UM INTERVALO NA ETERNIDADE – “UM Parênteses na Eternidade” Livro de Joel Goldsmith

Traduzido por Giancarlo Salvagni –  Observações em vermelho  e frases ou palavras grifadas por Jeff Trovão

A Vida é freqüentemente representada por um círculo que simboliza a eternidade, sem começo e sem fim.
Se visualizamos a Vida desse modo, e percebemos que nosso presente período de vida está confinado a um segmento desse círculo, e que todos os outros segmentos desse círculo ainda estão por ser englobados, podemos ver que dentro do confinamento desse círculo há o passado, tanto quanto o futuro.

Um místico descreveu a vida como “um parêntese na eternidade”. Esta vida! Observando a vida objetivamente, e usando o círculo como símbolo de toda a Vida, fica óbvio que viemos de um passado entre parênteses no círculo, e quando esses parênteses são removidos – um que marca o nascimento e outro que marca a morte – seguiremos nosso caminho entre outros parênteses, que podemos chamar de futuro.

Isso deveria nos ajudar a entender nossa vida presente na Terra apenas como um intervalo na eternidade. Viemos de algum lugar e estamos indo para algum lugar, e assim por diante… Se isso vai acabar, quem pode saber?

Os antigos diziam que, quando somos aperfeiçoados, isto é, quando vivemos esta vida como Deus vive a Vida, nesse grau de pureza, não entraremos nos parênteses novamente: simplesmente deixamos o círculo, para fora, para além, acima de toda a experiência humana.

Ainda que os não iluminados e não iniciados possam reclamar que tudo isso é apenas especulação, eu posso lhe dizer que há aqueles que completaram seu ciclo de vida na Terra, e que, portanto, não teriam que voltar à experiência neste mundo. Mesmo assim, eles reencarnam, em alguns casos voluntariamente e em outros sob instruções de outros mais graduados, que talvez cuidem das influências espirituais por trás deste plano terreno.

Que há um processo evolucionário da vida nesta cena humana, poucos tentariam negar. Que a consciência humana está se expandindo numa espiral ascendente e progressiva, isso podemos ver, pelo fato de que, anos atrás, quando as nações tinham conflitos de interesses, elas raramente sentavam-se para discutir seus problemas, preferindo partir direto para a guerra. Os muitos horrores das guerras do século vinte, porém, forçaram uma evolução da consciência das nações, e elas agora tentam resolver seus problemas sem guerra, ainda que aqui e ali haja um desejo de retornar aos velhos caminhos (hoje, em 2018, isso é altamente questionável, a indústria da guerra é muito lucrativa… Mas isso é um quadro imediatista de só um momento recortado da eternidade… – nota do trad.

  1. S.). No todo, a tendência se distancia da guerra, talvez por causa da percepção de que a guerra, como ela seria nesta era nuclear, aniquilaria a espécie humana.

Em outras áreas também tem acontecido uma mudança significativa de consciência. Os que puderem retroceder o suficiente na memória lembrarão que as greves da indústria de roupas de Nova York, das minas de carvão na Pensilvânia e na indústria automobilística em Detroit não foram bem uma novidade, em tempos em que quase viravam uma guerra de tiros. Ainda há um pouco disso hoje em dia, mas com mais e mais intermediação e arbitragem, o que representa uma evolução do nível de consciência. Nas disputas legais, também há um grande esforço de estabelecer leis fora da corte, em vez de forçar praticamente todo caso a recorrer aos tribunais. Uma enorme evolução tem acontecido nos últimos 50 anos, e quão maior será dentro de mil anos! O canibalismo agora está praticamente extinto; as guerra tribais, que resultavam em prisioneiros, homens e mulheres feitos de escravos, foram praticamente varridas.

Os progressos e mudanças que foram acontecendo devem levar-nos a especular como e por que a evolução acontece, na medida em que cada geração eventualmente deixa a cena humana, dando lugar a uma nova que se segue. Será que cada nova geração é melhor do que a de vinte, trinta, quarenta, cinqüenta ou duzentos anos atrás? Eram esses homens e mulheres melhores, ou eles seriam, provavelmente, os mesmos que aprenderam lições em experiências prévias, e estão agora desfrutando delas?

Tudo o que aprendemos nesta vida não é transmitido para a próxima geração? Não levará consigo a próxima geração tudo o que lhe deixamos? Não aceitará sem questionar o progresso material e mecânico das gerações precedentes?

(Vale à pena colocar que, mesmo atualmente ocorrem fatos bizarros e lamentáveis, dando-nos a impressão que a evolução humana é mera fachada, contudo, ao meu ver, pode ser a lei do carma, criada pelo próprio homem, se manifestando e aliviando um pouco a pressão para que algo pior não ocorra)

Hoje em dia, não usamos mais candeeiros de óleo, não mais estudamos sob luz de velas, não temos que sair para caçar e pescar para termos o que comer. E por quê? Porque não nascemos no mesmo estágio de desenvolvimento que os nossos ancestrais. Se tivéssemos que começar por onde nossos bisavós começaram, teríamos que passar pelo mesmo processo de vida que eles… Mas não, somos beneficiários de um estágio evolutivo da consciência. Chegamos ao mundo mais civilizados que nossos predecessores, mas isso seria impossível se eles, e nós também, não tivessem nascido a partir de um ponto determinado.

Como alguém pode falhar em reconhecer que há um processo de evolução de consciência em andamento o tempo todo? Isso significa que, mesmo assistindo condições do mal, essas são condições transitórias, temporárias. A próxima geração terá menos delas, a geração seguinte menos, e assim por diante.

Isso não quer dizer que indivíduos de cada geração seguinte escaparão de problemas característicos de seu tempo ou resultantes de catástrofes, como guerras mundiais, desastres econômicos e outras causas que sempre trazem ondas de delinqüência juvenil, alcoolismo, drogas e crimes. Com maturidade e a apresentação de um modo de vida melhor e mais elevado, muitos problemas que embaraçam o mundo hoje em dia desaparecerão.

Não é possível que criminosos tenham trazido um pouco de seu comportamento de um estado mais baixo de consciência de uma vida anterior, assim como, ao contrário, uma criança muito nova que nos dá mostras de grande habilidade musical ou natureza religiosa deve ter vivido isso antes, deve ter estado no Caminho, retornou e trouxe com ela um estado desenvolvido de consciência? É possível acreditar que ela poderia ter aprendido todas essas coisas apenas desde o nascimento até os três ou quatro anos de idade? (Wolfgang Amadeus Mozart é um exemplo famoso, e é provavelmente quem o autor tinha em mente – nota do trad. G. S.). A habilidade matemática ou a mente inventiva são desenvolvimentos incorporados, adquiridos em vidas anteriores?

Provavelmente a natureza decretou sabiamente que não traríamos para esta experiência nenhuma memória de dificuldades específicas ou aspectos sórdidos enfrentados, mas prosseguiríamos somente com a consciência alcançada e desenvolvida, seja como ciência, música, literatura, arte ou sabedoria espiritual, e provavelmente sem nem mesmo trazer memórias de formas particulares tomadas.

Se pudéssemos ver esta vida como um parêntese na eternidade, perceberíamos que cada um chega a esse parêntese para avançar além do que ele foi antes, e então deve haver uma continuação nesta experiência, para evoluir para a próxima.

Não podemos negar que, na consciência da maioria das pessoas, há uma relutância natural em deixar a cena humana, uma relutância em fazer a passagem, a transição, como quiserem chamar. Também há uma resistência em aceitar que amigos e parentes deixem esta experiência. No entanto, não deixa de ser estranho não haver qualquer resistência ao nascimento, que segue seu curso para a maioria dos problemas da humanidade. Então, por que deveria haver resistência à morte, que, em muitos casos, é uma libertação de muitos problemas? É verdade que criamos o hábito de estarmos com algumas pessoas e nos tornamos apegados a elas, e quando elas se vão, fica um vazio que nos causa tristeza e dor.

Mas mesmo do ponto de vista do senso comum, a vida seria muito chata e monótona se não tivéssemos nada a fazer senão dormir à noite, acordar pela manhã, e infindavelmente fazer as mesmas coisas que fizemos por 60, 70 ou 80 anos! Tem que haver uma ruptura nisso. O que aconteceria aos homens que hoje se aposentam aos 65, e algumas vezes são muito ativos até os 75, se ficassem para sempre mantendo o mesmo tipo de vida inútil e monótona? Tem que haver uma fuga desse tipo de vida vegetativa.

O começo, portanto, da superação desse pavor da morte é perceber que nosso tempo de vida humana é uma preparação para outra experiência, e deveríamos abençoar aqueles que terminaram seu ciclo e estão prontos para o próximo. Essa superação verdadeira do pavor da morte nos prepara para uma experiência mais harmoniosa na terra e decididamente prolonga nossa vida, pois muitas das passagens são desnecessárias e causadas por nos agarrarmos ao sentido material da vida, que freqüentemente trabalha ao contrário e abrevia nossa experiência de vida.

Entender, no entanto, que não podemos ser movidos para fora de nosso ciclo, que somos parte de um destino eterno, e que, conforme fomos movidos para dentro deste parêntese, assim também seremos movidos para fora desse parêntese – mas somente de acordo com a expansão da Consciência, e não por sermos empurrados para isso – expandiria nossa consciência e contribuiria para uma experiência humana mais satisfatória.

Quando percebemos que somos parte de um círculo, não mais tememos o que as condições mortais podem nos fazer, porque estamos sob um destino divino, e ninguém, nada, nenhuma condição pode nos tirar deste corpo, enquanto nossa hora não chegar. Nosso tempo não é necessariamente o período humano de anos normalmente aceito: trata-se do tempo necessário para alcançar um desenvolvimento individual da Consciência que for possível para cada um de nós neste plano, um desenvolvimento que não pode se expandir mais além sem se transformar em outra experiência.

Em vez de termos pena daqueles que atingiram idade avançada e não funcionam mais vital e ativamente, percebamos que eles também são parte de um ciclo, não julgando pela crença humana da idade de 60 ou 70 anos ou pela crença da deterioração da matéria, mas que eles são parte deste ciclo de eternidade. Com esta percepção, uma dessas duas coisas acontece: ou se revitalizam e tiram 10, 20 ou 30 anos de cima de seus ombros ou, se chegaram ao cumprimento de seu tempo, serão liberados em sua realização final. Seja o que for, não serão mais vítimas do medo, do pavor, e nem da solidão daqueles que querem mantê-los aqui por que querem sua companhia.

Do ponto de vista de nosso Desenvolvimento Espiritual, é importante para nós aprendermos que, quando viemos de algum lugar desconhecido, trouxemos conosco um determinado Estado de Consciência, e enquanto estamos aqui, estamos expandindo essa Consciência. O período em que vivemos na Terra é como uma escola: se atravessarmos a vida perdendo nosso tempo, sem avaliar as oportunidades que se apresentam para o Desenvolvimento Espiritual, quando deixarmos este plano, teremos que retornar e passar pela mesma experiência novamente, justamente como crianças repetentes que não aprenderam a lição do ano. Se saímos de um ciclo baixo, entramos noutro ciclo baixo, e isso continuará, de novo, de novo e de novo, até que todo joelho se dobre a Deus, à Vida Espiritual. Assim, se tivermos que voltar mil vezes – passando por essa experiência em um parêntese mil vezes ou mais – é porque nós mesmos determinamos isso para nós.

É uma coisa dura de se dizer, mais dura ainda para aqueles que têm medo de encarar a si mesmos, que relutam em admitir que atraíram os problemas para si mesmos. “Tudo o que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção” (Gálatas 6:7-8) – não somente neste mundo, mas nos mundos por vir.

Conforme visualizamos o círculo e nos movemos em torno dele, torna-se visível que tudo o que fazemos num ponto do círculo determina o que e quem somos no próximo ponto do círculo. Tanto podemos permanecer como um ser mortal e material, repetindo o mesmo tipo de experiência, o mesmo carma uma vez, mais outra e mais outra, quanto podemos expandir nossa Consciência e, a cada avanço, nos tornarmos maiores, melhores, mais conscientes espiritualmente, e com maior Domínio.

Como semeamos nesta vida, assim colheremos na próxima. Muitas pessoas pensam que a doutrina do carma e reencarnação vem primariamente do Oriente, e de fato é verdade que é esta sua origem e ela foi aceita e reconhecida por místicos, poetas e filósofos do mundo inteiro, que souberam ver sua correção.

Muitas dessas pessoas, no entanto, desconhecem o ensinamento cristão do arrependimento, e não entendem que o ensinamento do Cristo, diferente do ensinamento oriental do carma, não condena uma pessoa a esse carma até que ele seja exaurido, mas anula o passado no momento de um arrependimento verdadeiro. Com o reconhecimento do Cristo, com o arrependimento e a conversão, o carma é imediatamente apagado (eis a grandeza e o esplendor da doutrina cristã – nota do trad. G. S.).

A abordagem do “Caminho Infinito” sobre o conceito do carma e reencarnação é, portanto, diferente de outros ensinamentos que abraçam essa doutrina. Os orientais acreditam que cada cisco plantado corresponde a um débito cármico que precisa ser pago nesta vida ou nas seguintes e, independente de qualquer mudança em nossa consciência, devemos pagar até o último centavo, enquanto que o “Caminho Infinito” ensina que, qualquer que seja a extensão do pecado que gerou o carma acumulado, no mesmo segundo do arrependimento, numa respiração, nós nos tornamos puros e brancos como a neve. No momento de real arrependimento, num reconhecimento que traz a percepção de que o pecado não é parte de nós e nem tem o direito de sê-lo, nesse mesmo segundo, o carma é anulado e estamos no Círculo Espiritual (de fato, entendo que o espiritismo kardecista segue o modelo tradicional da lei do carma, a dimensão cristã absoluta do Perdão Divino, que transcende a capacidade humana de compreender e perdoar – nota do trad. G. S.).

(Creio que uma conversão VERDADEIRA caminhará em uma direção VERDADEIRA e alguém que cometeu ações que derivam num Karma negativo, fará coisas boas (sem a preocupação ou obrigação  em pagar), atuará com o espírito livre e com muito amor, e estará sob outra lei, contudo a conversão deve ser VERDADEIRA, o que difere em sair gritando aos quatro ventos que aceitou o Cristo e em pouco tempo começa a gerar Karma negativo novamente, fazendo, neste contexto, um círculo vicioso; diz ter aceitado Cristo, fala da boca pra fora, como em uma auto hipnose)

Daí em diante, o plantio não só resulta em colheita enquanto ainda estamos aqui, mas ela resulta em maiores e melhores colheitas conforme prosseguimos. Cada fagulha de Sabedoria Espiritual ou metafísica que alcançamos nesta vida é de grande valor para nós neste plano, assim como no porvir, pois não podemos separar carma de reencarnação, assim como não podemos separar carma do próximo ano.

Nosso próximo ano está sendo construído neste ano. O grau de Consciência Espiritual que podemos alcançar neste ano será evidenciado na nossa vida exterior do próximo ano. Uma Consciência expansiva e evolutiva continuará a operar para sempre – dentro do parêntese e além.

Se há qualquer razão para a vida ou qualquer propósito de viver, então isso tem que ser verdade. Será que milhões de pessoas da Índia, China e Rússia nasceram para não saber nada além do sofrimento e do horror de suas vidas pelos últimos 100 anos? Estarão vivendo apenas o destino do carma que construíram em suas vidas anteriores, ou estão lutando pela liberdade da fome, da exploração e opressão, porque serão, na verdade, os mesmos que voltarão para desfrutar de melhores condições que estão agora ajudando a criar?

São os esforços dos pais para educarem os filhos, mesmo que implique em vida de sacrifícios, em nunca libertarem-se do trabalho árduo e das tarefas domésticas, feitos somente por suas crianças, ou estão eles construindo seu próprio carma? Seus filhos podem até nem se beneficiarem de seus sacrifícios, mas isso não fará diferença, pois ninguém constrói o carma de outra pessoa, nem mesmo seus próprios filhos. Cada um constrói o seu próprio carma, e seja qual for a forma que esta vida presente assuma, mesmo que seja um ciclo completo de sacrifício em cima de sacrifício, esforço em cima de esforço, é para o desenvolvimento de sua própria Consciência, e tudo voltará a si mesmo na forma de educação, liberdade e oportunidade – de acordo com o que proporcionou a outros.

Aqui, novamente, temos uma ampla aplicação da verdade de que o pão lançado às águas é o pão que retorna a nós. Algumas pessoas reclamam que atravessaram toda sua vida sem receberem nenhum retorno do pão lançado. Mas não, elas apenas estão ainda dentro deste mesmo parêntese. Este parêntese atual será eventualmente apagado, e então, no próximo parêntese vindo a existir, haverá uma experiência muito mais elevada, que são os frutos da vida anterior.

É verdadeiramente uma forma de ignorância e egoísmo dizer que vivemos pelos nossos filhos ou pelo nosso país. Nós nunca o fizemos, nunca! Estivemos construindo nosso próprio carma, e será impossível semear para o Espírito e não colher a Vida Eterna, semear a Liberdade e não colher a Liberdade, semear Amor e não colher Amor, semear Amizade e não colher Amizade.

Mesmo que cada amigo sobre a Terra nos traia, isso é apenas dentro deste parêntese. Não há necessidade de sentir-se triste ou desencorajado, portanto, no que se refere aos mais próximos de nós que nunca foram tocados pelo Caminho Espiritual, porque essa condição só existe dentro dos limites do parêntese. Cada um é livre enquanto está aqui, e é igualmente livre para achar seu caminho ao não estar mais aqui. Ele não terá perdido sua vida: ele apenas terá perdido um parêntese. Ele ainda terá seu despertar, a fruição e a plenitude, porque, sem dúvida, cada um de nós viveu a mesma vida estúpida que vive a maioria da humanidade – a vida dos que andam mas estão mortos, vida sem alma – e provavelmente a viveu dezenas de vezes.

Assim como, neste caso particular, nós começamos a despertar, também nós damos testemunho daqueles que vivem esta experiência ou passam por ela ainda sem despertar, e podemos olhar para eles com a percepção de que isso realmente não importa. Este é um parêntese, um período de talvez 60, 70 ou 80 anos, mas todos têm a eternidade para despertar, e o farão.

Se não estamos construindo para a eternidade, então de que vale o sacrifício? Por que não viver hoje, se morreremos amanhã? Por que não aproveitamos e desfrutamos enquanto estamos aqui? Não, não podemos fazer isso, porque colheríamos o carma negativo e egoísta, de um ego que não cresce. Se é isso que plantamos, é isso que colheremos.

Muitas pessoas nunca aprenderam sobre plantar e colher o que se plantou, nem sobre o ensinamento de lançar o pão às águas e seu retorno. Essas ideias, em geral, não são ensinadas, pois não são assuntos populares. Poucas pessoas querem encarar a verdade de que estão tecendo agora sua experiência do próximo ano e, mais ainda, que estão forjando, neste momento, sua vida daqui a dez anos. Basta um só passo na imaginação para ver que carma realmente significa o que estamos construindo não para os próximos 10 ou 20 anos, mas para toda a eternidade.

As únicas pessoas que querem encarar isso são aquelas que podem dar as costas ao passado e determinarem-se a plantar para o Espírito, resolvendo dar um basta a essa disputa humana, à ambição, ciúme e medo, a parar de se preocupar se morrerão com 30 ou 130 anos, e querer viver a cada dia como se estivesse construindo o amanhã, e conscientemente perceber que, quando fazem ou pensam algo errado, isso tem que ser desfeito na hora, sem deixar acumular.

É preciso coragem espiritual para encarar o ensinamento contido na Bíblia, porque, quando o verdadeiro sentido é entendido, ele nos leva a viver no agora, a nos arrependermos e passarmos a semear o tipo certo de sementes. Nossa expressão de vida dentro do parêntese não precisa ser limitada a 60, 70 ou 80 anos, e por outro lado, não deveria fazer nenhuma diferença se terminar aos 20 ou 40 anos, porque não é o número que anos que nos desenvolve, mas sim a intensidade da experiência é que expande a Consciência. Pode haver aqueles que completam este ciclo na terra em 30, 40 ou 50 anos, e pode haver outros que partirão com 70, 80, 90 ou 100 anos; mas cedo ou tarde, o tempo de vida pode se completar com saúde, se ele é cumprido com o entendimento da vida como expansão da Consciência, e não como tempo finito.

É possível e altamente desejável alcançar um nível de reconhecimento de que nosso atual Estado de Consciência engloba o progresso espiritual de toda experiência de vida que tivemos, desde o princípio – não que tenha havido um princípio do círculo ou do que chamamos de coexistência com Deus. Toda vez que meditamos, podemos perceber que nossa Consciência abarca o desfrutar de nosso Desenvolvimento Espiritual desde um milhão de anos. Engloba cada centelha de nosso Desenvolvimento Espiritual e conquistas que viemos alcançando através dos tempos, e que está presente aqui e agora como o grau de maturidade que conquistamos. Se estivéssemos num nível pleno de maturidade, não mais encarnaríamos, exceto para trabalhos voluntários ou sob ordens de uma missão específica.

Em cada parêntese dentro do círculo, atraímos para nós mesmos a atmosfera e o ambiente mais adequados ao nosso desenvolvimento: os pais, em particular, que podem nos dar as lições que precisamos, sejam duras ou gentis, e as companhias necessárias para o nosso desenvolvimento. Se olhar nossa vida para trás, agora, muitos de nós reconhecerão que não chegaríamos onde chegamos, a não ser por certas experiências que passamos, mesmo aquelas que poderíamos ter evitado. Mas tenhamos a coragem de admitir ou não – e de encarar a nós mesmos – a verdade é que atraímos para nós mesmos o nosso próprio estado de consciência, e assim também, quando entramos no Caminho, somos atraídos por uma atmosfera e companhia espirituais, que nada tem a ver com raízes raciais, nacionais, geográficas ou religiosas.

Avancemos mais um passo para perceber que, ao passarmos desta experiência e deixarmos este plano de consciência, seremos atraídos pela atmosfera verdadeiramente necessária para aprender as lições que são importantes para o nosso desenvolvimento, seja intelectual, emocional ou espiritual. Se estamos no Caminho Espiritual, não somos então atraídos para servir, junto com aqueles de nossa Filiação Espiritual? Mas isso não inclui marido ou esposa, pai, mãe ou irmãos, porque eles não são parte de nossa vida. Enquanto estivermos neste plano terreno, não vamos renegar marido, esposa ou parentes. Nós temos obrigações humanas para com eles, as quais devemos cumprir, mas apesar disso, seguimos o Mestre: “quem é minha mãe? Quem são meus irmãos?”, reconhecendo nossas companhias no Caminho Espiritual como mãe e irmãos.

Há pessoas muito preocupadas, com medo de não se juntarem novamente a seus entes queridos. Eles vão estar juntos, se esse for o seu estado de consciência; e se isso representa o céu para eles, então será o céu, embora seja, na realidade, o inferno. Mas para elas será o paraíso estarem atadas. No momento em que somos espiritualmente dotados, no entanto, e alcançamos o sentido correto de quem nossa mãe ou irmão realmente são, então nos encontramos comungando com aqueles de nossa Filiação Espiritual. Realizamo-nos espiritualmente entre as Luzes Espirituais que vieram antes de nós, e somos atraídos para o alto e mais alto, e então não precisamos nos preencher humanamente, mesmo se retornamos à Terra.

Quanto mais elevado for nosso desenvolvimento espiritual aqui, mais elevado será lá, e mais rápido atingiremos as alturas espirituais, porque, então, estaremos livres dos laços do medo, da ambição, luxúria, inveja e ódio. Então, nosso desenvolvimento será cada vez mais progressivo após sermos atraídos para uma atmosfera espiritual, assim como será aqui por atrairmos uns aos outros. Se cada um tentasse trabalhar sua salvação espiritual sozinho, não haveria tanto progresso quanto numa atmosfera de união. Quando deixamos este plano e somos atraídos por aqueles que atingiram a Sabedoria Espiritual, nosso desenvolvimento continua. Então, mesmo se reencarnarmos na Terra, estaremos nos realizando numa esfera mais próxima de nossa condição espiritual. Aqueles que não avançaram tanto espiritualmente realizarão a si mesmos culturalmente, na educação ou nas artes: mas se atingiram um bom nível espiritual, haverá uma função espiritual por ser conduzida, mesmo antes de nascerem, porque há influências operando nos bastidores que animam aqueles que estão no Caminho Espiritual aqui.

Ninguém que esteja em posição de liderança numa atividade espiritual aqui depende apenas de seu próprio estado de consciência. Ele atraiu para si uma atmosfera, apoio e orientação espiritual, porque, no nível espiritual, não há barreiras como o céu e a terra, aqui ou acolá, porque Tudo É Um. Desde que estejamos sintonizados espiritualmente em alguma medida, estamos na Consciência de todos aqueles também sintonizados, estejam lá ou aqui. Em outras palavras, estamos entre a mesma Filiação de Deus.

Essa Filiação de Deus é composta não somente de vivos na Terra, mas também daqueles que fizeram a passagem: a Família de Deus abraça o universo. A Filiação de Deus está presente em nossa Consciência, e nós estamos presentes na Consciência da Filiação de Deus.

Aqueles que amam a Deus são trazidos numa mesma filiação, uma mesma família, companhia, compartilhando uns com os outros. E assim como compartilhamos com aqueles que chegam à Luz, também alguém com Consciência mais elevada compartilha conosco.