimentado, e nem a pobre viúva o teria feito, e nem teria ele encontrado bolos assados nas pedras, na frente dele. Independente dos problemas pelos quais Elias passava, se não houvesse Onipresença, talvez nunca se ouvisse falar de Elias novamente.


Que inspiração é para nós, quando, no final de suas provações e tribulações, Deus revela a ele: “ainda deixei sete mil em Israel, todos os joelhos que não se dobraram a Baal – salvei sua completude, sua perfeição, sua harmonia e sua missão na vida”. Deus sempre salva para nós, também, a nossa integridade, perfeição, harmonia e missão na vida.


Se Deus não estivesse com Jesus, mesmo na Cruz, poderia haver uma Ressurreição? Separado e à parte de Deus, o homem tem poder do Bem, poder de Ressurreição ou Ascensão? É importante para aqueles de nós no Caminho Espiritual reconhecermos que, onde quer que haja a restauração dos anos perdidos do gafanhoto, como no caso de Elias, Isaías e Joel, onde quer que haja uma experiência como o ministério de Jesus Cristo, culminando na Ressurreição e Ascensão, deve haver Emanuel, Deus conosco, deve haver Onipresença, mesmo que haja esses intervalos em que as aparências não testemunhem externamente a Presença.


Observando Paulo em sua perseguição aos cristãos e em suas muitas tentativas de erradicá-los completamente, seria difícil acreditar que Deus estivesse com ele. Se tivéssemos feito parte da ala cristã, teríamos olhado Saulo de Tarso como um demônio, mas ele não era um demônio tão grande que Deus não estivesse com ele. De fato, Deus estava com Paulo, aguardando reconhecimento e percepção, mesmo nos anos de sua ignorância, nos anos de suas perseguições, que os cristãos teriam chamado de obras do demônio. Deus estava com ele quando ele recebeu a Luz, e assim ele se tornou um fator importante na fundação e ensino da fé cristã.


Pedro e João foram presos, mas Deus esteve com eles na prisão, ou então não haveria nenhuma fuga para eles. Mas houve uma fuga, e havia todo um ministério aguardando por eles por causa da Onipresença, e mais por causa do reconhecimento deles.


Não há ninguém em lugar algum, a qualquer hora, sem Onipresença. Não há ninguém em lugar algum, a qualquer hora, que não tenha a plenitude da Divindade dentro dele,
independente do que atravessa, sejam provações ou tribulações, independente de seus anos de ignorância, pecado, medo ou mal do seu fardo. E nessas provas, nem haveria chance de esgotar a mortalidade, a humanidade, o mal humano, e mais tarde, não haveria tampouco o esgotamento de uma boa humanidade, embora, eventualmente, ambas as etapas devam ser tomadas.

No começo de nossa experiência espiritual, geralmente estamos apenas saindo do sentido mortal ou errôneo da vida para um bom sentido da vida humana – mais saudável e mais abundante. Mas isso não é a Meta Suprema da Vida. A Meta Final da Vida é a Realização Espiritual.


Para alcançar essa Realização Espiritual, a responsabilidade primária do aluno é a prática da meditação. É na meditação que ele perde o ser com um pequeno “s” e ganha o Ser com um “S” maiúsculo. É na meditação que ele se desenvolve, enriquecendo e expandindo seu Eu Interior, mas não enquanto a mente humana estiver ocupada com a ambição ou desejo de realização.


A preparação para a Realização Espiritual, se houver alguma, portanto, é renunciar a qualquer objetivo. Vamos supor que a Iniciação chegou a um estudante neste momento, e então foi dito a ele para nunca aparecer em público novamente, nunca se deixar ser visto, mas para encontrar uma cabana na floresta em algum lugar, e rezar. Como ele se sentiria se fosse um mestre e ninguém mais soubesse disso, e ele não pudesse sequer usar um manto? A todos que alcançaram essa Alta Realização foi dado algo para fazer, e enquanto o faziam, tornou-se impossível para cada um deles ter nome ou fama. O Mestre Jesus Cristo não era conhecido como Salvador ou como Messias durante sua própria vida: ele era um simples rabino andando, subindo e descendo as ruas pelas aldeias da Palestina. Mais tarde, a ele foi dada a honra de ser o Salvador, mas somente depois.


Certamente, então, um requisito primordial na preparação para a Iniciação no Caminho Espiritual é o entendimento de que o aspirante está pronto para ser desconhecido e não ser nada. Se ele for instruído a sentar-se em silêncio o resto de seus dias, ele se sentará em silêncio. Se ele for convidado para sair em algum lugar e orar pelo mundo, ele o fará, e, acima de todas as coisas, ele nunca deixará seus vizinhos, ou amigos, ou ninguém mais saber que ele é uma pessoa de Realização Espiritual. E isso é uma negação da realização.


Um Mestre real não se parece em nada com um mestre: o Verdadeiro Mestre é mais parecido com o servo que vem batendo na porta, perguntando: “você pode me dar um pouco de comida?”, e se tivermos a visão de reconhecê-lo como mestre, haverá uma grande bênção para nós.

Quanto mais mestre ele se torna, mais um servo ele realmente é. Nunca houve um verdadeiro Mestre que se chamasse mestre, nunca houve um Mestre que não percebesse que ele não era um Mestre, mas um servo, servo de todos os que vieram a ele pesados e carregados, de todos que vieram procurando a Luz.
Aquele que alcançou a Consciência de um Mestre torna-se o servo de todos, e uma pessoa com um estado tão elevado de Consciência nunca poderia se rebaixar a ter um desejo à espreita de ser reverenciado e adorado.


Quando uma pessoa é identificada pelo título de mestre ou guru, é apenas um meio de significar a Realização Espiritual do indivíduo. A pessoa que vemos não é o Mestre. O que constitui o Mestre é a sua Consciência Divina. O grande Mestre não nos disse, de fato, “não me chameis de mestre, não me chameis de bom: há apenas um Mestre, há apenas um bom”?


Ninguém tem mérito por alcançar as alturas espirituais, porque ninguém fez nada para merecer ou ganhar isso, mesmo nos níveis inferiores. Eu posso lembrar o tempo da minha entrada para o Caminho Espiritual, quando os primeiros sinais que me deram foi que eu não me importava mais por fumar, beber ou jogar cartas. Eu não podia nem mais atravessar o portão e apostar dois dólares em um cavalo. Tudo isso
desapareceu.


Quão tolo eu teria sido se eu julgasse ter crédito por isso e gabar-me de quão nobre eu era por não ter mais nada a ver com isso. Essas coisas foram simplesmente tiradas de mim: não havia mérito se acumulando para mim. Quando alguém se eleva mais no Caminho Espiritual, ele alcança uma humildade e uma completa liberdade do medo mundano. Quase com a primeira experiência espiritual, o medo da morte desaparece, porque na percepção da Vida Eterna, torna-se de relativa falta de importância se ele vive neste plano ou naquele. Ninguém alcança espiritualidade enquanto o medo da morte permanece na consciência. Mas aí, novamente, como poderia alguém ter mérito por não temer a morte, se isso é algo que ele não realizou, mas algo que foi feito para ele, pela Graça que lhe foi dada?


Para alcançar as alturas espirituais, todo iniciado deve ir para as profundezas e passar por um período conhecido como “noite escura da alma “, que pode durar meses e meses. Este é um tempo de angústia, um período de esterilidade, em que ele é dilacerado e sente como certo que Deus o abandonou, que ele é indigno, que ele cometeu um erro, ou que ele cometeu um pecado, e Deus, portanto, lançou-o nas trevas exteriores. A razão para essa desolação não é que Deus o tenha jogado fora: é apenas que uma maior e mais profunda Luz está chegando, e deve haver um processo de esvaziamento, antes que uma Luz maior possa vir.

Existem muitas “noites escuras da Alma” neste Caminho, até que chegue a definitiva. A última, claro, é a verdadeira noite da alma, e isso quase lhe custa a vida, antes que se possa passar dessa experiência particular e sair para a plena realização da Luz. Essa “noite escura da alma” culmina com a “morte” do “eu” pessoal e a elevação do iniciado no Estado-Mestre de Consciência. Nesta experiência, o iniciado pode testemunhar uma tremenda Luz, uma nuvem fina, ou um pilar de nuvem, descendo como se de acima, e tomando forma na Terra como um indivíduo. Em outras palavras, ele contempla Deus se encarnando como homem, e nesta visão Eu, Deus, é agora Eu, homem: o Pai se tornou o Filho, e agora Eu sou isso, EU SOU. Eu Sou Ele; Eu Sou Aquele que deveria vir.

Com esta revelação, existe para sempre o que depois o mundo chamará de professor, salvador, ou guru, mas que é realmente a Luz de Deus manifestada como homem, e o poder mostrado é o Poder de Deus que pode parecer aos outros ser o poder de um homem. É por isso que tão frequentemente um indivíduo foi estabelecido e glorificado como Deus: não foi visto que ele não era um homem que era Deus, mas que Deus era o homem. Há sim muita diferença! Um homem nunca é Deus, mas Deus se torna o homem.


Embora seja verdade que houve apenas alguns poucos completamente “Deus- encarnado-como-homem” na Terra, muitos apareceram como Deus encarnado na Terra em uma medida, e alguns até em uma medida muito grande. Caso contrário, os trabalhos que realizaram não poderia ter sido executados, porque sempre foram obras que um homem jamais poderia ter feito. Nenhum homem poderia ter deixado como sua contribuição para a literatura espiritual do mundo o Evangelho de João, o Advaita Vedanta, ou qualquer um dos grandes ensinamentos originais que se tornaram a herança espiritual do homem.


O Absoluto não é um ensinamento, mas uma experiência. Quando é dada em palavras em um livro, é uma revelação, mas ainda não é um ensinamento. Ninguém pode ensinar alguém a se tornar o homem encarnado por Deus, mas depois disso ter sido revelado, pode ser levado à Consciência, e a medida da prontidão do aluno será a medida de sua experiência.

Embora existam alguns poucos na história do mundo que vieram à terra tão altamente dotados espiritualmente que receberam a transmissão do Espírito diretamente pela Graça, sem a intervenção ou ajuda de um professor, a grande maioria daqueles que atingiram a realização do Absoluto atingiram-na através de um professor (é bom recordar aqui o que foi dito nos capítulos anteriores: nem sempre o professor é visível, nem sempre se deixa conhecer, atuando como “desconhecido e invisível”, atuando não necessariamente a partir deste plano físico… Então, se a pessoa se julga progredir sozinha, isso é, na verdade, pouquíssimo provável – nota do tradutor G. S.).

O que pode ser chamada de a primeira revelação do Absoluto é credenciada a Krishna. Embora não haja provas de sua realização, nem haja qualquer manuscrito atribuído a alguém pelo nome de Krishna, este nome é repetido muitas vezes na literatura religiosa, e está sempre, de alguma forma, associada à revelação de Deus como Ser Individual, Deus como o Único EU SOU, e Aquele Deus, ou EU SOU, que constitui o Ser Individual.


Não temos conhecimento de quantos atingiram essa Consciência nos dias anteriores aos registros escritos, mas provavelmente um dos primeiros registros autênticos de tal realização são os de Melquisedeque. Com Melquisedeque, não havia ensinamento; ele não ensinou nada a ninguém; e se ele transmitiu sua experiência do Absoluto, não há registro disso. Nossa única informação é que havia uma pessoa Melquisedeque, aquele a quem até mesmo Abraão, pai da nação hebraica, pagou tributo, isto é, reconheceu como maior que ele próprio, Melquisedeque, que nunca nasceu e nunca morreu. Existe alguém além do próprio Deus que nunca nasceu e nunca morreu? Não, só Deus é Eterno! Portanto, foi a Consciência de sua Identidade Espiritual como Deus, como o EU SOU, que foi completamente revelada como Melquisedeque.


Moisés, também, no topo da montanha, no auge da Revelação Espiritual, recebeu a Consciência de que EU SOU é Deus. Ele nunca ensinou o Absoluto, mas, no entanto, ele o alcançou. O ensinamento que ele deu aos seus seguidores era muito relativo. Tentar revelar a eles o que ele tinha atingido era uma impossibilidade, e o máximo que ele poderia fazer era tentar ensiná-los a serem bons seres humanos, e isto por meio dos dez mandamentos.


Isaías e João, também, sem dúvida, atingiram o Absoluto, mas eles nunca ensinaram isto: eles simplesmente revelaram em seus escritos que eles tinham alcançado a Verdade. De um jeito ou de outro, um professor pode mostrar que ele atingiu o Absoluto e pode transmiti-lo em alguma medida, mas ele não pode ensiná-lo, porque não é um ensinamento: é uma experiência.


Com Shankara, a experiência do Absoluto se tornou mais um ensino. Se ele provavelmente não conseguiu o mesmo grau como Moisés e João, e certamente não no grau em que Melquisedeque alcançou, ainda assim ele foi capaz de deixar para trás uma riqueza de escritos que se tornaram a base do Advaita Vedanta, o único ensino absoluto da Índia.


Sempre que um indivíduo alcança a União Consciente com Deus e percebe, em alguma medida, a Essência do seu Ser, ele está no Absoluto, ele é então a Consciência Divina
expressando a Si Mesma. Quando isso acontece, ele decide que terminou essa fase particular da existência, abandona o seu corpo e parte, continuando sua vida em uma forma incorpórea, ou então a ele é dada algum missão específica na Terra, e continua trabalhando para realizar essa missão até que seja cumprida, porque a Consciência que agora ele é o faz permanecer, enquanto houver a necessidade de sua experiência terrena.

Moisés levou seu povo para a Terra Prometida, e provavelmente deve ter sentido que, com isso, terminou seu ministério. Elias, sem dúvida, completou sua missão, porque ele subiu além da manifestação visível, sem ter que passar por doença ou acidente. Jesus deve ter sentido que seu trabalho se completou, porque, na presença de seus discípulos, ele “ergueu os olhos para o céu e disse … Eu terminei a obra que me deste para fazer”. João recebeu a missão de preparar o manuscrito de seu Evangelho, para que a revelação pudesse ser preservada, e Shankara foi habilitado a completar seu trabalho de apresentar a filosofia do Advaita Vedanta para a Índia.


Cada um que atinge alguma medida da Realização do Absoluto tem um trabalho para executar, e parte desse trabalho é transmitir o Absoluto para aqueles poucos que são capazes de recebê-lo. Nem todos são capazes de aceitá-lo, porque é preciso, antes de tudo, uma Consciência evoluída; e em segundo lugar, exige a capacidade de deixar tudo para realizar o trabalho. As Escrituras falam de deixar mãe e pai, e irmã e irmão, “pelo meu Bem”. Não há muitas pessoas que fizeram isso, nem muitos que estão, ou estariam dispostos a fazê-lo. Não há muitos a quem, se for solicitado a deixarem suas “redes” e seguir o Cristo, realmente desistirão de seus empregos e deixarão suas famílias para seguir esse “Eu”. Isso não significa, no entanto, que não existam, e nem significa que isso não esteja acontecendo, porque está.

“Muitos são chamados, mas poucos são escolhidos”. Existem muitos que recebem alguma Luz Espiritual, mas em vez de dizerem imediatamente: “ah, eu devo seguir isso até o fim”, eles geralmente se contentam em descansar no conforto adicional já ganho. Eles aceitam o aumento do bem humano e ficam satisfeitos com isso, em vez de procurar encontrar o Princípio que lhes trouxe isso (um bom exemplo é o do paralítico curado por Jesus… seria de se esperar que ele se convertesse imediatamente, abandonasse tudo e o seguisse… mas não… – nota do tradutor G. S.).

Evolução Espiritual não acontece em uma vida: vem em um período de muitas, muitas vidas. Existem aqueles que recebem alguma medida de Luz Espiritual, mas depois de usá-la para obter melhor saúde, suprimento mais abundante ou companhia mais satisfatória, não vão mais adiante com isso. Isso, no entanto, dá-lhes tal fundação firme que, em seu parêntese seguinte, eles irão mais alto, e assim torna-se possível que no seguinte, ou no outro, eles alcancem uma Iniciação mais alta e recebam a Iluminação do Absoluto.